13 dezembro, 2012

Cosmópolis (Cosmopolis, FRA/CAN/POR/ITA, 2012).


Qual é a de David Cronenberg (Um Método Perigoso)? É indiscutível a capacidade criativa do cineasta, além de sua predisposição a feitura de filmes com um largo caráter psicológico e de subjetividade, entretanto mesmo enxergando tais atributos neste seu mais recente trabalho, Cosmópolis, é fato de que este é ininteligível e, principalmente, enfadonho. Do que adianta uma importantíssima reflexão filosófico-existencial se as ideias apregoadas soam desconexas, vazias e desconectadas a realidade proposta? Exageradamente retórico, esta adaptação do romance homônimo de Don DeLillo certamente tem motivações que justifiquem sua existência, contudo a visão abraçada por Cronenberg causa um estranhamento distinto de sua filmografia habitual, resultando numa obra fria, desinteressante e monótona, que parecer transmitir uma mensagem, porém a mesma chega criptografada as nossas mentes, sem nenhum código ou manual para a compreensão da mesma.

O título do filme já adianta a respeito do que o mesmo se trata, já que tanto Cosmo quanto Pólis são palavras provenientes do grego, sendo esta a nomenclatura utilizada para as cidades-estado da Grécia antiga, enquanto a primeira pode ser traduzida como organização ou ordem e são inferidos ao longo dos diálogos prolixos do filme elementos que se referem a globalização e, por que não, ao status atual do capitalismo, que vive seu auge econômico e tecnológico, mas também os maiores índices de exclusão social já vistos (o que não é nenhuma surpresa com o andar da carruagem, não é mesmo?). Provavelmente a recente crise econômica "mundial" também foi objeto de inspiração de Cronenberg ao escrever o argumento de Cosmópolis, porém de pouco vale uma ideia genial ou provocações inteligentíssimas no texto se o filme é quase incompreensível, arrastado e sem personagem algum que desperte o interesse do espectador. Em suma, eis o filme mais chato (e põe chato nisso) da carreira do genial David Cronenberg.

Cosmópolis possui um grande elenco, mesmo que a maioria que o compõe apareça apenas em pequenas pontas - a exceção está em Paul Giamatti (Rock of Ages), Kevin Durand (X-Men Origens: Wolverine) e, obviamente, Robert Pattinson (franquia Crepúsculo), protagonista do filme -, com destaque para as presenças de Juliette Binoche (O Paciente Inglês), Mathieu Amalric (007 - Quantum of Solace) e Samantha Morton (O Libertino), porém mesmo sendo inquestionável a qualidade artística destes, o texto sem pé nem cabeça (pelo menos no meu mundinho) declamado pelos mesmos não contribui para que seus personagens se sobressaiam ou marquem de alguma forma. Nem mesmo o personagem de Pattinson consegue transmitir algo além de "estou declamando um texto que passei horas para decorar e nem sequer o entendo", o que ao meu ver não é culpa do ator, mas sim da direção totalmente apoiado no roteiro exercida por Cronenberg. A bem verdade a impressão que tive com miríade de personagens que surgem e vão sem o menor sentido lógico é que todos não passam de visões criadas pela mente esquizofrênica de Eric Packer, personagem de Pattinson, mas não há como afirmar essa como uma possibilidade certa. Se bem que correta ou não, não faz diferença nenhuma ao fato do filme ser fraco.

Realmente dói bastante constatar que David Cronenberg fez um filme não apenas ruim, mas também desinteressante em todos os sentidos. A trilha sonora assinada por Howard Shore (eXistenZ), parceiro recorrente do cineasta, soa desinteressante. Como mais da metade do filme se passa dentro de uma limousine, o trabalho de cenografia e direção de arte não chama muito a atenção, enquanto a fotografia do filme, mesmo com um ou outro plano mais interessante visualmente (como os da sequência final ambientadas no apartamento do personagem de Paul Giamatti), mostra-se um tanto quanto convencional, o que nunca foi do feitio do sempre inquieto diretor.

Após trabalhos excepcionais como Marcas da Violência, Senhores do Crime e Um Método Perigoso, eis que David Cronenberg nos brinda com um trabalho tão insípido como este Cosmópolis, que inegavelmente pretendia passar uma mensagem acerca do isolamento e a confusão do ser homem neste mundo inóspito regido pelo Deus capital, porém falta conexão entre este conteúdo e o entendimento (fácil ou não) do espectador. Problemas narrativos e ideológicos a parte, é certo que o maior problema do filme não reside no fato do mesmo ser apático e de difícil entendimento, mas sim por este ser chato e longo (logo, chato). Simples assim.


Obs.: Não crucifiquem Robert Pattinson - pelo menos não por este trabalho -, pois se há um "culpado" pelo desinteresse provocado pelo filme este se chama - infelizmente - David Cronenberg. Que venha seu novo longa, provavelmente estrelado por Pattinson e Viggo Mortensen.

AVALIAÇÃO
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