05 dezembro, 2012

Rocky V (EUA, 1990).


Talvez este "desfecho" à saga de Rocky Balboa (Sylvester Stallone) mereça uma revisão por parte do público e da crítica, pois mesmo que não seja o melhor episódio da série e até mesmo incorra em erros bem óbvios, Rocky V não é um filme ruim - pelo menos não é distorcido e apoiado em tudo, menos no roteiro, como Rocky IV -, pois se esforça para "encerrar" com chave de ouro a trajetória do pugilista, tanto que para isso traz de volta algumas peças importantes do início do processo criativo do personagem, como o diretor vencedor do Oscar pelo filme original, John G. Avildsen (Rocky, um Lutador), o compositor Bill Conti (Delírios Mortais) e até mesmo o ator Burgess Meredith (Fúria de Titãs) - cujo personagem falecera ainda em Rocky III - O Desafio Supremo, voltando à tona num flashback bem safado, mas coerente ao conjunto da obra -. Apesar deste último esforço não resultar perfeito, é notória a intenção da produção em resgatar o clima e o sentimento do primeiro filme. Pena que os tempos eram outros.

Centrado mais uma vez na queda de Balboa, que desta vez acaba tendo que decretar falência devido a uma ação indevida de seu contador, Rocky V em essência é um drama familiar de reencontro às origens, sendo o personagem título obrigado a voltar a morar no seu antigo bairro, dessa vez com esposa (Talia Shire) e filho (Sage Stallone) a tiracolo e, devido a aposentadoria forçada - Rocky descobre que sofreu um trauma cerebral após a luta com Ivan Drago, em Rocky IV -, acaba por assumir as vezes de administrador da antiga academia de boxe de Mickey (Meredith), repetindo de certa forma o ciclo de vida do ex-treinador. Soma-se a isso a chegada de um jovem lutador à vida de Rocky, com o desejo de que este seja seu padrinho e treinador, além da pressão sofrida pelo eterno garanhão italiano por um inescrupuloso empresário (Richard Grant) para voltar ao ringue e encarar (mais uma vez) uma última luta. Em suma, tais elementos narrativos são coerentes ao universo e as características do personagem, contudo a execução acaba sendo bem irregular, talvez pelo excesso de "homenagens" ao filme original ou simplesmente pelo certo cansaço que a saga de Balboa já estava apresentando.

Uma coisa é certa, Rocky V se aproveita do momento delicado da economia mundial durante o final dos anos 1980 e início dos anos 1990 ao apresentar a Filadélfia natal de Balboa ainda mais suja e degradante do que aquela de 1976, óbvio resultado do passar dos tempos e do contínuo descaso dos representantes do poder público para com a periferia da cidade. Contudo, apesar de visualmente coerente e de conseguir manter laços com os filmes anteriores, parece faltar força à trama, que nada mais faz do que replicar o enredo do primeiro filme (Balboa volta a ser uma espécie de underdog no filme), com o diferencial de que agora Rocky está acompanhado de seu filho (leia-se: responsabilidade) e não em busca de glória, porém a chuva de desencantos ao personagem soa forçado em demasia, aparentando ter sido propositalmente inserida para facilitar a relação do filme com o início humilde e sem perspectivas do personagem principal.

Ao meu ver, a volta de John G. Avildsen não influiu de forma a tornar este um filme consideravelmente melhor que os anteriores, apesar de ser nítido que este é um diretor mais competente do que Sylvester Stallone, porém o que foi apresentado em Rocky V mostra-se tão distante tecnicamente e conceitualmente de Rocky, um Lutador, que a competência (ou interesse) de Avildsen também fica em cheque. Sem decidir se abraça de vez o melodrama ou investe no âmbito fantástico do personagem, Rocky V acaba enfurnado entre ambos, não convencendo totalmente a que veio, mostrando-se irregular e um tanto quanto desinteressante. Contribui para esse desinteresse o fato da trama não possuir um clímax forte como os dos filmes anteriores, a falta de carisma do pupilo de Rocky, Tommy Gunn (Tommy Morrison, que na vida real foi boxeador) e o desfecho do filme com uma catártica briga de rua não se adequar ao contexto glorioso atribuído a franquia Rocky, de certa forma indo de encontro ao mesmo.

Longe de ser a bomba sedimentada pela opinião pública à época (e que perdura até hoje), Rocky V não consegue resgatar de forma eficaz os elementos que fizeram do primeiro filme um clássico e dos demais grandes sucessos de bilheteria, mas "finaliza" a franquia de forma decente jogando com as regras estabelecidas em toda a franquia, só que sem tanto brilho ou ar de novidade. Sylvester Stallone continua transpirando carisma ao interpretar seu personagem mais icônico e seu filho (que interpreta o filho de Rocky), Sage Stallone, aparece bem, apesar de sua personagem não ser bem trabalhada pelo roteiro. Talvez reflexo do período de recessão econômica da época ou da falta de qualidade do capítulo quarto da franquia, Rocky V computou a mais baixa arrecadação entre todos os filmes da série, porém acredito que a arrecadação nunca reflete a qualidade ou não de uma obra e, mesmo que não seja um grande filme, é certo que este não é o pior dos filmes de Rocky Balboa. Todavia, gosto é uma questão delicada e intransferível.

AVALIAÇÃO

TRAILER

Mais Informações:

Texto sobre Rocky, um Lutador (1976)
Texto sobre Rocky II - A Revanche (1979)
Texto sobre Rocky III - O Desafio Supremo (1982)
Texto sobre Rocky IV (1985)
Texto sobre Rocky Balboa (2006)
Bilheteria:
Outros filmes de JOHN G. AVILDSEN comentados:

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