12 dezembro, 2012

Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry, EUA, 1997).


"Entre o ar-condicionado e o Papa, eu prefiro o ar-condicionado".
"A tradição é a ilusão da permanência" (Frases citadas por Harry Block, personagem "interpretado" por Woody Allen). 
As comédias de Woody Allen (Hannah e suas Irmãs) podem ser dividas em três categorias: as viajadas e vez ou outra engraçadas, as diretas e engraçadas e as viajadas e indigestas. Dentre estas, creio que Desconstruindo Harry se encaixe melhor na primeira, pois a premissa do filme serve tanto como estudo idiossincrático do cineasta, como também desperta riso, mais pela acidez do texto do que pelas provocações humorísticas da trama. Mais uma vez tratando do bloqueio de criatividade de um personagem (Allen) ligado a sua vida familiar e amorosa mal resolvida, a miríade de sugestões e debates propostas pelo filme são imensas, guardando reflexões não só aos institutos a pouco citados, mas também a prática bitolada de rituais de ordem religiosa (judaísmo incluso), ao moralismo deturpado e a conveniência dos paradigmáticos valores familiares, que na visão do cineasta não seriam tão concretos assim.

Como não poderia deixar de ser tratando-se de um filme de Woody Allen - mesmo oriundo da combalida década de 1990 -, os nomes que formam o elenco é de primeiro nível, sendo possível apontar Bob Balaban (Moonrise Kingdom), Kirstie Alley (Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan), Demi Moore (Até o Limite da Honra), Robin Williams (Gênio Indomável), Tobey Maguire (Homem-Aranha), Billy Crystal (Harry e Sally - Feitos um para o Outro), Stanley Tucci (Jogos Vorazes), além do próprio Allen, como destaques. É certo que nem todos possuem um tempo expressivo de tela, mas cada ganha destaque à maneira Allen.

Assim como o filme Memórias, Desconstruindo Harry carrega um forte caráter autobiográfico, talvez evidenciado pelos sucessivos fracassos financeiros de quase todos os seus filmes lançados na década de 1990 - a exceção encontra-se em Poderosa Afrodite e Todos Dizem eu Te Amo -, mas certamente despertado pela constante inquietude de Allen quanto a sua capacidade como realizador, tendo este filme um caráter revisionista e autoavaliativo que funciona perfeitamente, pois une reflexão e entretenimento num só conjunto, aspecto um tanto raro nas obras mais cerebrais do autor, que costumam ser mais aborrecidas, apesar de comumente fascinantes.

Há de se destacar a abertura do filme, que apresenta a repetição contínua da descida de uma personagem de um táxi e sua chegada a uma casa - uma espécie de looping temporal  -, que de certa forma acaba por adiantar o estilo de montagem do filme (que ficou a cargo da veterana Susan E. Morse), que vez ou outra retira frames de algumas sequências, dando a impressão de uma pequena viagem no tempo ou certa incongruência na sequência de eventos em tela, o que faz total sentido numa trama que propõe uma desconstrução (como o próprio título do filme adianta) como reflexão para a construção de novo sentido ao protagonista da obra, Harry Block (até o bloqueio está inferido no sobrenome da personagem). Este método de montagem é criativo e serve perfeitamente ao objetivo principal da trama escrita e dirigida por Allen, que lida com a busca pelo aparar das arestas da vida do personagem principal.

Um grande defeito a ser destacado não reside na obra em si, mas sim na formatação do filme disponibilizado no Brasil. A versão em DVD que conferi é da Flashstar Filmes e a mesma tem uma qualidade de som e imagem bastante ruim, o que é no mínimo estranho já que se trata de uma cópia original do filme, portanto espera-se o máximo de qualidade possível compatível a uma mídia de DVD. A indignação é ainda maior pois títulos mais antigos, como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa ou A Era do Rádio, por exemplo, encontra-se com uma qualidade de som e imagem (especialmente esta última) infinitamente superiores (tais filmes foram disponibilizados nacionalmente pela MGM/Fox), além de Celebridades, também um título da Flashstar, que apesar de ter sido mutilado (fullscreen), tem uma imagem bem mais definida. Sendo assim, apesar do filme Desconstruindo Harry ser obrigatório, sugiro aos interessados em conferi-lo que procurem outras edições ou maneiras de apreciarem-no, pois a cópia conferida por mim é bastante ruim.

Mesmo ratificando a ideia de que quanto mais viajado e complexo um filme de Woody Allen, menos público é conquistado pelo mesmo, Desconstruindo Harry dosa com certo equilíbrio estas características um tanto "assustadoras" aos não iniciados nas "pirações" verborrágicas do cineasta, já que mesmo recheado das idiossincrasias inerentes ao mesmo, mostra-se divertido e dinâmico, muito disso devido ao carisma do elenco formado para o filme. Não sei se chega a categoria de clássico, mas com certeza encontra-se como imperdível.

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Obs.: Jennifer Garner (De Repente 30) e Paul Giamatti (Rock of Ages) também aparecem no filme, em micro participações, sem direito a falas.

AVALIAÇÃO
TRAILER

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