"Acredite ou não, ele é o mocinho". (Frase do poster promocional do filme).
Hellboy II: O Exército Dourado, sequência do filme de 2004, é esplendoroso. Entretenimento de primeira qualidade que pulsa criatividade a cada quadro, esta nova incursão do cineasta mexicano Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno) no universo do demônio das HQs difere em tom e estilo do filme original, mas é justamente disso que surge sua força e o torna uma obra tão boa quanto aquela. Novamente estrelado por Ron Perlman (O Nome da Rosa), Selma Blair e Doug Jones (Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado), este filme deixa um pouco de lado o clima soturno e visual steampunk para abraçar um tom mais próximo a fantasia e a mitologia (celta, talvez), apresentando um conflito milenar entre elfos e homens, a feitura de um poderoso exército mágico e o plano de vingança de Nuada (Luke Goss, de Blade II), o príncipe dos elfos, que credita a humanidade (com razão, por sinal) a culpa pela lastimável situação do planeta nos dias de hoje. Obviamente que o estratagema de vingança do príncipe não é tão honrável, mas em essência sua causa é compreensível. Entretanto, apesar de possuir um viés mais filosófico do que o filme anterior, Hellboy II também incrementa no que se refere a ação e a inclusão de humor, um elemento fortíssimo nessa sequência.
Não há o que reclamar quanto ao visual do filme. Se o anterior já se destacava neste quesito (uma das particularidades dos trabalhos de Del Toro), Hellboy II sagra-se ainda melhor, tanto no que se refere aos efeitos produzidos por computação gráfica, quanto nos de origem protética (maquiagens e afins). O design de produção do filme também é fascinante, com diversas novas criaturas e lugares ganhando vida, graças a imaginação de Del Toro e a competência de seus parceiros. A ambientação do filme é primorosa, sendo talvez até mais concisa do que o roteiro, mesmo este soando interessante e bem amarrado. A bem verdade a produção do filme é tão chamativa que o mesmo aparenta ter custado bem mais do que gastou (seu orçamento beira os 85 milhões de dólares), o que é mérito de toda a equipe do filme.
O humor e o romance tem grande destaque aqui, tendo Hellboy e Abe Sapien (Doug Jones) ganhado mais inserções cômicas - incluindo uma cena em que os dois cantam e se embriagam com cerveja -, mostrando que o objetivo de Guillermo Del Toro era o de se afastar ao máximo do primeiro filme não pela sua insatisfação com aquele, mas com o intuito de apresentar um produto distinto e que acompanhasse a evolução tanto dos personagens quanto do universo apresentado pelo filme. É tão verdade que são várias as pistas jogadas ao longo da obra que sugerem um terceiro capítulo onde Hellboy provavelmente se verá no dilema de cumprir a profecia de tornar-se o arauto da destruição do planeta ou não. Além disso, o próprio Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal chama mais a atenção da sociedade - tendo Hellboy como principal "culpado" pela exposição do órgão até então "secreto" -, comprovando a preocupação de Del Toro em evoluir o cenário.
As cenas de ação do filme também funcionam muito bem, principalmente por que os desafios encarados pelo anti-herói título são dos mais distintos, desde fadas-do-dente endiabradas, passando por uma criatura que lembra um troll de O Senhor dos Anéis e um elemental planta gigante, que gera uma das melhores - e mais bem feitas - sequências de ação do filme. Some-se a isso a ótima condução do cineasta - é inegável que Del Toro saber como filmar, visto que estabelece muito clima do filme através dos ângulos e planos de câmera escolhidos -, aliada a sempre competente fotografia de seu parceiro habitual Guillermo Navarro, além da bem posta trilha sonora composta por Danny Elfman (Sombras da Noite) - que curiosamente soa menos grandiloquente do que o comum, o que faz bem neste caso - completam a organicidade dos elementos audiovisuais do longa, que se mostra bem orquestrado do início ao fim.
Em síntese, prefiro a ambientação dark e ocultista do primeiro, mas é inegável que visualmente e, por que não, organicamente, Hellboy II: O Exército Dourado é superior aquele. Vindo do sucesso de crítica e público obtido com O Labirinto do Fauno e, consequentemente, com carta branca para ousar mais nesta sequência do filme de 2004, Del Toro apresenta aqui as mais interessantes criaturas e ambientes da franquia, criando personagens inusitados e criativos, mas dotados de sentido além do estético, já que estes elementos estilizados trazem sentido a narrativa e preenchem o filme com propriedade, confirmando a aptidão do cineasta como criador de universos distintos e certamente estranhos, mas que não causam repulsa, mas sim encantamento.
