18 novembro, 2012

O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, EUA, 2012).



Apesar de ter mais de duas horas de duração, esta mais nova investida do Homem-Aranha nos cinemas apresenta-se corrida e falha em muitos momentos. Longe de ser um filme ruim, O Espetacular Homem-Aranha apenas não possui o brilho e o senso de novidade do filme de 2002, que estabeleceu o personagem perante grande parte dos que hoje consomem suas histórias (seja no cinema ou nos quadrinhos). Uma espécie de reboot da franquia comandada anteriormente por Sam Raimi, a versão 2012 do "cabeça de teia" traz alguns bons momentos e até mesmo melhora alguns pontos dramáticos em comparação a primeira aventura do herói nas telas. Todavia, não o faz de forma plena, acabando por engalfinhar-se em seus próprios elementos narrativos, muitos destes apoiados em coincidências que acabam por prejudicar a magia promovida pelo filme, o que para uma aventura escapista como esta é um demérito.

É inegável que, no âmbito visual, o filme encontra-se impecável. Evoluído em todos os sentidos, a organicidade dos efeitos visuais quanto a dar vida ao Homem-Aranha beira a perfeição, sendo uma pena que as sequências de ação - à exceção da cena final do filme - não empolguem tanto, talvez pela falta de criatividade na elaboração das mesmas. Primeiro filme da franquia a adotar a tecnologia 3D, O Espetacular Homem-Aranha parece ter conduzido suas cenas de ação para funcionar neste quesito, mas não deixam a desejar quando visualizado no tradicional 2D (por sinal, conferi o filme neste formato).

A opção dos produtores em renovar a franquia é válida, contudo, o fato de escolherem recontar a mesma história vista há exatos dez anos sobre um "novo" prisma gerou desconfiança perante os entusiastas do personagem (me incluo nestes), talvez pelo bom trabalho realizado por Sam Raimi nos três filmes anteriores (ou seria nos dois primeiros?) e pelo fato de não ser necessário rever todo o background de Peter Parker/Homem-Aranhamais uma vez, já que apresentar o personagem já formado e atuante caberia perfeitamente neste filme. Logo, apesar do resultado final não ser de todo ruim, ao meu ver o filme não conseguiu superar a abordagem feita anteriormente, o que por si só acaba por classificá-lo como falho.

Este universo rebootado teve alguns novos acréscimos interessantes. Andrew Garfield (A Rede Social) se encaixou muito bem tanto como Peter Parker quanto como Homem-Aranha, inclusive convencendo mais do que o intérprete anterior da personagem, Tobey Maguire (Seabiscuit - Alma de Herói), muito devido ao seu porte físico, que convence mais como um adolescente desajustado (físico e emocionalmente). Enquanto Maguire explorava muito a inferioridade de Parker, Garfield emprega mais energia dramática ao seu personagem, tornando-o mais complexo. Entretanto, apesar da óbvia entrega do ator, o roteiro parece não explorar tanto a motivação de Peter Parker, deixando-o excessivamente refém de acontecimentos e circunstâncias alheias ao seu poder de decisão.

ATUALIZAÇÃO (3/9/2013).

Sem contar com a presença da personagem Mary Jane, o interesse amoroso do nosso herói encontra-se na doce e prestativa Gwen Stacy, interpretada com graça por Emma Stone (Histórias Cruzadas). Mesmo que a personagem não seja tão trabalhada, a química entre esta e Andrew Garfield acaba por preencher algumas lacunas, fazendo com que compremos a paixonite entre ambos. Já o vilão composto pelo inglês Rhys Ifans (Anônimo), Dr. Curt Connor/Lagarto, acaba sendo o personagem que mais sofre no filme. Antes do experimento que origina a persona Lagarto, o ator consegue compor um cientista de personalidade tridimensional, cujos traumas e feridas transparecem em seu olhar. Contudo, após o experimento a impressão passada é a de que reaproveitaram os desdobramentos do Duende Verde de Willem Dafoe (Homem-Aranha, de 2002), visto que os roteiristas depositam toda a vilania do personagem em uma suposta loucura adquirida pelo mesmo após sua transformação.

