12 outubro, 2012

O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, EUA, 1991).


Vencedor dos Oscar de melhor filme, melhor direção (Jonathan Demme, de Filadélfia), melhor roteiro adaptado (Ted Tally, de Dragão Vermelho), além de melhor ator (Anthony Hopkins, de Ritual) e melhor atriz (Jodie Foster, de Taxi Driver), O Silêncio dos Inocentes é mais do que um grande filme e hoje tido um clássico, é um marco da história do cinema, visto que é um dos raros filmes a vencer as principais categorias do Oscar - somente Aconteceu Naquela Noite, de 1934 e Um Estranho no Ninho, de 1975 -, assustar principalmente pelo fato de não mostrar, apenas sugerir eventos e, também, pelo fato de ter apresentado talvez o maior dos vilões tridimensionais de toda a história da sétima arte.

Desde a abertura, onde acompanhamos o isolamento de Clarice, personagem de Jodie Foster, durante uma corrida nos arredores da sede do FBI, aspecto este que será prontamente relacionado ao cerne da própria personagem, ao destaque que a mesma recebe da câmera por apresentá-la como praticamente única mulher inserta no ambiente masculino que é a sede da agência de investigação criminal dos Estados Unidos, culminando no seminal primeiro encontro desta com o instantaneamente icônico Dr. Hannibal Lecter (Hopkins), na instituição mental na qual este está instalado, percebe-se que O Silêncio dos Inocentes não é um thiller qualquer, pois o roteiro de Ted Tally (baseado no romance best-seller de Thomas Harris) é inteligente e brilhantemente arquitetado para despertar a curiosidade do espectador do início ao fim e a direção de Demme, que praticamente posta sua câmera como sob o ponto de vista de um animal prestes a atacar sua vítima (voyeurística, talvez), é de uma técnica e sensibilidade ímpares. Não à toa os quatro citados foram congratulados com as estatuetas referidas acima.

O que falar das performances de Foster e Hopkins? Talvez pelo carisma exercido por Hannibal Lecter - tanto graças à construção personagem quanto a performance marcante do ator -, a visão de Hopkins acabe sendo mais lembrada e discutida e isto não é de maneira algum errado, pois realmente sua composição beira à perfeição, visto que nos apresenta um personagem ao mesmo tempo sagaz, culto e carismático, mas também cruel e sádico, deixando o espectador num sério conflito de identidade acerca do gosto/não gosto automático que temos pelo personagem e, consequentemente, pela performance de Anthony Hopkins. Contudo, apesar desta ser inquestionavelmente primorosa, destacaria ainda mais a caracterização de Jodie Foster para sua agente Clarice. 

Jovem, inexperiente e dona de uma fragilidade que salta aos olhos, a personagem não possui o mesmo carisma nem desperta tanto interesse quanto Lecter, por isso que, conforme Foster vai aperfeiçoando seus maneirismos e detalhes interpretativos, apresentando uma evolução contínua à personagem, esta ganha mais vida e, consequentemente desperta o interesse até então inativo do espectador, que provavelmente roerá todas as unhas e não aguentarão permanecer sentados no clímax derradeiro do filme. Talvez o grande momento da personagem no filme, é inegável o trabalho e a qualidade da atuação de Foster, que transmite todo o medo e insegurança de Clarice que já vinha sido sugerida durante todo o filme.

Derrotando gente do porte de Martin Scorsese, Oliver Stone, Robert De Niro e Susan Sarandon, além de ótimos filmes como JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar, Bugsy e até mesmo a animação da Disney A Bela e a Fera, O Silêncio dos Inocentes é um filme assustador, intimista e profundo, especialmente no que se refere ao estabelecimento da natureza humana - o que são as personagens de Foster, Hopkins e de Ted Levine, que vive o assassino serial apelidado de Buffalo Bill se não arquétipos de psichés humanas? -, que mostrou-se um sucesso há pouco mais de duas décadas e que continua a ser excepcional até hoje, tendo desde então poucos títulos chegado ao seu nível de excelência técnica e conceitual. Foram lançadas diversas outras obras que revisitaram elementos do filme, como a sequência divisora de opiniões Hannibal, dirigida por Ridley Scott e a prequel Dragão Vermelho, de 2002, que é um bom filme, mas é inegável que nenhuma destas (e outras mais) chegaram aos pés deste clássico.

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:

Podcast do site Os Cinéfilos sobre O Silêncio dos Inocentes
Bilheteria:

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