21 setembro, 2012

O Palhaço (BRA, 2011).

"O gato bebe leite, o rato come queijo. E eu... eu sou palhaço". (Puro-Sangue, personagem de Paulo José).
O Palhaço presta homenagem a uma arte cada vez mais distante do cotidiano do brasileiro, oferece um retrato de esperança e apresenta a luta cotiano do ser humano, conta a crônica do homem comum e, acima de tudo, nos apresenta a história de um palhaço que fazia seu público rir, mas sentia a óbvia necessidade de que alguém tirasse um riso dele. Uma obra que soa bucólica, tão próxima àqueles que como eu já de depararam com causos do interior e especialmente com circos mambembes interior a fora, mas que também traz em meio aos rompantes de alegria muita melancolia e tristeza. Recentemente indicado como representante brasileiro para a seletiva dos filmes estrangeiros a concorrer o Oscar na categoria, O Palhaço é uma grata surpresa, não por uma possível desconfiança acerca do talento e competência do aqui diretor e ator Selton Mello (Lavoura Arcaica) e sua equipe, mas sim por apresentar mais do que seria esperado de uma produção onde o foco reside no circo e principalmente na figura do palhaço, tridimensionalizando de forma única e delicada a história de um homem que descobre a si mesmo.

Em meio a tantos destaques não há como não apontar a deslumbrante fotografia a cargo de Adrian Teijido (minissérie Capitu), que capta beleza única através de tomadas que contrapõem o "maquinário" do circo em  êxodo constante as paisagens as das cidadezinhas por onde esse passa, de forma a destacar não só os detalhes mínimos de cada um dos membros da trupe circense, mas também as cores, tons e, por que não, sons em forma de imagem de cada um destes lugares. Falando em som, também marca a trilha sonora de Plínio Profeta, que pontua o filme de cabo a rabo apenas com sons e instrumentos relacionados as marchinhas e temas circenses. Sendo assim, é fácil perceber que tanto visualmente como sonoramente O Palhaço é brilhante.

Selton Mello, em sua segunda investida como diretor, realiza um trabalho primoroso neste filme, aplicando o tempo necessário para que a narrativa seja desenvolvida e apresentando com carinho e ponderação cada um dos diversos personagens que perpassam a obra, mas é no posto de ator que Mello brilha mais, especialmente por empregar ao seu personagem, o palhaço Pangaré/Benjamin uma forte dose de fragilidade, cansaço e um peso incomensurável em suas costas, percebidos na forma com que entona as palavras, na postura, no olhar e nas expressões faciais, que vão de encontro ao mesmo quando no palco, pois profissional que é mostra vivacidade e disposição, cumprindo plenamente o seu papel, o de fazer rir. Com certeza uma das melhores composições/interpretações da carreira de Selton Mello.

O restante do elenco não fica para trás e tem como principal fio condutor e a experiência, carisma e competência habitual do mestre Paulo José (Saneamento Básico: O Filme), que interpreta o pai de Benjamin, dono do circo e também palhaço Puro-Sangue/Valdemar. José não tem tanto tempo de tela quanto Mello, mas sempre que aparece chama a atenção por sua entrega e brilhantismo, demonstrando bastante energia mesmo no auto dos seus 75 anos e responsável por pelo menos uma cena de partir o coração. O elenco de apoio é formado basicamente por atores não muito conhecidos, como Renato Macedo, Giselle Motta, Larisa Manoela, Erom Cordeiro, Thogun, Teuda Bara, Cadu Fávero, Tony Tonelada e Álamo Facó, todos companheiros de circo, além das pontas de Tonico Pereira (Redentor), Jackson Antunes (A Festa da Menina Morta), Jorge Loredo (Chega de Saudade) e Moacyr Franco, sendo que este acabou agraciado com o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Cinema de Paulínia, em 2011.

Filme intimista, com forte teor humano e que acaba por resgatar elementos de um Brasil pouco abraçado no momento, O Palhaço é um filme bonito, de ideias claras e promotor de emoções, mais denso e tristonho do que o previsto, mas consequentemente mais forte e instigante. Selton Mello estrou como diretor com o filme Feliz Natal, um drama familiar pesado e um tanto quanto indigesto, o que não o torna um filme ruim, mas ao meu ver é com O Palhaço que o originalmente ator tem seu melhor resultado como cineasta. Como dito acima, a obra foi a escolhida para tentar obter uma das vagas para a indicação de melhor filme estrangeiro no Oscar do ano que vem. Não sei ao certo se foi uma boa escolha ou não no que se refere a possibilidade vitória na premiação, já que mesmo sendo um filme estupendo, traz fortes características intrínsecas a nossa realidade, aspecto este que pode não ser bem aceito pelos avaliadores norte-americanos. Mas, indicação à parte, o certo é que o filme é uma obra magistral e é plenamente merecedora de ser o representante brasileiro na corrida a um possível Oscar.

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