23 setembro, 2012

Dredd (ING/AFS, 2012).

"O julgamento está chegando". (Chamada do cartaz oficial do filme).
 
Antes de mais nada, é válido começar afirmando que Dredd é uma grata surpresa. Apesar de ser mais uma adaptação de um personagem de histórias em quadrinhos, o filme não guarda nenhuma relação com as produções baseadas em personagens da Marvel e da DC saídas nos últimos anos. A HQ na qual o filme tem como base nem de longe pode ser classificada como de "super-herói", visto que o grande mote dela é a exposição de um futuro tenebroso para a humanidade, num momento onde a violência é dominante e para "acelerar" o processo de "justiça" foi instituída a figura do juiz de rua, que possui carta branca para prender, julgar e sentenciar. A história de Dreed - um dos dos juízes - já fora adaptada anteriormente ao cinema, para muitos um filme horroroso (nunca assisti) e um dos piores da carreira do astro Sylvester Stallone (Os Mercenários).
 
No entanto, aparentemente este Dreed é bastante fiel à fonte original, trazendo o "vigilante" de capacete agindo em Mega-City One, uma das únicas cidades existentes nos Estados Unidos após uma hecatombe nuclear que dissipou grande parte da população (e a cidades também). A população vive enfurnada numa cidade cercada de paredões e a violência urbana chegou a níveis inconcebíveis, lembrando até mesmo uma extensão da Detroit de RoboCop. É neste ambiente inóspito e sujo que a trama de Dredd se passa e se não há grandes reviravoltas ou um enredo revolucinário, é justamente na simplicidade e na exposição da violência como crítica mordas aos nossos dias de cinismo e hipocrisia que o filme ganha sua força.
 
Estrelado por Karl Urban (O Senhor dos Anéis: As Duas Torres), Olivia Thrilby (Juno) e Lena Headey (série Game of Thrones), o filme escrito por Alex Garland (Extermínio) é um ótimo filme de ação, com um visual marcante, ambientação crível e toneladas e toneladas de sangue e corpos. Garland equilibra bem a crítica social com doses cavalares de entretenimento, construindo assim um roteiro que se não originalíssimo, surge bem compactado e honra com folga a proposta abraçada. Quanto ao elenco principal, Urban aparece surge bem como protagonista, demonstrando força e carisma (mesmo com 2/3 de seu rosto coberto) e convençe como um policial/juiz um tanto quanto sádico, só que em alguns momentos sua cara de mau chega a cansar um pouco (precisava mesmo ficar esticando a boca toda hora?), Thrilby dá um toque de suavidade e inocência a esta filme um tanto quanto pesado e masculino a sua personagem, que a bem verdade serve apenas como olhos do espectador neste ambiente até então desconhecido, mas é Heady quem realmente surpreende, visto que constroi uma vilã interessante (não no sentido de profundidade, pois a mesma não possui) e ameaçadora, especialmente por contrapor a aparência rústica com uma tonalidade de voz suave e até mesmo um tanto apagada. Uma grande composição da atriz para a antagonista do juiz.
 
O diretor Pete Travis (Ponto de Vista) traz em Dredd algumas sacadas muito criativas, como a utilização de um "poético" e super-estilizado slow-motion  que surge como representação dos efeitos alucinógenos de uma poderosa e novíssima droga, uma rara utilzação interessante de sangue virtual (não há como ficar tão quanto o "verdadeiro", mas o desse filme é muito mais eficiente do que o de Os Mercenários 2, por exemplo), além do bom trabalho de composição visual  e de condução das cenas de ação, que dominam praticamente todo o filme. É certo que o filme tem poucos memomentos que expõem a geografia de Mega-City One, já que a maior parte de suas cenas são ambientadas dentro de um prédio/bairro (outra ideia bacana de Travis, Garland e cia.), mas o andamento da obra chama tanta a atenção que a curiosidade acerca de que é a cidade acaba sendo deixado de lado. Destaco também a trilha sonora sintetizada doe escocês Paul Leonard-Morgan (Sem Limites), que lembra um pouco as músicas de Tron, o Legado, só que numa versão bem "suja".
 
Apesar da violência ser o mote principal em Dredd, ela integra o filme de maneira orgânica, sem apelar de forma desnecessária ou sem motivação aparente. Ela provoca sentimentos de choque e repulsa, o que por si já torna o filme atraente, visto que nesses dias está cada vez mais comum vermos filmes que despejam litros de sangue em tela, mas que o fazem com o intuito de provocar risos, de gerar comoção, o que acaba por banalizar não só a violência enquanto ficção, mas podendo até mesmo interferir na percepção acerca dela na vida real.
 
Não conferi Dredd em 3D, mas confesso que não senti falta. Um bom filme de ação, dono de uma abordagem e de um visual interessante, bem-realizado e que resgata um pouco do conceito dos filmes de ação e ficção-cietífica da década de 1980, como Blade Runner, o Caçador de Androides e o já citado RoboCop, visto que apesar de ter como meta número um entreter através de elementos de ação, possui identidade e, mesmo que através de sutilezas do desenho de produção e de pontuais elementos dispistos no roteiro, apresenta uma discussão mais elaborada e passa uma mensagem crítica sobre a sujeira, ambição e fúria cega do ser humano que já foi explicitada diversas vezes por outras obras, mas que não deixa de ser interessante receber este tipo de lembrete novamente.
 
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