08 janeiro, 2014

Planeta dos Macacos - A Origem (Rise of the Planet of the Apes, EUA, 2011).

"Evolução torna-se revolução" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional).
Arrebatador. Com esta palavra consigo descrever o que senti após rever este reboot da franquia Planeta dos Macacos. Lançado de forma "discreta" em 2011, Planeta dos Macacos - A Origem, dirigido pelo promissor Rupert Wyatt (The Escapist, inédito no Brasil), é uma peça de entretenimento de primeira qualidade, que toma para isso a missão de recontar a mitologia dos filmes "clássicos" para uma nova audiência, mas sem cometer o vício de apresentar mais do mesmo, já que muito do que vemos aqui não fora apresentado anteriormente, sendo este filme mais do que uma refilmagem (como acabou sendo o longa de Tim Burton, lançado em 2000), mas também um prelúdio.

Ambientado nos dias de hoje e não em futuro próximo, a trama escrita por Rick Jaffa (Olho por Olho) e Amanda Silver (A Mão Que Balança o Berço) apresenta uma justificativa cabível para o início do desenvolvimento de uma sociedade símia, que aparece conectada aos cada vez mais avançados (e, por isso mesmo, complexos) estudos científicos relacionados a genética. Ligando a busca pela cura do Alzheimer ao desenvolvimento de algumas funções cerebrais, Jaffa e Silver acabam por preencher de cientificidade (ou pelo menos de ilusão científica) o universo geralmente fantasioso dos filmes anteriores da franquia Planeta dos Macacos. Não que falte imaginação e fantasia ao filme, mas o pé no científico encontra-se mais forte, além da ambientação nos nossos dias contribuir para que aceitemos melhor as possíveis "improbabilidades" surgidas no decorrer da trama.

Certamente a utilização da técnica de motion capture (captura de movimentos) aliada aos efeitos de computação gráfica de último nível agregou bastante ao filme, que carecia de um senso de novidade. Não que a "macacada" digital tenha atingido a perfeição - nota-se certa discrepância na verossimilhança provocada pelos efeitos quando comparamos as cenas iniciais, que apresentam o símio Cesar (Andy Serkis, de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada) criança, em comparação ao mesmo em idade adulta -, mas em algumas momentos a ilusão de realidade provocada é tão grande que chega a assustar. Mérito da empresa de efeitos digitais WETA e do encarregado pela supervisão no filme, Joe Letteri, um dos profissionais mais reconhecidos da área, vencedor de quatro Oscar (O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, King Kong e Avatar) e dono de outras três indicações. Certamente, apesar de não 100%, a tecnologia empregada nos efeitos visuais do filme sagrou-se como um dos grandes destaques do mesmo.

Todavia, se o roteiro não fosse bom e o elenco não trouxesse credibilidade a ele nem mesmo os efeitos especiais mais espetaculares já vistos poderiam segurar o filme em sua completude. Felizmente o filme de Rupert Wyatt mostra-se equilibrado neste sentido, abusando dos efeitos (até por que o que importa ao filme é apresentar a evolução dos símios como espécie inteligente), mas sem esquecer da qualidade do filme no aspecto "carne e osso". Para isso Wyatt selecionou um elenco bacana para contracenar com as "criaturas digitais", que conta com gente do porte de Brian Cox (Voo Noturno) e John Lithgow (O Dossiê Pelicano), nomes promissores como David Oyelowo (Jack Reacher - O Último Tiro), Tom Felton (o Draco Malfoy da fraquia Harry Potter) e Freida Pinto (Quem Quer Ser um Milionário?), além de James Franco (Oz: Mágico e Poderoso) e o já citado Andy Serkis como os protagonistas da história contada. Por fim, destaco o desempenho do ator, dublê e coreógrafo Terry Notary (As Aventuras de Tintim), tanto pelo desenvolvimento das coreografias dos atores que interpretam os macacos através da tecnologia de captura de movimento, quanto pelo mesmo interpretar dois destes, o chimpanzé macho Rocket e a chimpanzé fêmea Bright Eyes (Olhos Brilhantes), mãe de Cesar.

Certamente as performances que mais se destacam dentre os membros do elenco são as de Serkis, praticamente um especialista em interpretar criaturas (em seu currículo pesam personagens icônicos como Gollum e Kong), que consegue dar uma dimensão humana ao chimpanzé Cesar e Lithgow, que mesmo com pouco tempo em cena consegue conquistar qualquer um em sua composição de músico sofredor de mal de Alzheimer. Talvez os elos mais fracos do filme residam nas interpretações de Felton (que repete os trejeitos e personalidade de Draco Malfoy) e Franco, que não compromete, mas parece não tão a vontade no papel. Este até que se esforça, mas não convence a perfeição como um cientista altamente gabaritado. Sorte do filme que o verdadeiro astro seja Cesar.

Apesar de não ter contado com um orçamento inchado (oficialmente o filme custou a "bagatela" de 90 milhões de dólares), Wyatt e companhia não se furtaram de contratar alguns dos melhores profissionais do cinema hoje para os postos técnicos. Além do supervisor de efeitos Joe Letteri, Wyatt contou com os serviços do também oscarizado Andrew Lesnie, diretor de fotografia responsável pelas belíssimas imagens da trilogia O Senhor dos Anéis e vencedor do oscar da categoria pelo primeiro filme desta trilogia. Lesnie realiza aqui um trabalho primoroso, especialmente nas tomadas abertas, além de posicionar muito bem sua câmera nas sequências de ação, comportando-se muito quando estas mostram-se recheadas de efeitos especiais. Também merece destaque a trilha sonora, que ajuda a narrativa ao mesmo tempo que marca, ficando alguns de seus temas grudado aos ouvidos após o encerramento do filme. Mérito do maestro Patrick Doyle (Valente).

Conduzido de forma inteligente e concisa (não enxerguei nenhuma barriga à obra), além de mostrar-se equilibrado entre os momentos de tensão, os emotivos e os de cunho reflexivo, Planeta dos Macacos - A Origem é um dos melhores blockbusters de 2011, conseguindo mostrar-se "original" apesar de fazer parte de um universo preestabelecido anteriormente. O filme não se furta a discutir a condição humana, especialmente inserida no processo de evolução de percepção de vida de Cesar. Há muito de filosofia, psicologia e política no filme, o que por si só já é um grande diferencial em comparação as inúmeras peças de entretenimento dispostas no cinema cujo conteúdo é reduzido a fermentação de pixels e nitroglicerina.  Os puristas que me perdoem - só a título de registro, adoro o filme de 1968, dirigido por Franklin J. Schaffner e estrelado por Charlton Heston -, mas este é, até então, o melhor filme que tem como referência o romance concebido pelo francês Pierre Boulle.

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