01 agosto, 2013

O Homem de Aço (Man of Steel, EUA, 2013).


Encontro-me no grupo pequeno de pessoas que não consideram Superman: O Retorno um filme ruim, mas muito pelo contrário, taxam este como coerente e eficiente em sua proposta mista de referência e nostalgia. Contudo, apesar deste não ter obtido uma sequência, recebi com bons sentimentos a vinda de uma “nova” visão do personagem no cinema, cuja finalidade é a de reaproximar o público jovem da iconografia que permeia a lenda que se tornou Superman, no entanto, atualizando o cânone à nossa realidade atual. Sendo assim, foi convocada a dupla Christopher Nolan (A Origem) e David S. Goyer (Cidade das Sombras), respectivamente diretor e roteirista da recente e super bem-sucedida trilogia cinematográfica do Batman, para redesenhar a mitologia do kryptoniano e o chegado a espetáculos e pirotecnia Zack Snyder (Watchmen: O Filme) para a condução do mesmo. Temos então O Homem de Aço.

Apesar da pretensão de afastamento ao filme de 1978, afora a modernização em termos de design e efeitos visuais - além da narrativa -, pouco de diferente é visto nesta mais recente encarnação do Superman, até por que, apesar da suposta busca por realismo da produção, as informações quanto a mitologia do personagem já encontram-se bastante arraigadas a comunidade apreciadora - independentemente do grau de conhecimento - pop como um todo. Então, se por um lado temos aqui um filme obviamente contextualizado a visão do século XXI, onde o terrorismo, a globalização, a manipulação tecnológica e os arroubos de exagero encontram-se mais vivos que nunca, por outro nos é repetido mais uma vez a alusão místico-religiosa da chegada de Kal-El/Superman ao planeta Terra. Ouve obviamente uma tentativa do trio Nolan/Goyer/Snyder de se afastar dos elementos mais "desgastados" e "datados" do personagem, mas um olhar mais criterioso identificará que tal iniciativa não foi lá bem sucedida, visto que os ecos que caracterizam o personagem encontra-se aqui mais vivos que nunca. A narrativa do filme pode ser fragmentada, a câmera na mão e sua tremedeira habitual pode conferir uma ilusão de crueza e realidade ao mesmo, a espetacularização dos combates e sequências de ação podem fazer jus ao cinema contemporâneo, mas a essência do filme/personagem é a mesma de sempre, com ou sem maquilagem por parte dos realizadores.

Superada discussão quanto à "novidade" trazida pelo novo filme do azulão, registro aqui que, apesar da boa vontade dos envolvidos em reapresentarem o personagem as novas gerações, o resultado final não soou bem azeitado, inclusive sendo contraditoriamente inchado demais e pouco claro em alguns momentos. Talvez devido a opção de montagem não linear e um tanto fragmentada adotada por Snyder e o editor David Brenner (Piratas do Caribe: Navegando em Águas Perigosas) algumas lacunas da trama tenham se sobressaído, especialmente quanto à transformação de Clark Kent (terráqueo) em Kal-El (kryptoniano) e, consequentemente, em Superman, atribuído pelo filme como o melhor dos dois mundos. O tom contemplativo sugerido pelo trailer não se mostra tão profundo - a bem verdade, as cenas co-estreladas por Kevin Costner (Pacto de Justiça) e Diane Lane (Sobre o Sol da Toscana), ao lado dos intérpretes do Superman, são as que mais chamam a atenção, talvez por soarem mais orgânicas e possuírem o tom exato de emoção - e a destruição e pirotecnia do terceiro ato pode impressionar em um primeiro momento, mas também levanta algumas indagações, especialmente quanto à reconstrução da cidade e das inúmeras perdas humanas durante todo o processo (uma boa parte tendo o nobre Superman como responsável direto, por sinal). Tudo isso serve para ilustrar que, apesar dos acertos, há também neste filme certas contradições que, julgadas com maior rigor, tiram parte do brilhantismo esperado de uma produção deste porte.

