09 janeiro, 2013

Frankenweenie (EUA, 2012).


Mesmo sendo um ótimo argumentista e criador de mundos fictícios, Tim Burton (Sombras da Noite) nunca foi um grande roteirista, tendo seus melhores filmes contado sempre com apoio de um sujeito competente e com habilidade para transpor as pirações do cineasta de forma crível e alinhada, ou seja, com cara e estrutura cinematográfica. