14 agosto, 2013

Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, EUA, 2001).



Não é a primeira vez que revejo a visão de Tim Burton (Sombras da Noite) para o livro de Pierre Boulle e para o filme Planeta dos Macacos, de 1968. Contudo, somente durante esta última conferida é que um certo lampejo me veio a mente: o cinema de Burton parece mais fascinante, coerente e interessante apenas quando ainda somos crianças! Obviamente que tal assertiva soa muito genérica, pois há filmes (bons) do diretor cuja configuração pode ser compreendida como "adulta", a exemplo de Ed Wood e Peixe Grande, por exemplo, filmes estes cujo sub-texto e nuances são (possivelmente) imperceptíveis aos olhos de uma criança, mas agradabilíssimos aos de um adulto. Dito isto, voltemos ao remake de Burton para o clássico da ficção-científica Planeta dos Macacos

Apesar desta versão de Planeta dos Macacos ter alguns lampejos de seriedade, a falta de uniformidade e o excesso de referências ao ambiente humano na caracterização de uma sociedade oposta a nossa (é difícil acreditar que, apesar das óbvias referências, uma sociedade composta apenas por símios repita as manifestações culturais da raça humana, sem nenhuma qualidade que as distinguam) acabam por incomodar a imersão nesta parábola futurista, que ainda por cima reduz a discussão do filme original e do livro no qual se baseia a uma simples aventura estilo "peixe fora d'água" e muita correria. A falta de carisma de Mark Wahlberg (Rock Star) também compromete esta imersão, tendo em vista que o ator parece mais impressionado como o fato de estar imerso em planeta habitado por símios inteligentes, do que seu próprio personagem. Falta profundidade a composição do ator, que ao meu ver não é ruim, pois quando disposto entrega boas interpretações, seja em filmes de conotação mais dramática ou mesmo em passatempos de ação. Infelizmente Wahlberg não convence como astronauta de expedição, tendo um desempenho parecido com o que viria a repetir no filme Fim dos Tempos, de M. Night Shyamalan, totalmente desconectado ao filme no qual participa.

Começando em desvantagem pela pouca força de convencimento apresentada pelo seu protagonista - e, de certa forma, o "único" rosto humano de referência à trama do filme -, o Planeta dos Macacos de Tim Burton, apesar de não possuir a estética característica do cineasta - pelo menos não de forma explícita -, traz no quesito visual seu grande trunfo, seja através do ótimo serviço de maquiagem a cargo do mestre Rick Baker (Homens de Preto), do desenho de produção -  a cargo de Rick Heinrichs, de Capitão América: O Primeiro Vingador - e até mesmo dos efeitos visuais, que mesmo passados 12 anos, ainda cumprem bem o seu papel. Sendo assim, apesar do visual não remeter de imediato aos trabalhos anteriores de Burton, este não deixa de ser o grande atrativo do filme, visto que o roteiro do longa oscila em termos de qualidade, acertando um pouco como entretenimento, mas deixando o discurso social um tanto de lado.

Coube ao trio formado por William Broyles Jr. (A Conquista da Honra), Lawrence Konner (Aprendiz de Feiticeiro) e Mark Rosenthal (Poderoso Joe) adaptar a obra original de Pierre Boulle ao novo milênio, porém, do ponto de vista temático, pouca coisa foi respeitada. É certo que também há uma abordagem distinta do filme de 1968 em comparação ao romance de Boulle, contudo, naquele filme, existe uma busca por manter a essência do discurso apresentado pelo escritor francês, seja através do poder simbólico contido em algumas falas das personagens, seja pelo choque imagético e textual causado pela cena final daquele filme. Ou seja, se o longa dos anos 1960 apresentou uma adaptação viável àquela época específica, tendo uma cara própria, mas mantendo a essência do livro, esta versão assinada por Tim Burton opta por reduzir o contexto político-social da obra livro e da primeira versão de cinema em uma aventura com toques de ação, sem buscar aprofundar temas caros àquelas versões, como evolução, cultura e belicismo. O conceito deste Planeta dos Macacos é tão mastigado que a civilização símia apresentada praticamente não possui elementos culturais distintos da humanidade - aspecto este distinto das versões citadas, pois apesar da aproximação, residiam ainda peculiaridades específicas tanto da cultura humana, quanto da símia -, sendo esta apresentada à exaustão e de forma gratuita, como os grupo de jovens símios "roqueiros", por exemplo.

Há também sérios problemas estruturais no roteiro desenvolvido por Broyles Jr., Konner e Rosenthal, especialmente quanto estes tentam inserir tons de comicidade à trama, enquanto o visual do filme, escuro e hostil, desperta um sentimento de desconfiança, quiçá temor. A (boa) trilha sonora assinada por Danny Elfman (Hitchcock), ao lado das maquiagens e composições dos atores Tim Roth (A Negociação) e Cary-Hiroyuki Tagawa (Mortal Kombat), reforçam este viés mais denso, enquanto gente como Paul Giamatti (A Dama na Água) aposta no lado cômico. Nomes como Helena Bonham Carter (Os Miseráveis) e Michael Clarke Duncan (À Espera de um Milagre) estão no meio termo, enquanto Kris Kristiferson (Blade - O Caçador de Vampiros) surge completamente deslocado. Por fim, temos a presença da inexpressiva Estela Warren (Alta Velocidade) como interesse romântico do personagem de Mark Wahlberg. Este choque de visões quanto ao que o produto se propõe prejudica a coerência narrativa da obra, tornando-a incoerente, podendo isto ser constatado até mesmo pelos cinéfilos menos criteriosos.

Longe de ser um desastre, mas também distante de ser considerado um bom filme, Planeta dos Macacos de Tim Burton é um filme esteticamente bonito, mas que pouco tem a dizer, que dirá preencher as lacunas do filme de 1968. Com um pouco de esforço e boa vontade esta obra pode ser apreciada como uma peça entretenimento efêmero, porém vez ou outra tal jornada pode se tornar cansativa, já que a premissa de um estranho no ninho apontada pelo longa é pouco desenvolvida, já que o visitante de outro mundo tem uma adaptação praticamente automática a uma sociedade alienígena cuja existência conflita diretamente com os paradigmas existenciais do primeiro. Muito se fala sobre o final apoteótico deste filme, todavia, este não passa de uma adaptação relativamente fiel do apresentado no livro de Boulle. O problema é que o restante do filme não assume essa "pegada", tornando o conceito deste desfecho vazio. Há bons e maus momentos neste filme, inclusive elementos embebidos da obra de Boulle que foram limados na versão de 1968, mas a opção de limar boa parte das discussões e focar basicamente na correria, no perseguição ao estilo gato e rato, enfraquece o filme como um todo, tornando-o assim não mais do que mediano, como ilustram bem as estrelas abaixo.

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:
Bilheteria:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Concorda com o texto? Comente abaixo! Discorda? Não perca tempo, exponha sua opinião agora!