13 dezembro, 2013

Antes da Meia-Noite (Before Midnight, EUA/GRE, 2013).

"Antes da Meia-Noite é um dos melhores filmes do ano. Preenchido até a borda com humor, corações partidos e romance arrebatador, Richard Linklater dirige com paixão e maestria. Ethan Hawke e Julie Delpy brilham. Fique atento, Oscar, este filme é um achado" (Livre tradução da fala de Peter Travers, da revista Rolling Stone, destacada no cartaz promocional do filme).
Eis que Jesse (Ethan Hawke, de Uma Noite de Crime) e Céline (Julie Delpy, de Flores Partidas) alcançam a maturidade e isso, de certa forma, não é lá as mil maravilhas. Entretanto, continuar a acompanhar esta jornada iniciada no querido longa de 1995, Antes do Amanhecer, não tem preço. Talvez - e só talvez - Antes da Meia-Noite seja o mais "estranho" dos filmes que hoje completam uma trilogia. Digo que isso não por questões estéticas, que à exceção da geografia presente - este filme se passa na Grécia -, mantém a pegada dos anteriores, mas sim pela fluência da própria história, que abraça toda a problemática que envolve os casais de meia idade, cujos anseios e sonhos não realizados no passado vez ou outra surgem a assombrá-los. Desta vez Jesse e Céline não estão sozinhos, visto que nos são apresentados o casal de gêmeas destes, além do filho contraído por Jesse em seu primeiro casamento. Esta é mais uma prova de que o tempo realmente passou para o casal, mas o foco da narrativa continua sendo a problemática, instigante e ímpar relação entre ambos.

O universo criativo do diretor e co-roteirista (Hawke e Delpy também compuseram o roteiro do filme) Richard Linklater (Escola de Rock) continua vastíssimo, já que não há nenhum tipo de vacilo no texto deste novo capítulo nas vidas de Céline e Jesse, que, assim como nos dois longas anteriores, tem na simpatia de seus astros e no conteúdo meso-corriqueiro/meso-filosófico dos diálogos seus maiores atrativos. Ethan Hawke, apesar de entregar a idade, continua certeiro como o sujeito sonhador e pouco afeito a interações mais profundas - à exceção de viagem no continuum espaço tempo -, já Julie Delpy, mesmo com os quilinhos a mais, aprofunda ainda mais as peculiaridades de sua Céline, entregando momentos surtados de TPM avançada, mas também um grande cabedal de emoções e de tiradas reflexivas, ofuscando assim de seu companheiro de cena, mas sem nunca deixá-lo ao leu, sem brilho. Não à toa, Delpy foi indicada a diversas premiações por este papel, o que pode sugerir sua estreia no Oscar do ano que vem. Será?

Apesar de não possuir um grande arroubo técnico, é inegável que a direção e a fotografia se sobressaem aos demais elementos do filme, inclusive se igualando em importância à narrativa da obra ao roteiro e as atuações de Hawke e Delpy. Com isso, não estou, de maneira alguma, depreciando o trabalho dos demais envolvidos no filme, apenas destaco aquilo que, ao meu ver, estabelecem com mais força o conceito pretendido pelo filme. É claro que as paisagens, tanto naturais quanto as arquitetônicas, ajudam bastante na composição fotográfica, mas é perceptível o trabalho de Linklater e seu diretor de fotografia, Christos Voudouris (Terra Incognita), estreando numa produção internacional. Há toda uma matemática envolvida para se filmar um longa-metragem que acompanha, quase que ininterruptamente, dois personagens circulando por diversos ambientes (fechados e abertos), só por isso já os trabalhos de Linklater e Voudouris já mereceriam aplausos, mas ambos ainda acrescentam a arquitetura grega como personagem onipresente entre Céline e Jesse, ajudando assim a reconstruir estes personagens nove anos após nosso último encontro com eles.

Há muito o que se discutir, pensar e refletir a respeito de Antes da Meia-Noite, ainda mais se você, assim como os protagonistas da história, também passaram pelo processo de amadurecência juntamente a eles, ultrapassando as barreiras do romantismo utópica e dando de cara com as ondulações de bonanças de um relacionamento. Ainda não me encaixei a atual realidade de Jesse e Céline, mas, como me encontro tão conectado a eles, não consigo me eximir e sim, partilho de parte de suas aflições. É bacana estabelecer um relacionamento tão longo, saudável e rico com uma pessoa e, assim como eu, milhares de pessoas o estabeleceram não só como uma, mas com duas, mesmo que estas não tenham noção de que nós existamos. Ou será que têm? Quem sabe não descobrimos daqui a nove anos, em um possível Antes da Alvorada.

...

Para você que se pergunta sobre o por que de não ter dado nota máxima ao filme, explico agora: apesar de riquíssimo em diversos sentidos, achei o ritmo do miolo do filme (segundo ato) um tantinho lento/desinteressante, mas logo que o casal chega ao hotel a coisa cresce positivamente, retomando, ao meu ver, a "perfeição" conceitual do filme. Em segundo lugar, por não ter uma relação concreta com as agruras dos personagens nesta etapa da vida, minha conexão para com que eles tornou-se mais distante quando comparado aos dois filmes anteriores, Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol - por sinal, assisti este antes daquele -, cujo universo parecia (e permanece parecendo) mais reconhecível para mim. Todavia, isto é um mero detalhe técnico-subjetivo, pois o importante é que Antes da Meia-Noite é um filme tão bom, avassalador e rico quanto seus irmãos gêmeos de 1995 e 2004. E 2022 está logo ali.

AVALIAÇÃO
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