27 novembro, 2012

Distrito 9 (District 9, EUA/NZE/CAN/AFS, 2009).


"Nenhum ser humano é permitido. Você não é bem vindo aqui" (Livre tradução das frases dispostas no cartaz oficial do filme).
Uma boa ideia e muita criatividade valem muito mais do que um grande orçamento à disposição e Distrito 9, estreia do sul-africano Neill Blomkamp na direção de um longa metragem, atesta essa assertiva. Apadrinhado pelo oscarizado Peter Jackson (trilogia O Senhor dos Anéis), Blomkamp conseguiu realizar uma ficção-científica contemporânea  e recheada de crítica social, com ecos óbvios do regime do apartheid de seu pais - o filme se passa em Joanesburgo, África do Sul -, mas sem soar maçante ou político demais, muito pelo contrário, apesar de brincar com a estética de documentário, Distrito 9 é entretenimento acima de tudo, com efeitos visuais competentes e diálogos espertos.

O filme estrelado por Sharlto Copley (Esquadrão Classe A) tem como pano de fundo a transferência de uma comunidade alienígena (isso mesmo) de um bairro periférico (o tal Distrito 9) para uma instalação "supostamente" mais adequada aos mesmos. São quase dois milhões de habitantes no tal distrito e obviamente tanto a remoção deles quanto as motivações por trás desta ação não são lá das mais prodigiosas. Copley interpreta um Zé Ninguém que recebe a "honra" de liderar a equipe de despejo, mas acaba infectado por uma misteriosa substância, que acaba transformando-o pouco a pouco num dos "camarões" (termo pejorativo aplicado aos alienígenas) que tanto o enoja.

Apesar do pano de fundo já confirmar a criatividade de Blomkamp e da co-roteirista Terri Tatchell (ou, no mínimo, o seu poder metafórico), o grande chamariz do filme reside mesmo na transformação de caráter pela qual passa o personagem de Sharlto Copley, Wikus van de Merwe, quando o mesmo passa a sentir na pele (literalmente) como é ser e viver como um "alienígena marginalizado". É impossível não associar os "camarões" as minorias marginalizadas, mais especificamente os negros sul-africanos, tanto pelo filme se passar no país, como também pelo criador da trama ser cidadão deste país.

Fazendo um recorte, é válido destacar que, apesar de no panorama geral os alienígenas de Distrito 9 ganharem uma aura de vítimas, o diretor acerta ao não generalizar tal conceito, pois estabelece os personagens com características próprias, tendo inclusive espaço para "camarões" criminosos (ladrões, assassinos etc.) e violentos, tanto quanto os seres-humanos, dando assim uma abordagem mais crível à trama, que os apresenta de forma generalista como vítimas da exploração humana (nenhuma novidade, não é?), mas sem os santificar, construindo-os também como seres falhos, possivelmente de caráter tão bifurcado quanto o nosso.

Uma das maiores surpresas do ano de 2009 (tanto é que o filme acabou sendo indicado ao Oscar de melhor roteiro, melhor montagem, melhores efeitos visuais e até mesmo melhor filme), Distrito 9 pode ser classificado como um filme multidisciplinar, já que tem essência de ficção-científica, apresenta cenas de ação dotadas de efeitos especiais bacanas (é certo que neste sentido o filme não é "perfeito", mas quando é sabido que foram gastos "apenas" 30 milhões de dólares para a confecção do mesmo, tal discussão perde a validade, tamanha a competência apresentada com "tão pouco orçamento") e um pano de fundo político-social crítico que chama a atenção, propõe reflexão, porém sem nunca soar pedante, muito pelo contrário, pois Distrito 9 se assume desde o início como entretenimento puro e acaba comprovando isso do início ao fim de sua projeção, mas sua "pureza" não inibe a relevância de seu conteúdo, até por que todos as boas obras de "puro" entretenimento em essência trazem bem mais do que explosões e gargalhadas e Distrito 9 é sem sombra de dúvidas um perfeito exemplar de puro "puro" entretenimento (com cérebro).

AVALIAÇÃO
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