19 agosto, 2013

Somos Tão Jovens (BRA, 2013).


A expectativa era grande quanto a visualização deste filme, tanto que dificilmente tal desejo seria concretizado de forma absoluta, pois Somos Tão Jovens é, propositalmente ou não, uma cinebiografia do ícone Renato Russo e, por conseguinte, do nascimento da cena rock na capital do Brasil, a deslocada Brasília.. De certa forma, tal constatação tira parte do possível impacto negativo apresentado pela obra, mas isso não quer dizer que a avaliação tenha que ser menos criteriosa, até por que, apesar da importância do homenageado em tela, este é um filme como qualquer outro e, antes de mais nada, deve ser visto, sentido, compreendido e analisado como tal.

Sucesso inconteste de bilheteria, Somos Tão Jovens amargou críticas medianas, que, de certa forma, refletem o filme no contexto geral: um bom filme, porém sem grandes atrativos. Há um bom trabalho de elenco no filme, mérito este do diretor Antônio Carlos da Fontoura (Gatão de Meia Idade), contudo, nem todos possuem personagens bem desenvolvidos, inclusive alguns não passam de caricaturas, pois encontram-se totalmente apoiados nas imagens que nós, público, possuímos de alguns artistas da cena brasiliense à época (anos 1970-1980), como os irmãos Fê e Flávio Lemos e Dinho Ouro Preto (todos do Capital Inicial) e Herbert Vianna (líde d'Os Paralamas do Sucesso), talvez o mais prejudicado. É perceptível o esforço destes atores, no entanto, sem conteúdo seus personagens tornam-se apenas simulacros dos indivíduos verdadeiros, apresentados como uma embalagem cheia de maneirismos, mas sem motivação ou envolvimento algum.

Contudo, nem todo o elenco sofre com a falta de substância dada as personagens por Fontoura e Marcos Bernstein (roteirista), pois a dupla formada por Thiago Mendonça (2 Filhos de Francisco) e Laila Zaid (Heleno) compõem de forma sublime seus papeis, dando vida a Renato Russo e Ana Cláudia (uma das melhores amigas - e paixões - da vida de Russo), respectivamente. Enquanto esta se apoia no carisma, o segundo entrega um Renato Russo quase que perfeito, adotando tanto inflexões gestuais quanto verbais e até mesmo emulando com sucesso o tom grave e melancólico de Russo ao cantar, mergulhando bastante a fundo na maneira do eterno líder da Legião Urbana se portar, no limite entre a homenagem e a piada, compondo assim um dos melhores papeis da história das cinebiografias nacionais dos últimos anos - no meu ponto de vista, o trabalho de Mendonça está nivelado ao de Daniel de Oliveira, no filme (mediano também) Cazuza - O Tempo Não Pára. Certamente acompanhar a desenvoltura de Mendonça como Renato Russo é o maior atrativo do filme. Outro ponto que incomoda no roteiro de Bernstein é a excessiva inclusão de trechos ou referências as letras de Renato Russo nas falas das personagens, dando assim um caráter artificial e forçado aos diálogos, já que dificilmente Russo saia disparando chavões ou frases de efeito para em seguida aproveitá-las como canções.

É certo que, apesar da boa intenção, há problemas na narrativa do filme, especialmente na construção do roteiro - que aposta em demasia na coincidência dos eventos, no afastamento político-ideológico de Renato Russo perante os demais jovens de Brasília (à exceção de Ana Cláudia, que pode ser vista como uma espécie de bichinho de estimação de Russo, já que acata qualquer filosofia, ideia ou manifestação cultural capitaneada por ele) e no estilo de direção abraçado por Antônio Carlos da Fontoura, que vez ou outra investe em uma linguagem visual muito próxima a da televisão, tornando a narrativa cansada, pouco estimulante e, de certa forma, superficial. Há um excesso de didatismo na direção e no roteiro do longa que certamente descaracteriza a própria essência contestadora e liberalmente artística de Renato Russo, situação esta que torna o filme mais palatável e "redondinho", contudo também mais genérico e pouco inventivo.

Podendo ser classificado como um entretenimento interessante, que presta homenagem tanto ao grande Renato Russo quanto à importância do cenário punk/rock de Brasília em meados dos anos 1980, Somos Tão Jovens pode ser definido como um rascunho de uma boa obra, pois apesar de funcionar como obra-tributo reverente a uma época inesquecível à história brasileira, sua indecisão em abraçar a cena rock da época como protagonista ou simplesmente a persona de Renato Russo acabam tornando a ambição do filme bem maior que o resultado final. Some-se isso a linguagem um tanto "Malhação" do longa, e temos aí um filme com mais cara de especial de fim de ano da Rede Globo (que, por sinal, é uma das produtoras da obra) do que de cinema, mal este comum dentre 7 de 10 produções nacionais (especialmente àquelas com o selo Globo Filmes). Somos Tão Jovens é um filme simpático que poderia ser bem melhor, já que tinha material para isso e deixa um gostinho amargo em seu final, mas ainda assim vale a pena assisti-lo.

AVALIAÇÃO
 
TRAILER

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