08 outubro, 2012

A Supremacia Bourne (The Bourne Supremacy, EUA, 2004).

"Eles deveriam tê-lo deixado sozinho" (Frase que ilustra o cartaz oficial do filme).
Sequência do excelente A Identidade Bourne, lançado em 2002, A Supremacia Bourne marca o retorno de Matt Damon (Compramos um Zoológico) ao papel de Jason Bourne, um ex-agente da CIA que perdeu a memória numa missão obscura. Após os eventos apresentados no longa original, Bourne encontrava-se exilado junto à Marie (Franka Potente, de Corra Lola Corra) na Índia, quando é "surpreendido" por um ataque que acaba por apresentar novos elementos à sua busca por informações do seu passado, especialmente de sua ligação com o misterioso projeto Treadstone, mesmo que sob circunstâncias fora de seu controle. Ao contrário do filme anterior, que mostrava Bourne procurando montar o quebra-cabeças que representava seu passado, enquanto a CIA era "surpreendida" por sua volta à vida, neste filme acompanhamos o ex-agente sendo caçado por algo que não cometeu e indiretamente levado a buscar novas revelações sobre a Treadstone.

Tendo a cadeira de diretor ocupado agora pelo inglês Paul Greengrass (Vôo United 93) - Doug Liman retornou apenas na cadeira de produtor -, A Supremacia Bourne traz pelo menos dois novos elementos à já bem sucedida linguagem da agora franquia Bourne: a utilização frequente de câmeras de mão na captação da maioria das cenas - inclusive as de ação -, conferindo um aspecto mais frenético e documental (no sentido de proximidade e falta de foco) e a inclusão de elementos políticos à trama de forma mais aprofundada, inclusive referenciando tanto visualmente quanto narrativamente os conflitos ainda hoje existentes entre a política ocidental de ordem capitalista e os ecos de indecisão dos redutos socialistas do leste europeu, representados não só por Moscou (que, por sinal, ambienta uma das melhores sequências de ação da década), mas também por Berlim, que acaba por representar a metáfora maior de cidade historicamente envolvida tanto com práticas capitalistas quanto socialistas (a Alemanha, por muito tempo, foi dividida por estas duas orientações). Estes elementos juntamente ao resgate das melhores ideias do longa anterior contribuíram para que esta sequência superasse em quase todos os sentidos o filme de 2002.

O elenco do filme continua a ser de primeira grandeza e conta com as voltas de Brian Cox (Voo Noturno) e Julia Stiles (10 Coisas Que Odeio em Você), além de Potente e Damon e traz a ótima Joan Allen (As Bruxas de Salém) - que "destrói" o personagem de Cox num dos melhores diálogos do longa -  e uma pequena - mas eficaz - participação de Karl Urban (Dredd) como o algo físico de Jason Bourne. Juntando estes nomes com a precisão e dinamicidade de Greengrass como diretor de atores ao roteiro frenético e cheio de detalhes de Tony Gilroy (Conduta de Risco), temos aqui uma obra que deve muito ao filme dirigido por Doug Liman, mas que consegue trazer novos elementos, dar prosseguimento orgânico à trama daquele e, sem sombra de dúvidas, resulta num produto maior e melhor, sem nenhum desmerecimento ao filme anterior, até por que o mesmo também é excepcional.

Dentre tantos pontos de destaque do filme, elencaria a conjunção perfeita entre a montagem do filme e a trilha sonora assinada por John  Powell (Shrek), que de tão orgânica provavelmente não funcionaria tão bem caso desconjugada uma da outra. Quanto à montagem, provavelmente esta foi idealizada por Greengrass, visto que os cortes rápidos - muitas vezes tendo um outro quadro da cena retirado, o que dá ainda mais dinâmica as cenas - e a contraposição entre planos abertos e closes são aspectos comuns à filmografia do diretor inglês. Obviamente merecem créditos os feitores das vontades de Greengrass, os montadores Christopher Rouse e Rick Pearson.

Conjuntamente à escalação de Paul Greengrass como diretor e a sua estética "documental", soma-se o grande trabalho fotográfico de Oliver Wood (Protegendo o Inimigo), que apostou ainda mais na granulação e na exposição de cores "naturais" neste filme, dando um certo prosseguimento lógico ao seu trabalho em A Identidade Bourne. Outro ponto de avanço encontra-se na elaboração e principalmente na realização das sequências de ação, tanto aos combates mano a mano quanto a já clássica marca da série Bourne, as perseguições à carro. Enquanto as lutas ganharam ainda mais ritmo e sensação de periculosidade devido a reunião de todos os elementos citados nos parágrafos acima, as sequências de perseguição, especialmente a da tentativa fuga de Bourne nos arredores de um metrô e o clímax final nas ruas de Moscou são literalmente de tirar o fôlego, alcançando o mesmo grau de adrenalina e organicidade das do filme primeiro. Ouso dizer que A Supremacia Bourne, mais do que A Identidade, influenciaram a reestruturação da franquia 007 nos anos 2000.

Um dos maiores sucessos de crítica e bilheteria entre os blockbusters norte-americanos lançados no ano de 2004, sedimentador de tendências e um dos filmes de ação mais eficientes da história do cinema, A Supremacia Bourne supera o filme anterior em todos os sentidos, mas de forma a não desmerecê-lo, mais sim seguindo uma rara, mas almejada evolução, além de confirmar de uma vez por todos o talento de Matt Damon também como "mocinho" de filmes de ação. Muito bem construído, executado e dono de um conteúdo político tão interessante quanto os enigmas que remontam o trinômio Jason Bourne/CIA/Treadstone, o filme promove um caminhar orgânico a história de Bourne, humanizando ainda mais o personagem e provavelmente deixando o espectador eufórico para conhecer o que o aguarda em seguida.

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:

Texto sobre O Ultimato Bourne (2007)
Bilheteria:

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