31 janeiro, 2014

Minha Vida com Liberace (Behind the Candelabra, EUA, 2013).

"Muito de uma coisa boa é maravilhoso" (Liberace).
E a HBO segue arrasando na realização de filmes que os estúdios tradicionais de cinema não têm a coragem de produzir. Produzido pelo veterano Jerry Weintraub (trilogia Onze Homens e um Segredo), escrito por Richard LaGravenese (As Pontes de Madinson) - tendo como base o livro Behind the Candelabra: My Life with Liberace, de Scott Thorson e Alex Thorleifson -, dirigido por Steven Soderbergh (Terapia de Risco, Magic Mike) e estrelado por Michael Douglas (À Toda Prova) e Matt Damon (Elysium), Minha Vida com Liberace, drama biográfico que narra o relacionamento amoroso (e secreto) entre o famoso pianista Liberace (Douglas) e um garotão do interior (Thorson, autor do livre, aqui interpretado por Damon), é um filme envolvente e divertido, construído como um misto de comédia (classuda) e drama, orientado quase que inteiramente à composição de época (fabulosa) e as interpretações, tendo óbvio destaque a dupla principal (caso não tivesse sido feito para a tevê, certamente Douglas e Damon teriam lugar garantido entre os indicados ao Oscar).

É praticamente inacreditável (ainda mais levando em conta o histórico "casca grossa" do ator) a transformação visual e de atitude de Michael Douglas em sua composição de Liberace. O ator se entrega ao personagem, nos fazendo crer que ele É Liberace, tanto em seus momentos "artísticos" quanto naqueles de cunho pessoal. Completamente a vontade dentro do personagem, Douglas entrega aqui talvez a melhor interpretação de sua carreira (que me perdoem os fãs de Gordon Gecko), sem pudor ou frieza em momento algum. Outro que segue o caminho de Douglas é Matt Damon, que compõe um Scott Thorson para lá de dúbio, especialmente pelos ataques de paranoia insuflados pela dependência química. O laço amoroso entre ambos é muito louco, indo da paixão puramente sexual a um relacionamento nos moldes de mestre e protegido, de pai e filho, o que enaltece ainda mais o brilhantismo das composições da dupla de atores, que literalmente somem dentro de suas personagens. Mesmo com pouco tempo em cena outro ator que acaba se destacando é Scott Bakula (O Desinformante), cujo personagem é o grande responsável pelo início do relacionamento entre Thorson e Liberace, além de Rob Lowe (Contato), irreconhecível.

Como a maioria dos filmes dirigidos por Soderbergh, o aparato estético acaba sendo um grande destaque, que vai desde a fotografia do próprio diretor ao figurino primoroso de Ellen Morojnick (Tropas Estelares) ao desenho de produção coordenado por Howard Cummings (O Homem Que Fazia Chover), grandes responsáveis pela caracterização absurdamente real do final da década de 1970/início da década de 1980. A maquiagem e a direção de arte também complementam bem a temática romântica (em mais de um sentido) do filme, que acaba não só estabelecendo a relação conflituosa entre os dois amantes como também presta homenagem aos espetáculos televisivos da época, cuja coroa é representada pelo show de entrega do Oscar no início dos anos 1980.

A música é outro elemento que sobressai - mesmo que de forma mais tímida quando comparada ao visual do filme -, afinal de contas acompanhamos momentos de pura inspiração do artista do piano Liberace. A coordenação do projeto musical e a composição da canção I Belong with You ficou a cargo de Marvin Hamlisch, músico do mais alto gabarito que infelizmente não pode acompanhar a ótima repercussão do filme pois acabou falecendo em 2012. Por fim, destacaria a montagem do filme - outra das funções acumuladas por Soderbergh -, que equilibra-se bem entre produto feito para ser exibido na tevê com uma pegada "cinematográfica", de forma que bate até um desgosto em saber que, à exceção do Festival de Cannes (no qual o filme ganhou uma indicação a Palma de Ouro), o mesmo não foi exibido na tela grande.

Vencedor de vários prêmios - incluindo os Globos de Ouro de melhor filme ou minissérie para tevê e melhor ator (Michael Douglas, merecidíssimo) e 11 Emmy Awards (incluindo o de ator para Douglas) -, Minha Vida com Liberace pode ser visto como um filme duplamente bem-sucedido, pois não apenas resgata parte do legado de uma das personalidades mais célebres do entretenimento norte-americano (além de quebrar alguns paradigmas a respeito de seu caráter, mesmo que de forma tardia), como também proporciona um belo espetáculo cinematográfico que discute com certa profundidade os bastidores do sucesso e como este muitas vezes atrapalha não apenas a visão de mundo do ser operante, como também dele com relação as pessoas que lhe são próximas. Exagerado, luminoso, grandiloquente e onírico, Minha Vida com Liberace parece representar bem a essência do personagem Liberace, seja esta verdadeiramente falsa ou falsamente verdadeira.

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