02 dezembro, 2012

A Origem (Inception, EUA/ING, 2010).

"Sua mente é a cena do crime" (Frase disposta no poster promocional do filme).
O hype acerca de A Origem foi grande na época de seu lançamento, ganhando o filme automaticamente tanto entusiastas fervorosos quanto críticos contundentes. Com um marketing avassalador (e muito bem realizado, por sinal), o filme foi considerado por muitos como a obra mais intrigante desde Matrix e, devido a isso, tanto aumentou seu séquito de fãs quanto de descrentes ao mesmo. É difícil afirmar se o filme terá  no futuro relevância parecida com o trabalho dos irmãos Wachowski, contudo é certo que, independentemente da originalidade ou não da trama e da estética do filme, A Origem é uma obra de entretenimento exemplar, elaborada e executada com bastante capricho e que ratifica a ideia de que há como se produzir peças de entretenimento com conteúdo crítico agregado, característica esta inquestionavelmente presente no filme.

Talvez o maior "voo" criativo solo do cineasta Christopher Nolan (Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge) até então - que alcançara o auge após o sucesso estrondoso de O Cavaleiro das Trevas -, A Origem na verdade pode ser descrito como um filme de assalto estilizado, pelo simples fato de sua ambientação "sci-fi" ser apenas um elemento agregado, não a cara ou objetivo do filme. Talvez devido a excessiva glamourização dos espectadores à concepção visual dos sonhos empregada no filme e, por consequência, o "esquecimento" das propostas outras do mesmo tenham contribuído para as exageradas adjetivações quando se pensa em A Origem, pois acredito que este é um ótimo filme, porém seu cerne envolve questionamentos puramente humanos, representados pelo conflito interno do personagem Cobb (Leonardo DiCaprio, de O Aviador), tendo a pirotecnia onírica papel apenas ilustrativo aos objetivos narrativos de Christopher Nolan.

Tecnicamente o filme é primoroso, reunindo alguns dos melhores profissionais do cinema contemporâneo - muitos destes parceiros recorrentes de Nolan - em funções-chave como fotografia (Wally Pfister, de Batman Begins), desenho de produção (Guy Hendrix Dyas, de Superman: O Retorno) e Hans Zimmer (Piratas do Caribe: O Báu da Morte), por exemplo, conseguindo aliar criatividade e realismo a ambientação audiovisual da obra. A Origem apresenta-se tão orgânico tecnicamente que parece impossível retirar ou substituir alguns dos seus elementos (como trilha sonora ou os efeitos visuais) sem que haja perda de sentido à proposta narrativa do mesmo. Com isso não quero dizer que todos esses elementos cheguem a perfeição no filme, mas que sim que encaixam-se como poucos aquilo que a obra pede.

O conceito acerca de viagem pelos sonhos, implante de ideias e memórias e construção e desconstrução de lugares dentro da mente humana realmente são fascinantes (e a equipe de efeitos visuais vem a somar neste sentido), porém passa longe de poder ser considerado inovador ou visionário, até por que toda essa "piração" nada mais é do que uma embalagem que envolve o verdadeiro conteúdo, que é a trama de espionagem industrial e, de forma específica, a busca do personagem de DiCaprio por uma segunda chance. O espetáculo conceito-visual apresentado por Nolan e cia. é tentador e hipnotizante, mas assim como o cineasta já fizera em O Grande Truque, não passa de um engodo as suas intenções primeiras, que envolvem a construção/desconstrução/construção de Cobb e de seu passado.

As possibilidades de discussão acerca das ideais sugeridas durante as mais de duas horas de projeção de A Origem são inúmeras, inclusive sendo este um dos grandes atributos do filme, sugerir discussões e conceitos de ordem reflexiva ao espectador, característica esta que o aproxima de obras ímpares como Matrix ou Cidade das Sombras, por exemplo. Todavia, não creio que seja interessante sugerir ou implicar resoluções acerca da(s) proposta(s) deliberativas do filme - para quem deseja dissecar um pouco mais a discussão, sugiro a audição do podcast do portal Os Cinéfilos a respeito do filme -, pois o mesmo pede observância e interpretação próprias do indivíduo, sendo a abertura de entendimento talvez sua maior qualidade.

Contando com um elenco de primeira - além de DiCaprio, passeiam pela tela Joseph Gordon-Levitt, Tom Hardy, Cillian Murphy, Ellen Page, Marion Cotilard, Michael Caine, Tom Berenger e Ken Watanabe  -, com uma trama inspirada e curiosa, um ritmo de tensão gradativo, efeitos especiais interessantes (é certo que, ao rever o filme em alta definição, o "envelhecimento" já encontra-se notável em alguns momentos) e, principalmente, sentido lógico à proposta apresentada. Revolucionário ou não? Impecável ou não? Um marco do cinema ou não? Sinceramente pouco importa, pois celebro como argumento válido que A Origem é uma obra de entretenimento bem construída e eficaz à sua proposta, resumindo-se como um filme de ação interessante e longe de ser tido como bobo. Se pode ser considerado como uma obra genial, eis então uma outra e longa discussão.

AVALIAÇÃO
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