26 outubro, 2012

Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: Vampire Hunter, EUA, 2012).


Creio que Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros vem ratificar pelo menos duas tristes realidades: primeiramente, que o escritor e agora roteirista de cinema Seth Grahame-Smith não leva jeito para este serviço e que Tim Burton vive uma má fase, seja como diretor, seja como produtor - por coincidência, Smith e Burton trabalharam juntos em Sombras da Noite, último trabalho deste como diretor, que mostrou-se uma obra bastante irregular. Talvez esta parceria não seja a ideal. Porém, no caso deste Caçador de Vampiros a direção (e co-produção) coube ao cazaquistanês Timur Bekmambetov, responsável pelos blockbusters russos Guardiões da Noite e Guardiões do Dia e pela adaptação de histórias em quadrinhos Procurado, sucesso "surpresa" de 2008. 

Porém, se nestes filmes citados parecia haver um rastro de inventividade ao estilo de direção Bekmambetov (quiçá como autor), eis que este filme põe toda essa impressão abaixo. O que ocorre é que a preferência do diretor por sequências recheadas de slow motion e absurdos visuais tomando conta da ação não funcionam a contento neste filme, visto que soam confusas demais e aparentemente com o intuito único de causar frisson. Enfim, visual jogado - nos cinemas, em 3D - na cara do espectador e pouca (ou nenhum substância). Após conferir este filme me ficou a impressão de que Timur Bekmambetov não é mais um grande nome do cinema atual de ação, dono de sacadas visuais criativas e inusitadas, mas sim uma versão genérica de Zack Snyder (300, Watchmen, o Filme) - o que para muitos não faz diferença alguma.

Já que no âmbito visual o filme não se mostra tão interessante, o que dizer do seu roteiro? A premissa de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros em si é absurda, mas como tudo é válido no escopo da ficção,  fica aqui o registro de que esta confirma o poder "criativo" de seu criador, Seth Grahame-Smith. No entanto, nem sempre o caminho entre uma boa ideia e um bom filme se cruzam e é justamente neste último ponto que Grahame-Smith falha. À exemplo de seu outro trabalho no cinema, o já citado Sombras da Noite, muita coisa é jogada no roteiro, que acaba por parecer mais com uma colcha de retalhos ou uma colagem de momentos para o público gritar "yeah" do que uma trama fantástica, amparada em "eventos reais", com início, meio e fim. As personagens do filme também são muito mal desenvolvidas, visto que não é dada profundidade dramática a nenhuma delas, tornando o filme bem vazio neste sentido. Nunca li uma obra de Grahame-Smith, mas espero que estas tenham mais nexo narrativo do que seus trabalhos cinematográficos.

Com um roteiro falho e foco ininterrupto em sequências de combate mais do que artificiais - o que acabou por me tirar um pouco do clima do filme -, não é de se espantar que as atuações do elenco não sejam lá essas coisas. O desconhecido Benjamin Walker - espécie de clone jovem de Liam Nesson - parece se esforçar, mas não convence nem como jovem Lincoln, nem com quilos de maquiagem e uma barba postiça quando Presidente dos Estados Unidos. Dominic Cooper (Capitão América: O Primeiro Vingador) - SPOLIER A SEGUIR - não esconde em momento algum que é um vampiro e Mary Elizabeth Winstead (Duro de Matar 4.0) resume-se a sorrir, enquanto Antony Mackie (Os Agentes do Destino) praticamente não aparece (ou traz relevância) no filme. O que falar dos vampiros vilões interpretados pela dupla Rufus Sewell (O Ilusionista) e Marton Csokas (Cruzada)? Vergonha alheia resume bem. Obviamente que o mérito da culpa não cabe exclusivamente aos atores, mas também ao já citado mal desenvolvimento das personagens que estes interpretam.

Outro aspecto que incomoda está na construção do universo vampirístico do filme. Se no âmbito visual e quanto ao seu conceito a coisa parece promissora, especialmente por mostrá-los - em sua maioria - como estrangeiros que dominam o lado sul (e escravagista) dos Estados Unidos e terem um visual que lembra bastante o das criaturas da série em quadrinhos Vampiro Americano, de Scott Snyder e Rafael Albuquerque, as motivações (quais?) e a forma de organização (qual?) aparecem jogadas e sem substância, se é que são mostradas.

Lendo até aqui a impressão dada é a de que o filme é horroroso, não? No entanto, este traz alguns elementos interessantes e, na maior parte do tempo, apesar dos furos e obviedade, cumpre razoavelmente seu papel como entretenimento. Contudo, dado o quilate dos nomes envolvidos e a curiosidade/interesse que o título Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros desperta, não deixa de ser um tanto quanto decepcionante o contexto geral do filme. Sendo assim, apesar de não ser o pior blockbuster do ano e possuir o mérito de não se tratar de uma sequência ou remake - no máximo, se encaixaria como uma reinterpretação -, infelizmente o filme ficou marcado em mim por ter revelado a "fraude" Timur Bekmambetov (pois é, o tinha em alta estima) e por comprovar mais uma vez a péssima fase vivida por Tim Burton como realizador (desde A Noiva Cadáver *, de 2005, que não vejo algo mágico do cineasta), que sinceramente espero que acabe com o lançamento do vindouro Frankenweenie, remake de um curta metragem do início de sua carreira e que, por coincidência, trata-se de uma animação em stop-motion. Quem sabe não falta a Burton um retorno quase que total a universo dos efeitos práticos e menos grandiloquência a Bekmambetov? Mas quem sou eu para sugerir alguma coisa. Creio que tenho que realizar meus próprios filmes e esperar pelas críticas.

(*Sweeney Todd, o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet é um filme legal, mas ao meu ver não encontra-se no nível de obras outras de Burton, como Batman, Edward Mãos de Tesoura, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas e o citado A Noiva Cadáver).

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