"Ó deleite! Deleite e paraíso! Era a formosura e a formosidade feitas carne. Era como um pássaro de metal raro e celestial ou como vinho prateado flutuando numa espaçonave, a gravidade deixada pra trás, enquanto eu esluchava via imagens tão adoráveis." (Alex DeLarge, sobre a 9ª Sinfonia de Beethoven).
Distopia non-sense, violenta e colorida, Laranja Mecânica é, para mim, o melhor dentre os filmes de Stanley Kubrick. Mais sensitivo do que linear, esta adaptação cinematográfica do romance de Anthony Burgess é mais do que uma crítica a sociedade moderna e sua tendência à violenta crescente, além das infindáveis descobertas e novas técnicas de reeducação, controle, dominação e progresso, é uma viagem lisérgica a uma possibilidade de futuro próximo que, apesar de concebido no início da década de 1970, em essência é completamente cabível ainda hoje. Kubrick criou uma linguagem própria para montar esse universo particular, desde a concepção musical através de sinfonias de Beethoven e da canção tema do filme Cantando na Chuva, Singing in the Rain, até mesmo ao colorido aplicado durante todo o filme, que contrapõe perfeitamente ao mundo sujo e abandonado que nos é apresentado. Outro aspecto interessante está na utilização da música clássica como forma de diminuir à violência exibida, funcionando também como contraponto perfeito e referência ao universo do protagonista da história, Alex (talvez o único grande papel do ator Malcom McDowell), que enxerga ordem em meio ao caos que provoca.
Além da marcante presença da 9ª sinfonia de Beethoven, a trilha sonora assinada por Wendy Carlos é bastante particular, sendo feita praticamente de sons sintetizados em sua maioria derivados da própria sinfonia. Apesar de não ser tão conhecida e provavelmente não funcionar sem as imagens de Kubrick, essa trilha casa perfeitamente ao universo distópico e irônico do filme Laranja Mecânica, que através de neologismos diversos nas falas de Alez e seus drugues, ambientação com iluminação estilizada e utilização de cores fortes, visual non-sense, violência com um senso estético apurado, além do estilo mais do que particular de Kubrick (com sua câmera em close ou a destacar o ambiente apresentado no momento), fazem deste um dos filmes mais complexos do cineasta, rivalizando - com as devidas proporções - com o icônico 2001: Uma Odisséia no Espaço.
Em resumo, Laranja Mecânica é um exercício de estudo do comportamento humano destituído de limites de ordem moral, executado de forma irônica e, por que não, debochada, mesmo que com toques de violencia imagética e psicológica.
AVALIAÇÃO:
TRAILER
Mais informações:
Laranja Mecânica
Bilheteria: Box Office Mojo
IMDb - Internet Movie Database:
- Stanley Kubrick - Diretor e roteirista
- Anthony Burgess - Roteirista
- Malcolm McDowell
- Wendy Carlos - Compositor
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