18 outubro, 2012

A Ponta de um Crime (Brick, EUA, 2006).


Como a frase do poster promocional do filme adianta, A Ponta de um Crime (prefiro me referir ao filme como Brick, seu título original) é uma história de detetive. Porém, apesar de passear pelas regras do gênero, este é um filme que pode ser considerado único, pois apresenta como trunfo e diferencial o fato de mostrar-se uma obra ambientada no universo colegial que insere investigação criminal num clima noir, recheado de reviravoltas e mistérios, tudo isso formatado sob a égide de uma narrativa ágil e que não deixa de despertar interesse, visto que a obra é daquelas que vão ganhando mais e mais elementos a cada frame, culminando num desfecho esplendoroso e inusitado. Dotado de linguagem única e de clima arrebatador, Brick pode ser considerado como um dos melhores filmes de detetive e mistério da última década.

Primeiro trabalho do hoje bastante cultuado roteirista e diretor norte-americano Rian Johnson (Looper - Assassinos do Futuro) e estrelado por um até então pouco conhecido Joseph Gordon-Levitt (Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge), Brick foi o grande vencedor do Prêmio Especial do Juri no Festival de Cinema de Sundance, em 2005, honraria esta mais do que merecida, pois se uma coisa não pode ser negada é a criatividade e competência de execução na obra como um todo. Johnson apresenta nesta sua estreia diversos elementos que marcam um bom cineasta, especialmente criatividade, execução definida e controle sobre o que quer contar e, principalmente, como. 

Gordon-Levitt compra a ideia de Rian Jonhson e constrói aqui um protagonista sólido, que tanto causa empatia pela angústia transmitida quanto curiosidade e certo afastamento, visto que seus planos possivelmente nunca são inteiramente compreendidos pelo espectador, mas passam a fazer lógica conforme outros elementos são apresentados à trama. Somado ao personagem de Levitt, temos diversos outros tipos que desfilam na tela que podem ser considerados no mínimo estranhos, mas que casam perfeitamente com a proposta do filme, uma espécie de neo-noir com uma pegada atual e centrada no "mundo real" - no caso do filme, em algum lugar da Califórnia -, apesar de também ser dotado de alguns elementos que remontam certo surrealismo, muito disso advindo de alguns momentos específicos, como a utilização de drogas (tema de grande importância a obra) e períodos de inconsciência do protagonista (Gordon-Levitt), momentos estes amparados por enquadramentos inusitados e criativos a cargo de Johnson e Steve Yedlin, seu diretor de fotografia.

Grande parte da graça de Brick está nos pormenores de sua trama, portanto não me dedicarei à resumir a trama do filme, pois acredito que basta dizer que se trata de uma história de detetive/investigação nos arredores de uma escola que envolve amor, drogas e mortes, sob o ponto de vista de um adolescente. É óbvio que a marca visual empregada pelo diretor e a forma como o mesmo desenvolve a trama são o grande diferencial do filme, portanto melhor que tentar dizer do que ele se trata é pedir com veemência que o assistam. 

Não sei identificar qual seria o motivo, mas Brick me fez lembrar de outra obra de estreia de um cineasta até então independente, que assim como este filme alçou o status de cult. Me refiro ao filme Donnie Darko, de Richard Kelly. As tramas destas obras não tem nada a ver, mas a abordagem e, principalmente, as condições materiais de cada uma delas (tratam-se de filmes totalmente - concepção, roteiro e direção - idealizados pelos respectivos cineastas, marcaram a estreia dos mesmos e custaram pouco) me despertaram este pensamento. 

No entanto, enquanto Richard Kelly partiu ladeira abaixo após sua estreia, visto que com seus filmes posteriores não conseguiu sequer chegar perto do status conquistado pelo seu primeiro trabalho - muito pelo contrário, público e crítica não compraram nenhuma das suas últimas obras -, Rian Johnson partiu num crescendo interessante, podendo não ter repetido com a mesma força em suas outras obras o frescor e qualidade inabalável apresentadas em Brick, mas conseguiu conquistar fatias outras com títulos como Os Vigaristas, de 2009 e este ano com Looper - Assassinos do Futuro, que marca o retorno da parceria do diretor com Joseph Gordon-Levitt. Sendo assim, mesmo que esta comparação não tenha uma relação direta para com o filme aqui comentado, acho válida sua exposição, visto que antes de tudo trata-se de cinema, não é mesmo? 

Resumindo, apesar de não conhecido perante o grande público - mas é certo que possui status cult -, Brick é uma grande obra de estreia do hoje bem alojado Rian Johnson, que pulsa criatividade e inteligência, realizando com louvor a cada vez mais complicada tarefa de apresentar um filme de temática e gênero reconhecíveis mas de forma inovadora, não necessariamente através de um processo de desconstrução, mas  sim da mescla de referências - qualidades estas da geração que segue Johnson, formada por gente do naipe de Darren Aronofsky, Christopher Nolan, Quentin Tarantino, Guy Ritchie e, mesmo com os tropeços, o próprio Richard Kelly citado logo acima - que constituem um processo simples mas eficiente, que aposta assim na construção através da colcha de retalhos que formam suas influências, tanto que o próprio Johnson admitiu influências dos faroestes de Sergio Leone e de Chinatown, de Roman Polanski, na confecção de Brick, mostrando que o despertar criativo também vive no resgate de bons elementos de outras épocas, só que inseridas e executadas de maneira distinta, visto que passa a ser a visão do cineasta do estilo narrativo/visual do outro. Em suma, eis aí a mágica do cinema se renovando, sem deixar de prestar reverência a si mesmo.

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