06 novembro, 2012

A Vila (The Village, EUA, 2004).


"Não deixe a cor ruim ser vista, ela os atrai".
"Nunca entre na floresta, é onde eles esperam".
"Escute o sino de aviso, pois eles estão vindo".
(Livre tradução das mensagens dispostas no poster do filme). 
Consagrado após o sucesso do filme O Sexto SentidoM. Night Shyamalan passou a produzir obras outras que não necessariamente guardavam relação com seu maior sucesso, mas a busca do público por mais do mesmo fizeram com que cada um dos novos trabalhos do cineasta obtivesse menos respaldo perante as plateias. A Vila, terceiro filme pós-Sexto Sentido, pode ser considerado como um dos mais interessantes e criativos da carreira do diretor, visto que brinca praticamente do início ao fim com os sentimentos do espectador, devido ao clima de mistério e farsa que impera durante o desenvolvimento da obra, que contagia de imediato. Talvez devido a insistência - tanto de Shyamalan quanto do público - pela existência uma virada completa de narrativa a cada filme novo do diretor, A Vila pode acabar decepcionando os mais "sensíveis", pois a grande sacada proposta pelo filme não gera um grande ato ou promove uma revolução surpreendente (mesmo causando surpresa), mas sim afasta o espectro mítico ao apresentar o realístico.

A dicotomia entre fantasia e realidade é o que sustenta as fundações da obra, até por que se formos pormenorizar os eventos que levaram as personagens intituladas como anciões à criação da vila título acabaríamos por estragarmos um dos grandes baratos do filme, que é o da manipulação - no bom sentido - que o mesmo nos aplica, objetivando nos conduzir por uma linha narrativa que na verdade não se mostra verdadeira, quebrando um paradigma enquanto nos assusta, nos deixa apreensivos e nos insere num ambiente de farsa que aos nossos olhos - e aos das personagens do filme - é perfeitamente real. Esse exercício de manipulação é muito bem amarrado por Shyamalan, para mim um dos melhores contadores de história do cinema contemporâneo, pupilo assumido do mestre Hitchcock.

Além da criatividade e boa execução do roteiro, Shyamalan também se destaca aqui pela bela composição das cenas, com enquadramentos que hora refletem o contexto romântico da trama (um dos temas principais do filme), hora imprimem o clima de tensão e urgência necessárias a todo bom suspense. Todavia, o diretor não encontra-se sozinha na escolha e criação destes elementos, visto que conta com o suporte de dois mestres em suas áreas, Roger Deakins (Onde os Fracos Não Tem Vez), que capta tanto imagens belíssimas e quanto sinistras através de suas lentes e James Newton Howard (Batman Begins), parceiro recorrente de Shyamalan, que aqui compõe talvez sua melhor trilha sonora em filmes do diretor. A bem verdade, o clima de suspense proposto pelo diretor tem como grandes co-responsáveis o diretor de fotografia, o compositor e a equipe de efeitos sonoros, que criam materializam de forma orgânica as ideias do roteiro.

O elenco de A Vila também é exemplar e apesar de não possuir um protagonista único - um dos pontos positivos da obra, que tem como personagem principal o mistério que cerca a própria vila - traz alguns grandes nomes para ajudar compor a credibilidade da trama apresentada. Encabeça o elenco Joaquin Phoenix (Gladiador), William Hurt (Simplesmente Alice), Sigourney Weaver (Poder Paranormal), Adrien Brody (O Pianista), Brendan Gleeson (O Guarda) e a então estreante Bryce Dallas Howard (A Dama na Água), de longe o grande destaque do filme, principalmente por poder ser categorizada como o coração do mesmo e como representante metafórica da trama em si (afinal de contas, a personagem, assim como nós, não enxerga). Os demais também encontram-se bem em seus determinados papeis, principalmente por investirem numa interpretação em tons mais próximos a melancolia e ao abatimento, o que os distanciam da postura vivaz e pura da personagem de Howard.

Pouco apreciado pela crítica especializada e desdenhado por grande parcela do público, quase que totalmente pelo conteúdo de seu plot twist - que realmente distorce tudo aquilo que vinha sendo apresentado até então -, não sou partidário desta opinião e considero A Vila (principalmente pelo seu desfecho, tanto crível quanto cabível, aos meus olhos) um dos trabalhos mais interessantes e bem realizados de M. Night Shyamalan, tanto pelo visual e clima arrebatador, quanto pela condução narrativa empregada pelo cineasta, que domina o espectador do início ao fim do filme, oferecendo tanto aquilo que este quer sentir (medo, tensão) quanto aquilo que não (farsa). Após este A Vila o cineasta foi caindo de produção e perdendo seu espaço - até então imbatível - como novo mestre do suspense, mas acredito que este não encontra-se entre seus filmes menores e torço para que o mesmo seja redescoberto muito em breve, pois suas qualidades saltam aos olhos, independentemente da aceitação ou não de seu plot twist.

AVALIAÇÃO
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