24 setembro, 2012

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Perigosas (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides, EUA, 2011).


Sei que parece um contrassenso, visto que Piratas do Caribe: Navegando em Águas Perigosas foi dono de uma das maiores arrecadações de bilheteria no ano passado, mas confirma um certo cansaço à  bilionária franquia, que tem neste quarto capitulo não um filme com começo, meio e fim, mas uma sucessiva coleção de cenas de ação que vão ordenando a trama, sem que necessariamente tais cenas tenham um sentido lógico ou "motivacional" a jornada sugerida pelo filme. Johnny Depp (A Hora do Pesadelo) continua dominando quando em cena, conquistando sobretudo pelo carisma empregado ao seu personagem, o mais querido dos piratas do cinema, Capitão Jack Sparrow, só que o ator, mesmo entregando justamente aquilo que os fãs esperavam, não apresenta uma evolução ao personagem, apresenta mais do mesmo, sem nenhuma inovação válida. Portanto, mesmo vez ou outra fazendo rir, Sparrow parece estar perdendo a graça, pois piadas e situações cômicas mais eficientes já foram apresentadas nos demais filmes da franquia, especialmente no capítulo original.

Sem Gore Verbinski (Rango) na direção e as presenças de Orlando Bloom (O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel) e Keira Knightley (Desejo e Reparação), o comando da produção acabou nas mãos de Rob Marshall (Chicago), mais conhecido pela direção de musicais, mas que aqui realiza um trabalho correto, mesmo que conduza um roteiro um tanto quanto apático e que não empregue nenhuma técnica distinta àquelas já vistas nos demais filmes da série Piratas do Caribe, tornando difícil para o leigo reconhecer a troca de diretores entre os filmes anteriores e este. Praticamente focado exclusivamente em Jack Sparrow, o roteiro que lida com a busca pela fonte da juventude, escrito por Ted Elliott e Terry Rossio,  não é dos melhores, visto que aplica a discutível tática das coincidências e atropela cenas de ação simplesmente pela ação durante quase todo o filme, tornando-o, ao meu ver, um tanto quanto enfadonho e inchado demais. São quase duas horas e meia de explosões, duelos de espadas, criaturas mitológicas e piadas desconcertantes de Jack Sparrow, ou seja, uma coleção com mais do mesmo, só que agora bem menos interessante.

Com a saída de Bloom e Knightley, temos aqui algumas presenças novas, como as de Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona), que se sai bem como uma bucaneira e ex-amante de Jack Sparrow, Ian McShane (Scoop, o Grande Furo) no papel de Barba Negra, que não faz feio, mas seu personagem é mal desenvolvido e Sam Clafflin (Branca de Neve e o Caçador), talvez um dos personagens mais desnecessários do longa, visto que serve primeiramente como condutor moral dentro do antro de imoralidade pirata (descartável) e, com o andar da carruagem, como "alívio amoroso" (termo esquisito, eu sei) ao filme, já que protagoniza uma subtrama de romance com uma sereia (em teoria maligna), num arco dramático mais do que descartável. Logo, vê-se que a troca de coadjuvantes não foi assim tão eficiente, muito graças ao péssimo desenvolvimento dessas personagens pelos roteiristas e pela má utilização dos mesmos por Rob Marshall. É certo que, dentre grandes desperdícios, o maior destaque não está nem mesmo no Jack Sparrow de Johnny Depp, mas sim na presença engraçadíssima e debochada de Geoffrey Rush (Shakespeare Apaixonado), mais uma vez vivendo o Capitão Barbosa.

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Perigosas não é um filme ruim, mas não traz novidades, não possui grande criatividade e se alonga demais em tão pouca história, além de chegar a cansar pelo excesso de sequências mirabolantes de ação (muitas destas sem-sentido algum), sendo visto assim como um filme grandioso, dono de figurinos, direção de arte e efeitos especiais e visuais muito bem acabados, mas que cansa e causa menos furor e adrenalina do que obviamente era pretendido, não soando tão histérico e irritante como o segundo filme da franquia, O Baú da Morte (para mim o pior), mas também não tão fresco, interessante e divertido quanto o original, A Maldição do Pérola Negra. É quase certeza que, após arrecadar mais de 1 bilhão de dólares ao redor do mundo (curiosamente, apenas cerca de 20% desse montante veio dos Estados Unidos, o que para uma produção do gênero é absurdamente surreal, já que geralmente o país natal do consumo é responsável por pelo menos 50% da arrecadação total de seus títulos) teremos uma nova continuação (ainda mais com o "estardalhaço" do 3D), contudo meu interesse para com a franquia já ultrapassou as águas perigosas e agora encontra-se dentro do baú da morte, lá no fim do mundo (sacou?).

AVALIAÇÃO
TRAILER:

Mais Informações:

Texto sobre Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003)
Bilheteria:

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