09 novembro, 2012

Rocky IV (EUA, 1985).


Os filmes de Rocky Balboa podem ser considerados, a grosso modo, como uma caricatura. Porém, este quarto capítulo da franquia tende a querer assumir para si toda a responsabilização por este categorização e acaba saindo como uma caricatura da possível caricatura que é saga de Balboa, o que não é um sinal positivo para o filme. Paradoxalmente a esta óbvia fragilidade, Rocky IV é o mais bem sucedido episódio da série nas bilheterias e, pelo menos para no Brasil, o mais veiculado e quiçá lembrado de todos. Contudo, revendo-o hoje, fica mais do que óbvio que esta assumida incursão de Sylvester Stallone nos exageros (de âmbito negativo) dos anos 1980 (já pincelados em Rocky III - O Desafio Supremo) e a profundidade de um pires na formatação do panorama político da época resultam no até então pior exemplar da franquia Rocky Balboa.

Falta a Rocky IV consistência, visto que o filme não funciona sem as referências dos anteriores e, nos poucos momentos de independência dramática, acaba recriando momentos apoteóticos daqueles filmes, soando sempre menos interessante do que eles. Por exemplo, após a morte do trenador de Mickey no filme anterior, numa sequência dramática muito bem orquestrada, a de Apollo Creed (Carl Weathers) soa forçada e sem tanto apelo, podendo ser até mesmo considerada gratuita. A nova ameça ao nosso herói, Ivan Drago (Dolph Lundgren, de Os Mercenários 2), funciona como uma espécie de revisão de Clubber Lang (Mr. T), só que transmutado em "ideologia". Drago representa uma boa ameaça a Balboa, mas não pode ser considerado exatamente uma novidade à trama. Sendo assim, a repetição da repetição e os excessos estilísticos do filme acabam sendo mais prejudiciais do que o esperado, fazendo deste um filme inferior aos demais da franquia.

Assim como o discurso direto de bem (Estados Unidos, capitalismo) e mal (União Soviética, comunismo), chega a ser risível também a alternância de treinamento entre Ivan Drago e Balboa, que utilizam aparatos e técnicas completamente distintas, tendo este como recurso a natureza e a superação pessoal (que rende algumas imagens interessantes e atestam a criatividade de Stallone de se reinventar, apesar da inverosimilhança de tais imagens), enquanto aquele tem a seu dispor a mais alta tecnologia e especialistas ao seu redor. De tão exagerado e pueril chega a ser engraçado. Tudo isso entrecortado por verdadeiros videoclipes musicais.

Neste sentido, o roteiro de Stallone é ineficiente, pois o fato de preencher parte considerável do filme com  tais "videoclipes", visando suprir as lacunas narrativas através das letras das músicas, acabam por não acrescentar qualitativamente à trama, já que esta opção por intercalar falas com música a cada cinco ou dez minutos não encaixa bem para em uma obra cinematográfica, ainda mais quando o conteúdo das letras  é explicitamente ufanista e deslocado, como a de Burning Heart (da banda Survivor). Apesar da música ser legal, sua mensagem é no mínimo enviesada e alienada e, acrescentada como veículo narrativo do filme, dá ao mesmo um teor no mínimo superficial (o que, em resumo, é o maior mal da obra, a superficialidade).

Complementando a parte musical, destacaria que o excesso de sintetizadores empregados à trilha sonora de Vince DiCola faz despertar saudade imediata dos temas clássicos de Bill Conti (Delírios Mortais), que casavam perfeitamente ao clima e essência da saga, enquanto o show de efeitos e "modernidade" empregado por DiCola, apesar de não estragarem a experiência cinematográfica, não casam tão bem com o filme, além de soarem absolutamente datados (aspecto não exclusivo desta trilha, deixo claro).

Os detalhes fazem com que Rocky IV seja um filme fraco, especialmente devido ao seu roteiro preguiçoso e ao estilo de filmagem adotado por Stallone, que utiliza enquadramentos e decupagem que contribuíram para datar o filme. Soma-se a isso o excesso de flashbacks - marca da franquia, mas que aqui ocupam, juntamente aos citados "videoclipes", parte substancial do filme, que por sinal é um dos mais curtos da franquia, tendo apenas 87 minutos de duração -, uma certa descaracterização dos personagens do filme, inclusive Rocky e Adrian Balboa, que parecem ter perdido aquele misto de inocência e "ignorância" característicos (e que eram o charme dos mesmos) e o tom político banal e exageradamente estereotipado (o bem e o mal nunca esteve tão claro como em produções dos anos 1980), que acabam por influenciar no estabelecimento da sensação de irrealidade da trama, que mantém certo charme pelo carisma dos personagens e pelo sentimento afetivo à franquia, que apesar de ter obtido seu melhor retorno financeiro com este capítulo, este acabou também sendo responsável pelo afundamento da mesma, visto que o filme seguinte foi o que menos faturou, encerrando de uma vez por todas - pelo menos pelos próximos 16 anos - a então sem novidades saga de Rocky Balboa.

AVALIAÇÃO
TRAILER



Mais Informações:

Texto sobre Rocky, um Lutador (1976)
Texto sobre Rocky II - A Revanche (1979)
Texto sobre Rocky III - O Desafio Supremo (1982)
Texto sobre Rocky V (1990)
Texto sobre Rocky Balboa (2006)
Bilheteria:
Outros filmes de SYLVESTER STALLONE (como diretor) comentados:

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