10 dezembro, 2012

Feliz Natal (Joyeux Noël, FRA/ALE/ING/BEL/ROM, 2005).

"Dezembro de 1914. Uma história verdadeira que a história esqueceu" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Bonito e importante, eis duas palavras que simbolizam bem o filme Feliz Natal. Uma co-produção entre França, Alemanha, Reino Unido, Bélgica e Romênia, o filme assinado por Christian Carion (Encontro Inesperado) resgata um evento tão inusitado que até parece ficção, narrando a história de celebração entre tropas alemãs, francesas e escocesas em plena I Guerra Mundial, quando na véspera de natal de 1914. Construído de forma a não estabelecer vilania em nenhum dos lados do conflito, o filme carrega uma mensagem fortíssima de humanidade (naquele clássico sentido positivo de se enxergar) e esperança, abraçando o lado bom do homem e separando o conflito político-ideológico dos instrumentos, que na maioria das vezes nem sequer sabe a causa do seu envolvimento no grande jogo de guerra.

Apesar da história beirar o improvável, nada de "anormal" acontece à trama, tendo esta a simples função de condensar os poucos dias que antecedem e que perpassam ao natal, onde os vínculos entre estes homens - e uma mulher - imersos em ódio fabricado vão passando por um processo de transformação e crescendo, enquanto sua trégua temporária é tida como ato condenável por suas lideranças, comprovando assim o caráter tecnicista e cruel daqueles que gerem a guerra, mas que não participam de maneira alguma do dia a dia nos campo de batalha. A bem verdade a guerra da elite difere da guerra da plebe e o filme registra bem isso.

O elenco internacional do filme conta com alguns nomes de destaque, como a bela Diane Krüger (Tróia), Daniel Brühl (Adeus, Lênin), Guillaume Canet (A Praia), Benno Fürmann (In Darkness) e o veterano Ian Richardson (Cidade das Sombras), que aparece intimidador neste que foi o último papel de sua carreira. A fotografia (a cargo de Walther van den Ende) também chama muito a atenção, enquanto a trilha sonora (e a seleção de músicas) de Phiippe Rombi (parceiro recorrente do cineasta francês François Ozon) é deslumbrante, imprimindo ainda mais emoção a um filme particularmente emotivo. 

Há muitos momentos marcantes em Feliz Natal, porém destacaria especialmente a incrível sequência inicial, na qual são apresentada as impressões de três crianças (uma alemã, uma francesa e uma escocesa) a respeito do conflito em andamento e o quanto estas são inclinadas a reproduzir praticamente o mesmo discurso, porém atribuindo a vilania a outrem que não seu próprio país. Tanto a construção visual da cena, quanta a narrativa são perfeitas, direcionando de vez o espectador ao ponto de discussão do filme, que seria a aproximação das diferenças culturais dos povos através de suas proximidades como seres humanos. O restante do filme vem apenas a confirmar esta assertiva, porém sem nunca soar repetitivo, apenas reforçando o que a introdução já sugerira e acreditando que a bondade pode prevalecer, mesmo que o seu entorno não a aceite de bom grado.

Prestes a completar 100 anos, este improvável episódio de Feliz Natal foi resgatado de forma sensível e eficiente por Christian Carion, tanto que sua obra acabou recebendo uma nomeação ao Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, recebido o César de melhor filme e melhor roteiro, além de ter participado da seleção oficial no Festival de Cannes. Mais do que responsável por um importante resgate histórico às futuras gerações, Feliz Natal é principalmente competente como filme, pois carrega uma mensagem bastante atual - especialmente nesta época do ano - e simbólica, e mesmo que não faça mais parte do cotidiano da maioria de nós humanos, mantém-se necessária, nem que seja como mito ou fábula de um futuro pretérito melhor do que o hoje e o amanhã.

AVALIAÇÃO
 
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