É bem verdade que este À Beira do Caminho não traz nada de especial, distinto ou inovador, muito menos pede uma atenção ou reflexão a mais do espectador, porém é justamente da simplicidade e, de certa forma, do emprego do clichê que a obra ganha força, tanto por seu enredo simples mas de fácil identificação, quanto pela magistral performance do trio principal de atores, formado pelo ótimo João Miguel (Estômago), pela bela e natural Dira Paes (2 Filhos de Francisco) e pela excelente revelação Vinícius Nascimento, o grande coração do filme.
Escrito por Patrícia Andrade (Salve Geral), o filme tem como fonte de inspiração de seu roteiro músicas de Roberto Carlos, que de certa forma acompanham a jornada do personagem de João Miguel, um caminhoneiro que guarda uma grande dor, fruto de um relacionamento amoroso. Em meio a uma de suas viagens ele acaba se deparando com o menino Duda (personagem de Vinícius Nascimento), que encontrava-se escondido na carroceria do caminhão de João (também nome do personagem) e que alega ter perdido a mãe e querer ir à São Paulo encontrar o pai que nunca conhecera. Nesse ínterim nos é mostrado todo aquele processo de incômodo e conexão entre os dois, visto que enquanto Duda procura um pai, João procura uma razão para viver. É certo que a situação apresentada não é lá muito "realista", de certa forma articulando um olhar bastante romantizado acerca da situação, no entanto a condução do diretor Breno Silveira e o charme particular de Vinícius, aliado ao talento de Miguel e a futura chegada da personagem de Dira Paes contribuem enormemente para que o pensamento de excesso de melodrama se dilua e fique apenas a empatia acerca desse história bonita, comum, palpável e, mesmo que com um quêzinho de fantasia, crível. Ora bolas, se não é o cinema pura fantasia, não é mesmo?
O diretor Breno Silveira é mais do que conhecido por contar histórias onde o aspecto sentimental tem papel fundamental à trama, visto que dois outros filmes que tem o sentimento como sustentáculo maior possuem sua assinatura, 2 Filhos de Francisco, de 2005 e Era uma Vez..., de 2008, que também são assinados por Patrícia Andrade. Originalmente planejado para ser lançado em 2011, o filme teve sua estreia adiada devido ao falecimento da esposa de Silveira, que o impediu de finalizar o processo de montagem do longa, visto que a temática do mesmo possui muitas conexões com esse triste acontecimento da vida pessoal do diretor. Quer seja devido a isso ou não, o certo é que À Beira do Caminho saiu bastante equilibrado no que tange a exploração da dor do personagem de Miguel e seu reencontro com a vida, em especial através da figura do pequeno Duda, ponto de referência e norte do filme, que ao meu ver é o verdadeiro responsável pela riqueza do filme, deixando até mesmo o fato do longa ter sido inspirado por algumas canções do rei em segundo plano.
Voltando ao ator Vinícius Nascimento, é incrível o carisma e segurança passados pelo mesmo. Da primeira a última cena, seja em momentos de alegria e espontaneidade, seja em diálogos carregados de drama e revelações pessoas, o menino dá um show, fazendo com que o espectador compre de imediato sua história, mesmo que obviamente fiquem pontas soltas acerca da família do mesmo, dentre outros detalhes técnicos. Mas enfim, para apreciar o filme de Silveira é necessário acreditar no mesmo, pois apesar de alumas liberdades no que se refere à "realidade" dos eventos mostrados, sua condução e sua mensagem traz lições e, principalmente, conexões com grande poder de alcance, seja você criança ou adulto, homem ou mulher, talvez o único pré-requisito para participar desta jornada seja estar e manifestar-se vivo.
Em alguns momentos lembrando muito o filme Central do Brasil, de Walter Salles e com um clima que remete ao primeiro trabalho de Silveira como diretor, o estrondoso sucesso nacional 2 Filhos de Francisco, À Beira do Caminho é um road-movie sensível, simples e em essência de fácil absorção, mas que traz um tema tão orgânico e personagens tão distintos, porém carismáticos e interessantes (em especial a dupla viajante), que o tornam um filme maior do que pretendia, que presta tributo àqueles que ganham a vida viajando, que não possuem um lar fixo e que estão sempre à procura de algo e, mesmo que extremamente clichê, ao final dessa jornada nossos dois amigos acabarão por encontrar não aquilo que procuravam, mas sim o que precisavam. Não sei se por efeito catártico, por identificação subjetiva ou por manipulação do diretor, mas não consegui segurar as lágrimas em alguns momentos do filme, em especial naqueles em que a figura de Duda tinha papel central. O certo é que há tempos não ficava tocado tão profundamente tocado por um filme, praticamente vivendo junto alguns dos momentos projetados na tela grande e, mesmo que este fosse o único mérito de À Beira do Caminho, já o destacaria entre tantos outros filmes que já conferi.
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