22 dezembro, 2013

Colegas (BRA, 2012).

Vencedor de diversas premiações importantes no âmbito nacional, como o Festival de Gramado e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ambos em 2012, Colegas é um projeto bastante pessoal do roteirista e diretor (além de fazer uma ponta como um dos agentes que parte em busca dos "colegas" na capital argentina, Buenos Aires) Marcelo Galvão (Bellini e o Demônio), como fica claro na mensagem que encerra a exibição do filme (seu tio, assim como os protagonistas do filme, é portador de síndrome de down). Construído de forma a conduzir o espectador através do ponto de vista dos portadores desta síndrome, o road-movie é divertido e bem filmado, além de contar com um elenco bem carismático, mas que não o impede de, vez ou outra, tropeçar pelo caminho, visto que nem todo malabarismo encaixa à perfeição numa obra cinematográfica, independentemente do ponto de vista pretendido.

Uma das boas sacadas do roteiro de Galvão encontra-se nas inúmeras referências a obras (clássicas ou não) da cinematografia mundial, seja através da recriação de algumas cenas ou até mesmo pela simples citação de algum diálogo famoso. Tal elemento é perceptível desde a exibição dos créditos iniciais, cujas fontes das letras imitam as de diversos títulos emblemáticos, como O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, por exemplo. Já no próprio filme destacam-se as homenagens aos filmes Cães de Aluguel, de Quentin Tarantino, Scarface, de Brian De Palma e Thelma & Louise, de Ridley Scott, talvez a que mais represente a essência do filme de Galvão. 

Apesar do encaixe desta espécie de colagem-tributo ser interessante, esta nem sempre encaixa-se a trama de maneira orgânica, o que pode atrapalhar o andamento da história ou até mesmo fazer com que as referências despertem mais atenção do que a "missão" proposta pelo filme. Por fim, é válido destacar que os três amigos que decidem fugir da instituição que os acolheu para realizar pelo menos três dos seus sonhos (conhecer o mar, casar e voar, respectivamente) são fanáticos por cima, inclusive um deles já confirma isto pelo nome de batismo: Stallone.

Tecnicamente o filme é muito bem acabado, contando com um ótimo trabalho de fotografia de Rodrigo Tavares (Rinha: O Filme), que dá toda uma cara de sonho na captação das imagens, além de destacar muito bem as paisagens pelas quais o trio principal passa durante a projeção do filme e uma trilha sonora marcante, que recicla temas de filmes, mas sempre com o intuito de prestar homenagem à sétima arte e não com o intuito de plágio. Ótimo trabalho de Ed Cortês. O elenco do filme, apesar de não apresentar-se excepcional, cumpre bem seu papel de compor o pano de fundo da trajetória dos garotos interpretados por Ariel Goldenberg (Stallone), Rita Pokk (Aninha) e Breno Viola (Márcio), destacando-se a exagerada composição de Lima Duarte (também responsável pela narração do filme) e Deto Montenegro, que também aposta na caricatura para compor um dos detetives encarregados de "resgatar" os três fujões.

É inegável que Colegas é um filme bem intencionado e divertido, com toda a cara de Sessão da Tarde, mas também é perceptível que possui algumas falhas, especialmente no âmbito de roteiro e na direção de elenco, especialmente dos garotos portadores de síndrome de down (obviamente tal tarefa é complicadíssima, mas algumas cenas acabaram ficando com uma cara exageradamente improvisadas, levando a trama do filme a um caminho aparentemente não previsto ou as deixando mais "irreais" do que seria "aceitável"). Nada disso tiro o brilho e potencial do filme, mas o afastam de todo o clima de celebração pelo qual o mesmo foi acometido, inclusive com o aval de premiações que, através de um olhar menos emotivo e mais rigoroso, certamente a obra não abocanharia.

Em resumo, Colegas é sim uma obra divertida e cativante, mas dotada de falhas um tanto quanto escancaradas - a maioria no âmbito de roteiro -, o que o torna menos incrível do que poderia ser. Acredito também que o hype criado em torno do filme (comoção em festivais, o fato de ser uma produção estrelada e dedicada as pessoas portadoras da síndrome de down etc.) tornou-se superior a sua própria qualidade como cinema, o que, no meu ponto de vista, é um baita erro, pois, acima de tudo, cinema deve ser cinema, não apenas bandeira, denúncia ou homenagem, como alguns defendem. Todavia, mesmo bobinha e "viajada" em demasia, a obra assinada por Marcelo Galvão tem tudo para tornar-se o próximo campeão de audiência das tardes cinematográficas da garotada na rede plim plim.

AVALIAÇÃO
TRAILER

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