Tecnicamente o filme é praticamente irretocável, cumprindo bem a sua missão de promover um espetáculo visual arrebatador, convencendo (uma vez mais) que o "homem" pode voar e demonstrando, em grande escala, o poder de fogo dos kryptonianos em solo terreno. Como dito anteriormente, o que pode abrandar um pouco o impacto estético do filme é a montagem do mesmo. Somado a isso, há também o excesso de câmera na mão, que realmente dá ao filme um caráter mais realista, porém dificulta bastante o entendimento da cena em si, devido a rapidez dos gladiadores alienígenas em combate (em compensação, não há uma única cena em slow-motion no filme, marca esta até então característica nas obras dirigidas por Zack Snyder). A trilha sonora composta por Hans Zimmer (Batman, o Cavaleiro das Trevas), apesar de não estabelecer nenhum tema tão forte (e imediatamente armazenável) quanto o de John Williams, conduz bem o filme, marcando com propriedade e força emocional tanto os momentos mais intimistas quanto a pancadaria desregrada comumente vista em tela.

Deixando a técnica de lado, talvez o maior acerto do filme seja o seu elenco, começando pelo protagonista. O jovem Henry Cavill (Imortais) consegue desvincular a imagem de Superman da estabelecida por Christopher Reeve, mesmo que aquele ainda não tenha entregue o outro lado da moeda no que tange a construção do personagem: Clark Kent (que surge em cena, mas por tempo ínfimo). Cavill possui carisma, sabe atuar e é, inegavelmente, bonito, o que é pré-requisito para o "sucesso" do personagem e consegue segurar o filme, mesmo que Russel Crowe (Linha de Ação) insista em tentar fazer-lhe sombra, com seu Jor-El (pai de Clark/Kal-El/Superman) turbinado, de longe o personagem mais deslocado do filme (Crowe e seu personagem chamam tanto a atenção no prólogo passado em Krypton, que a explicação quanto a destruição do planeta e o envio do jovem Kal-El à Terra ficam em segundo plano). O interesse amoroso do protagonista, Lois Lane, é bem composta pela excelente Amy Adams (Curvas da Vida), que, mesmo pouco desenvolvida, conquista pelo carisma forte da atriz. No entanto, mesmo que nomes como os de Laurence Fishburne (Matrix) e dos já citados Costner e Lane (ambos muito bem em cena) preencham bem o elenco secundário, o grande destaque do filme ao lado de Cavill é o novo general Zod, Michael Shannon (O Abrigo), grande ator que aqui consegue, pelo menos em parte, se desvincular dos tipos perturbados que permeiam sua ótima filmografia. Antagonista de Kal-El em todos os sentidos, Zod não pode ser categorizado como um vilão comum, visto que seu perfil naturalmente amoral o configura mais como um anti-herói ou um pária (parecido com o Loki, de Thor e de Os Vingadores). Cavill e Shannon estão bem em todos os momentos do filme, mas o diálogo final entre ambos, que resulta na derrota de Zod, é sem sombra de dúvidas o grande momento de ambos os atores.

Recomeço de um mito, O Homem de Aço tem seus defeitos - estes, acredito eu, mais relacionados à ambição dos realizadores em "agigantar" a produção do que por descuido dos mesmos -, mas as virtudes se sobressaem, especialmente pela credibilidade transmitida pelos personagens e pela trama em si. Quando tenta justificar "bobagens" como o uniforme do Superman e o funcionamento do planeta Krypton, por exemplo, o filme acaba geralmente passando os pés pelas mãos, já quando abraça a fantasia e o espetáculo moderado, este cresce bastante. Sendo assim, mesmo ecoando por todos os lados a ideia de reconstrução do homem de aço em um universo "realista", as melhores cenas, sequências e momentos do filme encontram-se justamente quando não há uma busca pelas respostas aos por quês, mas sim quando a emoção está em voga, quando o heroísmo sobrepõe o medo, quando a crítica a dominação global e ao medo do desconhecido vem a tona. O Homem de Aço não atinge a perfeição ou coerência almejadas (a pancadaria final desperta sentimentos e impressões distintas, mas ratifica o desejo das massas por um Superman combativo e épico, então que assim seja), mas se sai bem como recomeço de um personagem no cinema, especialmente quando comparado ao reboot de outro personagem também bastante querido pelos fãs de histórias em quadrinhos, o Homem Aranha

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