26 agosto, 2013

Sem Dor, Sem Ganho (Pain & Gain, EUA, 2013).


Uma coisa é certa: não é com este Sem Dor, Sem Ganho que veremos alguma profundidade em uma obra do explosivo cineasta Michael Bay (Transformers). Dono de uma filmografia de sucesso comercial, apreciado por grande parte do público que procura "diversão", contudo execrado por grande parte da crítica (e do público um tantinho mais exigente), Bay "vendeu" este seu mais recente trabalho como um filme menor em sua carreira, uma espécie de trabalho despretensioso, em comparação aos grandes blockbusters de sua carreira. Certamente Sem Dor, Sem Ganho é um filme menos agitado em comparação à franquia Transformers, por exemplo, mas nem por isso deixa de manter a estética e os maneirismos próprios do diretor, uma espécie de assinatura em formação, já que estes elementos encontram-se presentes em quase todos os seus filmes, mas nem sempre são utilizados da maneira ideal, orgânica, integrada a narrativa.

Logo de cara é possível notar que Bay, ao lado de seu diretor de fotografia, Ben Seresin (Linha de Ação), foram inspirados pela estética adotada por Oliver Stone em filmes como Assassinos por Natureza e Selvagens, visto que o destaque as cores quentes, a explosão de luz solar e, de certa forma, a composição surreal e onírica das imagens remetem de imediato a estas obras. Tal escolha se encaixa ao absurdo que é a trama do filme - esta é inspirada em eventos reais, não mais que isso -, todavia, devido a mão pesada do diretor, acaba sendo explorada além do limite, passando a incomodar um bocado quando explorada em sua completude (contraluz, enquadramentos estourados) e aliado a câmera lenta ou cortes frenéticos. Na minha opinião, só existe um Tony Scott - a fotografia do filme Domino, de Scott, também pode ter sido tomada como referência - e este infelizmente nos deixou.

A bem verdade Sem Dor, Sem Ganho é um filme de comédia e, se não fosse a mão pesada de Bay, que insiste em atropelar o tom cômico (e muitas vezes surtado) do filme com sequências exageradíssimas (não estamos assistindo Transformers ou A Rocha, por exemplo) de ação e o corte exagerado do filme - a metragem total ultrapassa as duas horas, quando poderia ter o mesmo resultado com vinte ou trinta minutos a menos -, poderia até mesmo sagrar-se como uma boa surpresa, pois possivelmente galgaria a posição de melhor filme dirigido por Bay. Todavia, devido aos excessos (injustificáveis, ao meu ver), este posto continua com o primeiro Transformers.

Apesar de inspirado em uma história real - acontecida no início dos anos 1990 -, o roteiro da dupla Christopher Markus e Stephen McFeely (Capitão América: O Primeiro Vingador) exagera demais na caricatura, proporcionando assim um misto de frescor aliado a um sentimento de descrença quanto aos eventos que são desenvolvidos em tela, mesmo que o espectador esteja ciente de que esta se trata de uma obra cinematográfica de ficção. Sendo assim, se na composição do roteiro já escapam alguns exageros, quando este é realizado em forma de som e imagem por um sujeito como Michael Bay tais excessos galgam outro nível. 

O elenco do filme é um dos grandes atrativos, pois conta com nomes relevantes à filmografia norte-americana atual, como Mark Wahlberg (Ted), Dwayne Johnson (Com as Próprias Mãos), Anthony Mackie (Os Agentes do Destino), Tony Shalhoub (série Monk), Rob Corddry (A Ressaca) e Ed Harris (Caminho da Liberdade). Destes, destacaria as composições de Johnson (cada vez mais a vontade como comediante, o que não deixa de ser surpreendente), carismático a beça e de Shalhoub, que adota uma postura de interpretação no melhor estilo Joe Pesci (Os Bons Companheiros), recheada de palavras de baixo calão, pavio curto e gritaria. Wahlberg, apesar de ser o protagonista, acaba eclipsado pelos bons trabalhos de Johnson e Mackie (mas é de se admirar o quanto este "cresceu" para construir seu personagem), enquanto Harris surge apenas como o coadjuvante de luxo, sem grandes pretensões ou entrega. Quanto a Coddry, este repete o papel de "espertalhão" que vem marcando sua carreira.

Um dos maiores problemas que encontrei em Sem Dor, Sem Ganho está relacionado a inversão moral defendida por Bay e seus roteiristas, que vinculam o trio de protagonistas ao sonho americano da conquista através do esforço próprio, da própria dor e ganho, quando o que, em essência, este não passa de um conjunto de seres humanos abobalhados, alienados profundamente pelo sistema operante e que, se deixaram alguma lição, foi a de não fazer, pensar ou induzir nada do que eles realizaram/confabularam. Do início ao fim há uma glorificação destes indivíduos, inclusive no desfecho "feliz" pré créditos finais, quando nos é informado a pena recebida por qualquer um deles. Enfim, Michael Bay comprova aqui que seus valores são mais deturpados do que imaginava até então.

Com isso, apesar das boas intenções e do bom elenco - que, sem sombra de dúvidas, se entregou de forma pesada ao projeto -, o filme não diverte como deveria divertir, nem envolve como poderia envolver, sagrando-se como uma peça de entretenimento fugaz, porém vez ou outra divertida, mas longe de ser nivelada. Diria que vale a pena ser conferido e que, em comparação a outras obras assinadas por Bay, esta até que é bacana. Todavia, refletindo um pouco após sua exibição, confesso que certamente não revisitarei tal obra futuramente, bastante esta experiência uno (o que, ao meu ver, não é um bom sinal). O certo mesmo é que dá para rir com e de Sem Dor, Sem Ganho, mas o saldo de gargalhadas é pouco em comparação aos firulas dispostas em tela por cerca de 130 minutos.

AVALIAÇÃO
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