07 janeiro, 2014

Até o Limite da Honra (G.I. Jane, EUA, 1997).


Os anos 1990 não foram lá muito bons para os grandes cineastas surgidos entre as décadas de 1970 e 1980. Nomes como Martin Scorsese e Francis Ford Coppola lançaram trabalhos interessantes como A Época da Inocência, Kundum, Vivendo no Limite (todos assinados por Scorsese), Jack, O Homem Que Fazia Chover (filmes de Coppola), mas que não chegavam (pelo menos à época) aos pés de seus trabalhos primeiros, como Taxi Driver, Touro Indomável, O Poderoso Chefão e Apocalypse Now. Assim como estes citados, o inglês Ridley Scott também atingiu seu auge criativo no mesmo período, quando apresentou ao mundo obras como Alien, o Oitavo Passageiro e Blade Runner - O Caçador de Androides. Entretanto, após voltar a obter evidência com o querido roadie movie Thelma & Louise, Scott meio que perdeu a mão, lançando títulos "esquecíveis" por toda a década de 1990, até voltar novamente aos holofotes com o lançamento de Gladiador.  

Até o Limite da Honra encontra-se no rol de produções duvidosas assinadas pelo cineasta, mas revisitando a obra após mais de quinze anos de seu lançamento é fácil notar que esta não é a bomba que se acreditava anteriormente, pois mesmo possuindo alguns problemas esta mostra-se eficiente no que se propõe: denunciar (mesmo que de forma exageradamente didática) a prevalência do machismo em todos os espectros da sociedade, mas principalmente nas forças armadas e no militarismo. Escrito pela dupla Danielle Alexandra e David Twohy (Eclipse Mortal), o filme narra a saga da primeira mulher (Demi Moore, de Instinto Secreto) a ser aceita na academia de formação dos Navy Seals, grupo de elite da Marinha norte-americana, após a indicação política de uma senadora (Anne Bancroft, de A Primeira Noite de um Homem). Contando com uma estrutura um tanto previsível, como não poderia deixar de ser, o filme se apoia quase que totalmente na atuação de Moore, que apesar da pressão negativa sofrida (a atriz acabou ganhando o Framboesa de Ouro de pior atriz pelo papel), consegue realizar um bom trabalho, mesmo este exigindo mais do que o alcance dramático da atriz alcança. É certo que a atriz surpreende mesmo na entrega às cenas de grande demanda física, o que é algo a ser aplaudido.

Como dito no início Até o Limite da Honra é um filme problemático, mas não tanto pela escolha de Moore como protagonista, mas sim em alguns pontos do roteiro e em algumas decisões tomadas por Ridley Scott na condução do filme. Quanto ao roteiro, é óbvio que por se tratar de um filme que procura enaltecer a capacidade da mulher norte-americana a conexão para com a pátria não deixaria de ser um elemento constante à trama, porém a forma com que este é explorado não é agradável, beirando, inclusive, ao exibicionismo. É bandeira para cá, câmera posicionada a elevar ainda mais o "heroísmo" de determinados personagens em determinadas cenas, exploração de tipos arquetípicos pouco profundos (há o comandante malvado que realiza maldades com o intuito de "fortalecer" seus discípulos, o político à frente de seu tempo que se revela como um ser desprezível, o soldado cujo cérebro é do tamanho de um grão de feijão etc.) e o tom exagerado de filme-superação. Com isso, apesar do plot interessante, a execução patina um pouco, talvez por não confiar plenamente na força do produto que tem em mãos. A bem verdade a melhor palavra a definir o filme seria piegas, pois é justamente assim que algumas cenas podem ser definidas, o que é uma pena.

Apesar de possuir uma estrutura um tanto ultrapassada e ser entrecortado por clichês mais do que batidos (a diferença é quem sofre aqui não é um jovem recruta, mas sim uma jovem recruta), Até o Limite da Honra funciona, especialmente se o vermos como um retrato da época, produto de uma década ainda me busca de identidade. Não é um grande trabalho de Ridley Scott (a bem verdade não consigo enxergar qual foi a contribuição positiva deste no comando da produção, já que, no meu ponto de vista, esta poderia ter sido dirigida - nos moldes que acabou sendo lançado - por qualquer outro cineasta com um mínimo de conhecimento cinematográfico), mas guarda alguns bons momentos. Poderia ser mais profundo, poderia ser mais pesado na crítica à estrutura política, poderia ser menos dotado de "testosterona", mas só o fato de Demi Moore se entregar ao papel e se esforçar para entregar uma personagem minimamente convincente e de encontramos um caricato (mas também eficiente) Viggo Mortensen (Um Método Perigoso) ainda em início de carreira mas já "chutando bundas" já vale a conferida.

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