22 janeiro, 2014

Obsessão (The Paperboy, EUA, 2012).

"Uma excelente performance de Kidman" (Peter Bradshaw, do jornal The Guardian).
"Excepcional... merece ser visto" (Los Angeles Times).
"Poderoso... tenso e sinistro" (USA Today).
"Trashy, fumegante, divertidamente sem remorso" (Revista Total Film).
O início de Obsessão é um tantinho confuso e os exageros estéticos por parte do diretor Lee Daniels (Preciosa - Uma História de Esperança) e seu diretor de fotografia Roberto Schaefer (O Caçador de Pipas) não ajudam muito neste entendimento, mas com o passar do tempo a trama vai sendo melhor digerido, culminando num terceiro ato tenso e inquietante, onde a tônica filme B é completamente assumida pela obra e o escancarar da perversidade humana é posta a prova. Há muito de loucura e perversão neste terceiro filme de Daniels, mas ambos servem ao filme, mesmo que o equilíbrio entre suas intenções artísticas e o que é apresentado em tela nem sempre funcione a contento.

Há tempos um filme não dividia tanto as opiniões da crítica como o fez Obsessão (o título original, The Paperboy, faz referência aqueles garotos que entregam jornais), que passou de indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes à título misógino e apelativo para uma parte substancial da crítica especializada (não à toa a nota média do filme está em 43% no Rotten Tomatoes). Humildemente me encontro entre as opiniões extasiadas do filme à época de Cannes (como bem resume as citações contidas no poster promocional do filme) e o nariz torto daqueles que o viram posteriormente, já que enxergo nesta obra de Daniels alguns pontos interessantíssimos, mas também algumas escolhas duvidosas. Sendo assim, vamos a elas.

O cenário exagerado, um tanto caótico e recheado de tipos caricatos e, por que não, afetados dão o tom a Obsessão, que ganha o espectador pela exploração de tipos marcantes e/ou curiosos, que são entrelaçados a uma trama que envolve amor "indecente", homicídio, racismo e homossexualidade. Apesar de uma ou outra escorregada no equilíbrio desta equação, Lee Daniels e Pete Dexter conseguem dar vazão a um texto que desperta interesse, mesmo que um tanto indigesto em seu início. Com certeza existem sequências inteiras no filme que beiram ao nonsense e podem despertar a ideia de se estas seriam ou não necessárias ao bom desenvolvimento da obra. No meu ponto de vista são sim necessárias, já que o choque sempre vem acompanhado de algum tema a ser refletido ou no mínimo encontram-se entrelaçados à psicologia perturbada de seu elenco principal.

Falando em elenco, é impossível não aplaudir a excelente escalação deste filme, cujo panteão de estrelas é inegável e todos - absolutamente todos - encontram-se muito bem em seus respectivos papéis, sejam estes grandes ou pequenos. Nos papéis principais temos o cada vez mais bem quisto Matthew McConaughey (Amor Bandido), como o jornalista que procura inocentar o suposto assassino vivido por John Cusack (Sangue no Gelo), Zac Efron (Hairspray), o "paperboy" do título, que interpreta o irmão do personagem de McConaughey, uma espécie de auxiliar do jornalista, Nicole Kidman (Segredos de Sangue), como a "perua pirada" que convoca o jornalista com o intuito de inocentar o personagem de Cusack, pelo qual esta encontra-se "apaixonada", Scott Glenn (O Silêncio dos Inocentes), como o pai de McConaughey e Efron, e David Oyelowo (Planeta dos Macacos - A Origem), como o parceiro jornalista de McConaughey. Logo, percebe-se que todos surgem conectados de alguma forma, o que é ampliada pela boa composição de todos, que realmente "abraçam" a anormalidade do filme. É difícil afirmar se o elenco funciona por conta do poder de fogo de sua trama ou se esta só "pega" devido ao talento do elenco. Independentemente do motivo, o que importa é que o casamento entre elenco e filme deu-se de maneira ímpar.

A direção de arte, o desenho de produção e o figurino do filme também chamam atenção, pois encontram-se entre o real e o onírico, aspecto este bastante presente no desenrolar da trama, devido a sucessão de eventos "inacreditáveis" que nos é apresentado. A música - a cargo de Mario Grigorov - também se mostra interessante, complementando bem os climas regados a exagero pedidos pelo filme. O que não funciona tão bem é a fotografia saturada e excessivamente tremida de Schaefer - sob a supervisão (ou a pedido) de Lee Daniels - e a edição do filme (Joe Klotz, de Reencontrando a Felicidade), principal responsável pelo início confuso do filme e pela oscilação de ritmo, que só encontra certo equilíbrio a partir do fim do segundo ato, quando a tensão do filme começa a ganhar corpo.

Difícil de ser classificado, Obsessão não é um filme de fácil assimilação, logo, nem todos que o virem tirarão algo de interessante de sua proposta. Há sim excessos tanto no âmbito narrativo quanto no quesito estético (talvez o maior problema do filme, como comentado no parágrafo acima), como também no encaixe das composições de alguns atores (é óbvio que John Cusack apostou mais na caricatura do que seus companheiros de tela), mas no âmbito geral ele funciona, pois provoca ao jogar uma mistura de sexo, violência, conceitos morais distorcidos e preconceito em uma trama de crime "padrão", desejando assim incomodar o espectador para que este enxergue tais pautas de uma maneira menos padronizada, menos organizada. É óbvio que a pretensão de Daniels é maior do que seu filme conseguiu traduzir, mas mesmo assim indico a visita. Todavia, respire fundo antes de iniciar esta jornada de pouco mais de noventa minutos pelo mundo surtado de Lee Daniels e Pete Dexter.

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