30 outubro, 2012

Rock of Ages (EUA, 2012).


"Nada, exceto diversão" (Título da música da banda de hard rock oitentista Poison, utilizado como chamada do poster oficial do filme).*
Queria muito ter achado Rock of Ages um grande filme, principalmente por este supostamente prestar uma homenagem ao som de uma época que aprecio bastante, a colorida década de 1980. E, mesmo que esteja elencado no filme uma ótima seleção de músicas daquele período e possuir uma ambientação para lá de bacana - parabéns a equipe de arte do filme -, como entretenimento o filme deixa a desejar, visto que possui uma dupla de protagonistas (Julianne Hough e Diego Boneta) sem carisma e com atitude rock nula e um roteiro no mínimo bobo, entrecortado por passagens supérfluas que acabaram por ajudar a metragem inflacionada do filme (cerca de 136 minutos), mas prejudicaram bastante a dinâmica e a qualidade do mesmo.

Um dos maiores fracassos de bilheteria deste ano, não conseguindo sequer se pagar quando em cartaz nos cinemas, Rock of Ages sofre do mal da homenagem boazinha, que tenta elencar os pontos positivos do objeto a ser homenageado, mas se esquece que a possível sujeira do mesmo também é aspecto fundamental para que o registro seja plausível. Como retratar uma época regrada a festas, álcool, purpurina, sexo, drogas e rock 'n' roll sem o mínimo de sujeira e permissividade que tais tópicos pedem. No mínimo é um contrassenso. Logicamente que o filme não é de todo mal, principalmente pelas músicas escolhidas para conduzirem a história e pela sua utilização inteligente, que se à perfeição ao fiapo de roteiro da obra.

Talvez o maior problema do filme resida em sua pegada apática, obviamente por ter sido produzido como um subproduto do "hypado" seriado Glee, que se por um lado  renovou o interesse por canções há muito esquecidas pelo grande público, acabou também por pasteurizar-las em demasia, conferindo um ar contrário ao característico de uma canção de rock (em suma, falta energia e pegada a estas cute versions. E é exatamente isto que ocorre em Rock of Ages, apesar da ambientação bacana e da ótima escolha das músicas, Adam Shankman (Hairspray), por sinal um "expert" em musicais, acaba por artificializar demais as canções abraçadas pelo longa, além de utilizar o errôneo recurso de cortes rápidos durante a maioria das cenas coreografadas, fazendo com que seja praticamente impossível acompanhar o que acontece em tela.

Enfim, apesar de bonito - mesmo com uma caracterização rasteira do visual oitentista, especialmente no que se refere aos penteados (onde estão os mullets e cabelos à lá poodle?) -, a direção de Shankman é trôpega  e, aliada a um roteiro sem brilho (sério que três pessoas - Justin Theroux, Allan Loeb e Chris D'Arizenzo, este último criador do musical da Broadway no qual o filme é baseado - conseguiram conceber um argumento tão fraco?)  e a presença de dupla de protagonistas sem qualquer tostão carisma e muito menos algum apelo rock 'n' roll (não dá para engoli-los interpretando as canções, simplesmente não dá), acaba por contribuir de forma veemente para o afundamento do filme.

Além disso, voltando ao fator duração do filme, são diversos os personagens que poderiam ser limados do mesmo sem prejuízo algum a obra, dentre eles a frígida personagem de Catherine Zeta-Jones (Traffic), juntamente a seu esposo (Bryan Cranston, de O Vingador do Futuro) e a gerente de bar de stripper vivida pela verdadeiramente cantora  Mary J. Blige, que parece ter a missão de surgir do nada sempre que uma nota mais alta de determinada música é acionada.Contudo, apesar dos desperdícios, o filme conta com alguns bons personagens - mesmo que desenvolvidos de maneira rasteira -, especialmente pelas boas performances dos atores envolvidos, como Paul Giamatti (A Dama na Água), Russel Brand (Ressaca de Amor) e principalmente Alec Baldwin (O Aviador) e Tom Cruise (Um Sonho Distante). Este, por sinal, talvez seja o grande destaque no que se refere a construção de personagem, visto que o ator está completamente imergido nas idiossincrasias do personagem do começo ao fim da projeção (inclusive no desfecho bunda lelê), porém não acho uma performance arrasadora do mesmo - como muitos comentaram -, até por que em teoria a densidade dramática do filme não comportaria algo além.

Parece que a maioria do público percebeu alguns desses problemas também, visto que Rock of Ages se consumou-se mal avaliado tanto pela da crítica tanto por aqueles (poucos) que o conferiram nos cinemas. Como dito no topo do texto, queria muito gostar desta obra, mas apenas a presença de várias músicas que me calham no meu gosto não foi suficiente para que eu  vislumbrasse uma boa avaliação do mesmo, já que são muitos os problemas que carrega, começando pela mais do que na cara deformação de valores e mística de uma década no mínimo curiosa que foi da de 1980. Sendo assim, creio que para que a má impressão geral nascida durante a conferida deste filme seja pelo menos pontualmente dissipada terei que ver uma vez mais Rock Star, de 2001,  filme este que abraça a mesma temática (apesar de não ser propriamente um musical) e, pelo menos até alguns anos atrás, considerava bem divertido e interessante. Portanto, muito em breve discorrei sobre o referido, enquanto isso permaneço "lastimando a lástima" que foi Rock of Ages em seu contexto geral.

* Infelizmente a utilização do título da canção do Poison sagrou-se como um triste engodo.

AVALIAÇÃO
TRAILER

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