Até então o último filme do cineasta mexicano, Hellboy II é considerado por muitos um produto mais "DelToresco" do que "Mignolesco" (de Mike Mignola, o criador do personagem), pelo fato de sua abordagem não ter tanto a ver com o universo mais ligado ao ocultismo e ao sobrenatural das histórias em quadrinhos, mas sim guardar relações com o próprio imaginário do diretor, assumidamente amante de contos de fadas e romances góticos. É certo que o humor tirou um pouco do impacto dramático do filme - que, convenhamos, possui um subtexto de cunho mais profundo que o do filme anterior -, mas em contrapartida o fez ganhar em diversão, tornando este um filme ao mesmo tempo diferente e igual ao antecessor, pois a maioria dos personagens apresentados em Hellboy encontram-se neste, mas agora dispostos em situações distintas das vividas anteriormente. Como dito, Hellboy II: O Exército Dourado é um filme distinto cuja ordem primeira é evolução e, independentemente de preferências, sagra-se como um filme tão interessante e bem realizado quanto o primeiro.
Não há o que reclamar quanto ao visual do filme. Se o anterior já se destacava neste quesito (uma das particularidades dos trabalhos de Del Toro), Hellboy II sagra-se ainda melhor, tanto no que se refere aos efeitos produzidos por computação gráfica, quanto nos de origem protética (maquiagens e afins). O design de produção do filme também é fascinante, com diversas novas criaturas e lugares ganhando vida, graças a imaginação de Del Toro e a competência de seus parceiros. A ambientação do filme é primorosa, sendo talvez até mais concisa do que o roteiro, mesmo este soando interessante e bem amarrado. A bem verdade a produção do filme é tão chamativa que o mesmo aparenta ter custado bem mais do que gastou (seu orçamento beira os 85 milhões de dólares), o que é mérito de toda a equipe do filme.
O humor e o romance tem grande destaque aqui, tendo Hellboy e Abe Sapien (Doug Jones) ganhado mais inserções cômicas - incluindo uma cena em que os dois cantam e se embriagam com cerveja -, mostrando que o objetivo de Guillermo Del Toro era o de se afastar ao máximo do primeiro filme não pela sua insatisfação com aquele, mas com o intuito de apresentar um produto distinto e que acompanhasse a evolução tanto dos personagens quanto do universo apresentado pelo filme. É tão verdade que são várias as pistas jogadas ao longo da obra que sugerem um terceiro capítulo onde Hellboy provavelmente se verá no dilema de cumprir a profecia de tornar-se o arauto da destruição do planeta ou não. Além disso, o próprio Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal chama mais a atenção da sociedade - tendo Hellboy como principal "culpado" pela exposição do órgão até então "secreto" -, comprovando a preocupação de Del Toro em evoluir o cenário.
As cenas de ação do filme também funcionam muito bem, principalmente por que os desafios encarados pelo anti-herói título são dos mais distintos, desde fadas-do-dente endiabradas, passando por uma criatura que lembra um troll de O Senhor dos Anéis e um elemental planta gigante, que gera uma das melhores - e mais bem feitas - sequências de ação do filme. Some-se a isso a ótima condução do cineasta - é inegável que Del Toro saber como filmar, visto que estabelece muito clima do filme através dos ângulos e planos de câmera escolhidos -, aliada a sempre competente fotografia de seu parceiro habitual Guillermo Navarro, além da bem posta trilha sonora composta por Danny Elfman (Sombras da Noite) - que curiosamente soa menos grandiloquente do que o comum, o que faz bem neste caso - completam a organicidade dos elementos audiovisuais do longa, que se mostra bem orquestrado do início ao fim.
Em síntese, prefiro a ambientação dark e ocultista do primeiro, mas é inegável que visualmente e, por que não, organicamente, Hellboy II: O Exército Dourado é superior aquele. Vindo do sucesso de crítica e público obtido com O Labirinto do Fauno e, consequentemente, com carta branca para ousar mais nesta sequência do filme de 2004, Del Toro apresenta aqui as mais interessantes criaturas e ambientes da franquia, criando personagens inusitados e criativos, mas dotados de sentido além do estético, já que estes elementos estilizados trazem sentido a narrativa e preenchem o filme com propriedade, confirmando a aptidão do cineasta como criador de universos distintos e certamente estranhos, mas que não causam repulsa, mas sim encantamento.
Até então o último filme do cineasta mexicano, Hellboy II é considerado por muitos um produto mais "DelToresco" do que "Mignolesco" (de Mike Mignola, o criador do personagem), pelo fato de sua abordagem não ter tanto a ver com o universo mais ligado ao ocultismo e ao sobrenatural das histórias em quadrinhos, mas sim guardar relações com o próprio imaginário do diretor, assumidamente amante de contos de fadas e romances góticos. É certo que o humor tirou um pouco do impacto dramático do filme - que, convenhamos, possui um subtexto de cunho mais profundo que o do filme anterior -, mas em contrapartida o fez ganhar em diversão, tornando este um filme ao mesmo tempo diferente e igual ao antecessor, pois a maioria dos personagens apresentados em Hellboy encontram-se neste, mas agora dispostos em situações distintas das vividas anteriormente. Como dito, Hellboy II: O Exército Dourado é um filme distinto cuja ordem primeira é evolução e, independentemente de preferências, sagra-se como um filme tão interessante e bem realizado quanto o primeiro.
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