03 outubro, 2012

Batman: O Cavaleiro das Trevas Parte 1 (Batman: The Dark Knight Returns Pat 1, EUA, 2012).


Nunca havia imaginado a possibilidade de que um dia fosse existir uma adaptação - seja em animação ou live-action - da minissérie O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller e Klaus Janson, mais eis que a DC Entertainment, juntamente ao braço de home-video da Warner Bros. surpreendem e adaptam este marco dos quadrinhos no formato de animação e, com o intuito de ser o mais fiel possível à obra original, decidem dividir a minissérie em quadrinhos publicada em quatro partes em dois longas de animação. Após a conferida, é certo dizer que Batman: O Cavaleiro das Trevas Parte 1 é um produto muito bom, bastante fiel à fonte, mas principalmente dotado de personalidade própria, convencendo assim como obra fílmica também.

Seguindo os passos das últimas animações que utilizam personagens do universo DC, Batman: O Cavaleiro das Trevas apresenta um design parecido com o concebido por Frank Miller nos anos 1980, tanto na concepção das personagens, quanto no visual de Gotham City e até mesmo no estilo de narrativa apresentado, não chegando a ser a história em quadrinhos em movimento, mas consegue manter muito mais do que a essência da reverenciada minissérie. Em contrapartida ao eficiente resgate visual promovido pela animação, é notório que sua produção parece apresada, principalmente no que concerne a simplicidade dos traços das personagens - senti "pegada" semelhante na animação anterior do Batman, a interessante Batman: Ano Um, por sinal também baseada numa graphic novel escrita por Miller -, que quando acompanhados em alta definição parecem um tanto quanto bidimensionais demais, ao contrário dos "cenários" e "locações" (ou plano de fundo), que receberam um cuidado mais acentuado, inclusive possuindo texturas diversas. Obviamente este desencontro não atrapalha a imersão à obra, mas é válido como observação, principalmente por esta ser uma animação produzida em 2012 - há hoje tecnologia e recursos diversos disponíveis - e, especialmente, pelas possibilidades dessa linguagem, que ao meu ver tem seus melhores momentos (me refiro à animações tradicionais, popularmente conhecidas como 2D) nos animes japoneses. Sendo assim, por que não produzir uma obra com um apuro tal qual? Fica então a questão.

É certo que não falta adrenalina e sequências de ação ao filme, só que inteligentemente o diretor Jay Oliva  e o roteirista Bob Goodman mantiveram os fortes conceitos político-sociais que referenciam à obra original, dando assim um sub-texto todo especial a esta animação, sendo com certeza a mais profunda - também aprofundada - das animações de super-heróis da DC Comics lançadas até então. É claro que não há aqui o mesmo cuidado, "ironia" e paranoia tão caros a Miller - a bem verdade muita coisa é mostrada de forma bem mastigada, mas plenamente compreensível por se tratar de uma animação que abraça teoricamente vários tipos de públicos -, mas Goodman presta uma ótima homenagem ao escritor ao manter grande parte destes elementos, muitas deles sem quase nenhuma adaptação. Contudo, analisando friamente esta primeira parte, não sei ao certo se a história de O Cavaleiro das Trevas é perfeitamente própria à linguagem cinematográfica, especialmente apresentada de forma tão fortemente próxima a obra em quadrinhos, visto que apesar de manter um ritmo bom, em alguns momentos a dinâmica da animação é "frouxa", além do final sem fim ser um tanto quanto anti-climático. Mas, como já dito acima, tudo isso é perfeitamente compreensível e não diminui de modo algum a qualidade e competência da obra.

Não há como não destacar o excepcional trabalho de Paul Weller (o eterno RoboCop) como a voz de Batman/Bruce Wayne. Com uma voz grave marcante e aplicando um certo ar de desprezo e desapego quando o personagem está portando o traje que o trás de novo a vida, Weller se estabelece talvez como a melhor voz do personagem em anos (desculpe-me, Kevin Conroy, você também é estupendo). É válido citar também os bons trabalhos de David Selby, como o prestes a se aposentar Comissário Gordon,  de Wade Williams (conhecido como o Bellick, da finada série Prison Break) como Harvey Dent/Duas Caras e de Gary Anthony Williams, como o líder dos mutantes, que acaba sendo o grande oponente de Batman nesta primeira parte da trama. Entretanto, não seria justo não destacar também a diretora de dublagem Andrea Romano, que participa das animações da DC desde pelo menos a série animada do Batman de 1992 e que desde então vem fazendo um trabalho exemplar ao selecionar e dirigir as diversas vozes que perpassaram por tantos e tantos personagens.

Possuidor de referências visuais diversas que prezam por honrar à obra original, com um roteiro bem construído, que dosa com serenidade discussão e ação, além de ser essencialmente uma obra de entretimento competente e divertida, Batman: O Cavaleiro das Trevas é uma ótima surpresa, seja por se nivelar a versão dos quadrinhos, seja por apresentar uma cara própria - na medida do possível -, sagrando-se assim mais competente e interessante do que a maioria das demais adaptações diretas de arcos de histórias em quadrinhos da DC (como Superman/Batman: Inimigos Públicos,  Superman/Batman: Apocalipse, Grandes Astros: Superman e a já citada Batman: Ano Um, dentre outras). Um ótimo filme de animação que deixa uma imensa expectativa para a parte final, na qual possivelmente seremos surpreendidos, já que nela tem-se a presença do mais interessante dos antagonistas do homem-morcedo, o Coringa.

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