07 julho, 2012

Videodrome, a Síndrome do Vídeo (Videodrome, CAN, 1983).

"Primeiro ele controla a sua mente. Depois ele destrói o seu corpo". (Tradução da frase que ilustra o poster do filme).
Oitavo filme da filmografia do diretor canadense David Cronenberg (Um Método Perigoso), Videodrome não é um filme fácil de ser digerido, não tanto por sua complexidade temática, mas sim pela forma com que é conduzido, despejando poucas informações de inserção acerca do universo fictício apresentado, optando assim por apostar na interpretação subjetiva de cada espectador, mesmo que o fio condutor do filme traduza alguns temas recorrentes, como a profanação do corpo e da mente humana, tudo sobre o prisma da violência, muitas vezes gráfica.

Levantando a tese entre o advento da tecnologia - temática mais do que relevante para a época de feitura do filme, o início da década de 1980, já que a humanidade dava os primeiros passos para a hoje sedimentada Era da Informação - e a maquinização do homem moderno, Cronenberg (além de diretor, autor do argumento da obra) constrói em Videodrome uma metáfora bastante pessimista acerca da perda de identidade do homem perante a máquina (tecnologia), em especial os veículos midiáticos, como a tevê, que passa a dominar as mentes de quem a acompanha e fabrica conceitos, costumes e formas de consumo através de uma grade de programação que cada vez mais aposta em programas banais e/ou shows de violência gratuita (muitas vezes regados a sexo, ou com insinuações a ele). Na verdade, entre conceito e visual, a grande metáfora do filme parece surgir justamente da presença parasitária (seja do homem perante a tecnologia - leia-se instrumentos de ordem tecnológica -, seja da ficionalização gráfica da máquina tecnológica se apoderando do ser-humano), que praticamente perpassa por todo o filme.

Obviamente, por se tratar de um filme de David Cronenberg (conhecido por sua fixação por explorar elementos de violência de maneira explícita e da comumente falta de sutileza na composição de cenas com tais elementos), muitos dos conceitos suscitados são apresentados de maneira extremamente estilizadas, quase que como um desabafo acerca do incômodo sentido pelo cineasta acerca das tendências midiáticas e tecnológicas da época em questão, que ecoam quase a todo momento no filme, numa espécie de "quanto mais exagero ao mostrar isso, mais quero afirmar que discordo". Com uma pegada altamente subjetiva, apesar de nunca soar pedante ou hiper-intelectual (ou mesmo "intelectualóide), Videodrome apresenta uma ideia fresca e interessante para a época (com mais do que óbvias referências ao filósofo Marshall McLuhan (dentre outras, autor das teses da Aldeia Global e dos Meios de Comunicação como Extensões do Homem, este bastante presente no filme comentado), mas que continua bastante atual até hoje, dando uma aura atemporal ao filme, além de ratificar o gosto do autor por inferir, de uma forma ou de outra, o sexo em seus trabalhos.

Tecnicamente bem acabado, contando com as até hoje impressionantes maquiagens e efeitos protéticos do mestre Rick Baker (Homens de Preto), com a trilha sonora que pontua bem o clima do longa, a cargo de Howard Shore (A Invenção de Hugo Cabret) e com um bom elenco, onde o grande destaque está no protagonista (quiçá o único nome conhecido do elenco) James Woods (Era uma Vez na América), que confere um elemento misto de simpatia e antipatia ao seu personagem, dando profundidade a este, contribuindo assim para a sensação de não-compreensão promovidas pelo desenrolar do filme, quando o espectador é forçado a imaginar se os eventos vistos em tela foram reais ou não, isto é, se na verdade não passaram de ilusões vividas pelo personagem de Woods. Apesar de não ser um dos meus filmes prediletos de Cronenberg e não ter uma estrutura que desperte grande interesse - apesar do contexto e objetivo da obra ter o poder de gerar discussões -, Videodrome é uma obra de teor distinto, de cunho autoral e que consegue gerar interesse, mas em especial sedimenta logo de cara o estilo Cronenberguiano de filmar, tendo o poder de impactar o espectador (no bom sentido) logo a partir dos seus primeiros quadros. 

AVALIAÇÃO: 
TRAILER:

Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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