12 outubro, 2012

O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum, EUA, 2007).


Encerramento da trilogia Bourne, O Ultimato Bourne é, em resumo, um apanhado do que houve de melhor nos dois primeiros filmes da franquia, trazendo toda a perspectiva de busca por identidade e, consequentemente, retomando o caráter existencialista à franquia que formavam parte do corpo do primeiro longa e a pegada documental e visceral do segundo, aliada ao seu embasamento político. Sendo assim, este terceiro filme mostra-se assim como o mais azeitado da franquia, seja por que realmente dá um fim aos anseios - pelo menos os imediatos - de Jason Bourne, como também "lavam" sua alma, visto que não há quase nenhum segredo relevante de seu passado como agente do projeto Treadstone que não tenha sido revelado. Afora ter empregado um amarramento competente para com os demais capítulos da série, a obra também conseguiu "inovar" no quesito ação, aspecto este tão cara a este universo, promovendo quiçá as melhores sequências de luta corporal e perseguição à carro de toda a franquia.

Tendo seu início configurado apenas poucos minutos após o primeiro desfecho de A Supremacia Bourne, O Ultimato vai preenchendo algumas lacunas daquele, ao mesmo tempo em que começa a apresentar alguns elementos - como a frequência maior de fragmentos de memória que são visualizados por Jason Bourne - que serão de profunda significância para o desmembramento e, consequentemente, conclusão da série. Sendo assim, o co-roteirista Tony Gilroy (Conduta de Risco), juntamente aos novatos na franquia Scott Z. Burns (Contágio) e George Nolfi (O Agentes do Destino), conseguiram aparar as arestas formadas pelos conflitos dos filmes anteriores e promover um encerramento não apenas competente, mas também um tanto quanto curioso, por que abre possibilidades - ainda não concretizadas da maneira esperada, por sinal - para uma possível continuação da perene saga de Jason Bourne.

Praticamente liderando a mesma equipe técnica do filme anterior, o diretor Paul Greengrass (Domingo Sangrento) apresenta aqui a mesma abordagem de Supremacia, primeiramente para que a relação do espectador permaneça inabalável, visto que, ao contrário do intervalo do primeiro para o segundo filme, em O Ultimato Bourne temos uma aproximação temporal muito mais próxima (o filme se inicia poucas horas após A Supremacia Bourne, tem seu andamento alocado em cerca de seis semanas após aquele e depois retoma quase que exatamente ao momento final do filme do meio. Complicado? Basta acompanhar ao filme que a coisa anda facilmente). A fotografia de Oliver Wood permanece granulada e dona de um aspecto documental, as sequências de ação continuam orgânicas, críveis e são captadas de perto e o elenco principal remanescente repete as ótimas performances, além de ser complementado por pelo menos dois atores de gabarito similar (ou até mesmo superior).

São novos na franquia os personagens vividos por David Strathairn (Boa Noite e Boa Sorte), Scott Glenn (O Silêncio dos Inocentes) e Albert Finney (Assassinato no Expresso Oriente), que são peças importantes da parte logística/administrativa do ex-projeto Treadstone, readaptado como Blackbriar (aspecto este que pode ser configurado como o "macguffin" do filme). Finney domina as parcas cenas em que aparece, principalmente pela força de sua voz, enquanto Strathairn, apesar de interpretar um personagem um tanto quanto inseguro, emprega dimensão ao mesmo, fazendo com que o espectador desperte interesse pela persona dúbia apresentada. Quanto a Glenn, apesar de não ter uma grande participação (tanto em tela, quanto em importância à trama), emprega uma atuação no mínimo correta. Quanto aos remanescentes, não como não destacar o cada vez mais a vontade e entregue ao personagem Matt Damon (Compramos um Zoológico) e a poderosa presença de Joan Allen (As Bruxas de Salém), que transparece força a sua Pam Landy. Vale destacar que o filme traz mais uma vez um personagem quase mudo para rivalizar com Bourne em determinado momento e se nos filmes anteriores tivemos Clive Owen e Karl Urban como intérpretes destes, agora a função coube ao até então pouco conhecido venezuelano Édgar Ramírez (Domino - A Caçadora de Recompensas), que hoje é tido como uma possível promessa.

Em A Identidade Bourne acompanhamos a busca de Bourne por seu passado e, quando este não se estabelece como algo "identificável" a nova persona que vinha se formando, eis que o agente opta por continuar a viver através da "nova" identidade. Em A Supremacia Bourne, devido a alguns fatores aleatórios (principalmente pelo assassinato de sua companheira, Marie), Jason Bourne retoma a persona antiga no intuito de inferir um golpe certeiro nos responsáveis por terem atrapalhado seu "recomeço voluntário" e descobre, mesmo sem ser esta sua intenção, muito mais acerca do projeto ao qual fora vinculado antes da amnésia. Já em A Supremacia Bourne tem-se um resgate da temática de cunho existencialista do primeiro filme, já que Jason Bourne encara finalmente sua origem e descobre que não fora uma vítima do sistema (em certo sentido foi, mas não cabe aqui discorrer sobre isso), mas sim que fora opção sua a inserção no projeto Treadstone. Obviamente que a essência do projeto Treadstone já acarreta temas existenciais (ora bolas, os agentes passam por uma espécie de processo de negação de identidade), mas este derradeiro filme dá um ponto final na questão não de rememoração do agente, mas sim no sentido deste dar um ponto final naquela existência e ser, de uma vez por todas, o Jason Bourne não vinculado àquele sistema. Complexo? Talvez um pouco, mas infinitamente interessante.

Brilhantemente conduzido por Paul Greengrass, equilibrado nos âmbitos político, de mistério e ação, possuidor de uma montagem excepcional sob o comando de Christopher Rouse (Zona Verde) - que encaixa organicamente os momentos de tensão, ambientação política e de ação frenética - e verdadeiro por oferecer explicações cabíveis aos mistérios mais importantes apresentados durante todos os capítulos da franquia, O Ultimato Bourne, à exemplo de A Supremacia, consegue iguala-ser (e, em alguns momentos, superá-los) aos demais filmes quanto à qualidade, não depreciando nenhum daqueles, apenas alocando-se onde é de seu direito devido a óbvia evolução que promoveu à franquia. Marcando a - teoricamente - última vez que a música Extreme Ways, do Moby, será executada nos créditos finais da série e sem sombra de dúvidas um dos melhores filmes de 2007, esta derradeira produção estrelada pelo agente desmemoriado Jason Bourne fecha a franquia com chave de ouro e marcou o fim de uma era, pelo menos até os produtores e o roteirista Tony Gilroy decidirem reviver a franquia apostando num outro viés, que retomasse o projeto Treadstone/Blackbriar, sem necessariamente envolver - de forma direta - a figura de Jason Bourne. É o que supostamente ocorre em O Legado Bourne, lançado este ano. 

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:

Texto sobre O Legado Bourne (2012)
Bilheteria:

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