04 agosto, 2013

O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger, EUA, 2013).


O poster do filme disposto acima é autoexplicativo: representa de forma objetiva e ao mesmo tempo metafórica o carnaval de gêneros e a falta de direcionamento desta nova incursão dos parceiros de negócios Gore Verbinski (diretor e produtor), Jerry Bruckheimer (produtor) e Johnny Depp (ator e produtor executivo). Defendido como um faroeste moderno pelos realizadores, mas confirmado pela crítica especializada como um Piratas do Caribe no velho oeste, dentre este dois conceitos acabo por me inclinar mais à corrente dos críticos, já que, mesmo que o filme apresente certo tom de modernidade, a balbúrdia espelhada pela falta de direcionamento quanto ao estilo/gênero do mesmo e a busca incessante pela autorreferência - neste caso, à franquia do bucaneiro Jack Sparrow, cuja associação é imediata e por osmose - acabam por sabotar toda a boa vontade investida no projeto, que somado a sua grandiloquência culminou numa péssima avaliação da crítica e numa arrecadação risível nas bilheterias mundo afora, sequer conseguindo (até então) empatar seu alto (põe alto nisso) custo de produção. O Cavaleiro Solitário, quer queria quer não, realmente morreu sozinho.

Os trailers já adiantavam que a grandiloquência seria o fio condutor do filme, mas até então não era sabido que sua duração e os estilos cinematográficos abraçados também seguiriam a mesma filosofia. Resultado? Uma obra cujo visual realmente impressiona, mas cujo roteiro, sequências de ação e falta de definição em sua proposta artística - trata-se de uma aventura, de um longa de ação, de um faroeste dramático ou de uma comédia de costumes? Tudo isso e nada disso - arruína o impacto das cenas cuja fotografia (Bojan Bazelli, de Rock of Ages) homenageia grandes nomes como Sergio Leone e John Ford. É verdade que nem toda sacada dos envolvidos é de todo mal, mas a mania de aumentar tudo ao máximo da capacidade cognitiva humana e duplicá-la em seguinte, já havia dado sinais de cansaço na franquia Piratas do Caribe e, nesta espécie de spin-off não oficial da mesma, a coisa desanda de vez.

Além dos nomes citados acima, pelo menos mais três personagens remontam a franquia pirata. O roteiro desta parafernália foi arquitetado - palavra forte - a seis mãos, sendo Terry Rossio e Ted Elliott os "criadores" da série Piratas do Caribe. O texto foi complementado por Justin Haythe (Foi Apenas um Sonho), talvez o responsável por tentar por um pouco de bom senso nos disparates elaborados por Elliott e Rossio. Contudo, a coisa não dá lá muito certo, pois a construção atabalhoada do longa o torna enfadonho - muito longo e redundante -, anestesiante - chega um momento que tamanho barulho, explosões e cenas de ação cujo nível de absurdo não podem ser medidos passam a ser absorvidos sem nenhuma reação por parte do espectador, tamanha a força opressora - e um tanto broxante, pois apesar do grande espetáculo oferecido, é mais do que óbvia a fragilidade conceitual e narrativa do filme. A fórmula aplicada pelos roteiristas já havia demonstrado certo cansaço ainda na série Piratas do Caribe, mas é aqui que esta atinge seu pior nível de criatividade. 

