Prestes a completar trinta anos, Gabriela, versão cinematográfica de Bruno Barreto (Última Parada 174) baseada na obra homônima de Jorge Amado mantém seu charme. Estrelado pela então musa Sonia Braga (O Beijo da Mulher Aranha) e por Marcello Mastroianni (A Doce Vida), considerado o melhor ator italiano de todos os tempos, o filme possui uma direção de arte e desenho de produção de primeira, a cargo respectivamente de Hélio Eichbauer (O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro) e José Joaquín Salles (Brava Gente Brasileira), que realmente transportam o espectador para a Ilhéus dos anos 1920. Entretanto, talvez o grande nome da equipe técnica seja o de Carlo Di Palma (Hannah e suas Irmãs), que decupa as mais belas imagens através de suas lentes e realmente torna mais do que crível que o litoral baiano é belíssimo.
Barreto, que vinha do sucesso abismal de Dona Flor e seus Dois Maridos (também uma adaptação de Jorge Amado) e do forte Amor Bandido, consegue conduzir aqui uma história interessante e divertida, com um ou outro toque de questionamento sócio-político. É claro que em alguns pontos o filme acabou envelhecendo mal, em especial no que tange as atuações, muitas vezes excessivamente performáticas ou caricaturais, mas que mesmo exageradas encaixam-se na proposta vislumbrada pelo diretor.
A química entre Sonia Braga e Marcello Mastroianni acontece, mesmo que às vezes ocorra uma certa exploração exagerada da nudez das personagens interpretadas pelos dois (característica mais do que justa à época, visto que ainda perdurava o fenômeno cultural das chanchadas). Braga encontrava-se no auge de sua forma física e mesmo sem um grande momento de brilho interpretativo, constrói sua personagem basicamente no sorriso e no carisma. Já Mastroianni, mesmo incubido de interpretar um personagem um tanto quanto raso, transcende e aposta também no carisma e em um ou outro trejeito e maneirismo próprio. O certo é que tanto Mastroianni quanto Braga parecem estar se divertindo à beça com o filme. Na verdade, no sentido de estar a vontade, acredito que tolo o elenco encontra-se bem encaixado e disposto neste sentido.
Talvez curto demais, com um apelo político mais sugerido do que aplicado e (como não devia deixar de ser) quase que totalmente focado no romance entre Nacib (Mastroianni) e Gabriela (Braga), o filme permanece como uma obra interessante, bem-dirigida, visualmente deslumbrante e com uma trilha musical quase que perfeita - composta pelo maestro Antonio Carlos Jobim -, que aparece quase que como um terceiro personagem atuante entre o casal Nacib e Gabriela. É certo que tanto Bruno Barreto, quanto Sonia Braga e Marcello Mastroianni tem em seus currículos obras melhores que esta versão de Gabriela, contudo neste filmes todos encontram-se bem inseridos e cumprem àquilo tudo que lhes é pedido. Possuindo o cor e o brilho dos anos 1980, com um frescor e certa ingenuidade dos anos 1920, Gabriela é um bom filme nacional, com personalidade própria e tecnicamente deslumbrante.
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