A fragilidade do personagem Lagarto deve ser atribuída não ao desempenho de Ifans, que encontra-se bem no papel, mas sim as opções tomadas pelos roteiristas James Vanderbilt (Zodíaco), Alvin Sargent (Homem-Aranha 3) e Steve Kloves (franquia Harry Potter), que não amarram tão bem alguns elementos narrativos, pesando a(s) mão(s) quando investem nas coincidências envolvendo os pais de Peter Parker e sua futura transformação em Homem Aranha, além da caricatura na qual transformam Connor, que até então se apresentava como um personagem interessantíssimo, devido a sua tridimensionalidade (quando este se torna Lagarto a única tridimensionalidade que permanece é a dos pixels e da texturização virtual). Por outro lado, a abordagem mais sóbria que a da trilogia anterior e a opção de ambientar a história em um ambiente mais próximo à realidade, afastado do cartunesco abraçado pelos filmes de Sam Raimi, fazem muito bem ao longa, pois acaba fazendo com que o espectador se importe mais com os personagens.

Apesar de algumas falhas do roteiro, a direção do jovem Marc Webb (500 Dias com Ela) é eficiente e aposta em uma pegada mais "séria" que a da trilogia de Raimi, que investia mais em uma aura mágica. É certo que Webb não se sobressai ou deixa sua assinatura, mas realiza um trabalho correto, bem feito. Talvez os momentos onde o Webb mais se destaca sejam aqueles em que o relacionamento dentre Peter e Gwen são objeto da trama, pois as cenas de ação, apesar de bem orquestradas, não marcam tanto por lembrarem muito o que já fora feito anteriormente. Nota-se que a equipe de efeitos visuais tentou emular uma estética mais próxima a dos vídeo-games e tal abordagem funcionou em alguns momentos, já em outros não. Talvez na sequência isto também seja ajustado. Já a trilha sonora composta pelo veterano James Horner (Titanic) segue a mesmo tom do filme, destacando-se em alguns momentos - em especial os mais introspectivos e o tema do filme - e "desaparecendo" em outros.

CONCLUSÃO ORIGINAL (18/10/2012)

Longe de ser um filme ruim, O Espetacular Homem-Aranha carrega bons momentos e é visualmente deslumbrante, contudo a tentativa de dar certa "sobriedade" ao personagem - influência direta do Batman de Christopher Nolan? - e a de interligar eventos passados com a origem do mesmo não soam tão consistentes, descaracterizando a essência maior do herói, que é puramente aventura. Com muita ambição e uma suposta complexidade para uma trama apenas regular - ao meu ver as presenças de Martin Sheen (Apocalypse Now) e Sally Field (Forrest Gump, o Contador de Histórias), interpretando tio Ben e tia May respectivamente,  foram desperdiçadas -, o filme acaba por não superar a franquia original em sua totalidade, mostrando-se em muitos níveis inferior aquela, resultando num ótimo espetáculo visual, mas que não empolga ou causa adrenalina como era esperado. Particularmente prefiro a visão cartunesca, porém mágica de Sam Raimi e cia.

CONCLUSÃO ATUALIZADA (3/9/2013)

Superada a birra inicial pela má impressão sentida pelo fato do filme "recontar" uma história já muito bem abordada há pouco mais de dez anos, percebo que O Espetacular Homem-Aranha é sim um bom filme, cuja construção é, no geral, bem executada, além de ser dono de uma algumas sequências memoráveis. Seu elenco rivaliza com o dos filmes anteriores, tendo inclusive um intérprete de Peter Parker/Homem-Aranha mais bem encaixado e verossímil. Existem pequenos detalhes na montagem do filme que incomodam, pois enquanto temos alguns momentos bem destacados, outros são apresentados de forma apressada, prejudicando a coerência narrativa do filme, que almeja o topo, mas patina bastante para chegar próximo a ele. Talvez o termo Espetacular seja um exagero para classificar o filme, mas é perceptível a vontade dos envolvidas em alcançarem tal marca. Não conseguiram com este primeiro novo longa, mas não fizeram feio.

AVALIAÇÃO
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