Mesmo intitulada de O Cavaleiro Solitário, a obra parte por um (óbvio) caminho distinto, relegando o personagem título - interpretado com certo esforço por Armie Hammer, de J. Edgar - ao posto de coadjuvante, enquanto o suposto coadjuvante passa a ser protagonista, simplesmente pelo fato deste ser interpretado pelo queridinho (e talentoso, sem sombra de dúvidas) Johnny Depp (Sombras da Noite). Depp, apesar de mais uma vez convencer pelo carisma e pelo jeito divertido de conduzir sua mais nova criação, o índio Tonto, não consegue estabelecer um diferencial válido entre este e seus últimos papéis, emulando aqui mais uma vez a personagem deslocada, um tanto louca e de andar particular, a exemplo do seu chapeleiro maluco em Alice, Frank Tupelo, em O Turista e, obviamente, sua mais conhecida criação, Jack Sparrow. É impossível dissociar o perfil de seu personagem Tonto do modus operandi da maioria de seus personagens da última década, pois nem mesmo os quilos de maquiagem (incluindo uma prótese no nariz e um corvo como chapéu) o salvam da constante repetição. É óbvio que o ator é talentoso e, vez ou outra, apresenta um sopro de criatividade e consegue roubar um sorriso do espectador, mas o comodismo é perceptível e, assim como todo o restante do filme, os exageros e a ambição acabam por levar tudo a perder ou pelo menos a tirar parte considerável do brilho pretendido pelos seus realizadores.

O elenco de apoio, apesar de também cair no lugar comum, traz uma boa contribuição ao filme, especialmente William Fichtner (Batman, o Cavaleiro das Trevas), cujo personagem é o grande vilão do longa e o cada vez mais presente em produções hollywoodianas James Badge Dale (Homem de Ferro 3), que vive o irmão mais velho do pouco desenvolvido Cavaleiro Solitário. No entanto, acompanhar mais uma vez a outrora aplaudida Helene Bonham Carter (Os Miseráveis) compor o tipo histérico-extravagante não dá, tendo esta inclusive superado Depp no quesito "autorrepetição" (perdão pela redundância, mas esta foi proposital). Completam o elenco coadjuvante o veterano Tom Wilkinson (O Exótico Hotel Marigold), que não compromete e o geralmente expressivo Barry Pepper (Inimigo do Estado), aqui bastante deslocado. No fim das contas o elenco pouco pode fazer tendo em vista o pouco interesse despertado por seus personagens devido ao roteiro capenga.

Gore Verbinski (Piratas do Caribe: A Maldição do Perola Negrateve como trabalho anterior a excelente animação Rango, cuja temática e abordagem encontra-se totalmente inserida no universo do faroeste. Sendo assim, é deveras estranho perceber que, à exceção da fotografia, do figurino e de algumas frases de efeito, pouco do dito bang-bang é abraçado pelo cineasta. A estrutura narrativa se comporta como uma espécie de casamento entre a ambientação estilizada de Piratas do Caribe e uma tentativa de empregar um caráter crítica à trama, que nunca se mostra suficiente, principalmente pela abordagem sem foco fixo do roteiro e da direção hiperbólica de Verbinski. Se em Rango tínhamos uma obra de arte sob o entorno de uma aventura, aqui temos uma aventura sem substância ou conteúdo relevantes.

Por fim, mesmo que a pirotecnia e a busca pela constante superação do clima de aventura através de sequências e mais sequências de ação ininterrupta se tornem o foco do filme, há alguns bons elementos que não estão atrelados à fotografia, como a inspirada abertura - o tom fabular impresso por Verbinski na cena inicial é interessante, pena que com o seu desenvolvimento esta vá perdendo o seu encanto - e algumas boas piadas. No mais, apesar de soar divertido em alguns momentos, O Cavaleiro Solitário é um filme deslocado, longo em demasia e pouco convincente, que não sabe a quem agradar nem como se conduzir. Se analisarmos os nomes envolvidos com a produção é fácil constatar que o resultado final do filme é muito pouco para tantos "talentos", o que, de uma forma ou de outra, acabou por ser refletido através das péssimas avaliações recebidas por ele, como também a arrecadação pífia ao redor do mundo, tendo o filme custado aproximadamente 215 milhões de dólares (fora os gastos promocionais) e arrecadado (até então) apenas 165 milhões. Muito pouco para tamanha pretensão, mas não posso dizer que não é merecido.

AVALIAÇÃO
TRAILER



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