11 setembro, 2012

O Cão Branco (White Dog, EUA, 1982).


Lembro-me de quando criança ver apenas trechos deste filme, visto que meu pai não me deixava assisti-lo devido à grande violência do mesmo. Conferindo-o hoje, vejo que, apesar de ter sua dose de sangue, a violência a qual meu pai se referia nada mais era do que a psicológica, justamente a que causa mais temor e angústia, por manter-se viva e presente nos pensamentos e imaginação de quem confere a obra, ainda mais se esta for uma criança. Dirigido por Samuel Fuller, O Cão Branco apresenta a história de um cão pastor alemão que fora treinado desde filhote para atacar pessoas de pele negra e a tentativa de um treinador negro (Paul Winfield, de Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan) em recondicioná-lo. Carregado de conteúdo anti-racial e com cenas fortes, o filme acabou sendo engavetado pela Paramount (produtora) antes mesmo de seu lançamento, visto que a mesma ficou temerosa quanto a possíveis processos que poderia vir a sofrer devido a má publicidade que o filme acabara por receber de grande parte do público, em especial justamente o afro-americano.

No entanto, mesmo com o ato covarde da produtora, que acabou por fazendo com que Samuel Fuller decidisse mudar-se para Paris, O Cão Branco acabou ganhando espaço na televisão anos depois, tanto que foi a partir dela que tomei conhecimento da existência do filme. É certo dizer que esta obra, baseada num romance do francês Romain Gary, é assertiva no que tange a aplicar no homem a culpa pela utilização de cães como instrumentos de distinção racial, mas não se furta apenas ao cão em si, utilizando o mesmo até mesmo como metáfora para o condicionamento do preconceito que é semeado dentro do próprio seio familiar - a cena em que o dono do cão aparece com suas netas confirma isso.

A realização do filme, no âmbito técnico, é primorosa. Fuller, acostumado a trabalhar com produções de baixo orçamento, utiliza aqui recursos cinematográficos bastante interessantes para a condução da narrativa, aplicando muito close nos olhos do cão e do treinador, além de travellings pontuais, especialmente para mostrar a transição do momento de doçura à raiva incondicional do cão. Somada a condução de Fuller encontra-se a ótima trilha sonora composta pelo mestre italiano Ennio Morricone (Três Homens em Conflito), que transmite a tensão necessária, mas em especial carrega o filme num clima de melancolia certeira.

Completados exatamente trinta anos de seu "lançamento", O Cão Branco continua uma obra importante  e atual como polo de debate acerca da bandeira anti-racial, da instrumentalização dos animais essencialmente para o mal e da própria pequenez humana, que possui a capacidade de condicionar não só  a si  e  seus pares no que se refere a consecução de atos de pura estupidez, como também os animais. É mais do que a óbvia a ideia do diretor acerca disso quando põe o cão como vítima do treinamento, visto que o mesmo nada mais é do que refém da situação, mas e quanto a alusão da mesma perspectiva para com o próprio ser-humano? Seria uma criança criada num lar altamente preconceituoso condicionada - independentemente de sua vontade ou crenças - psicologicamente a torna-se preconceituosa também. Vale muito a pena refletir acerca.  

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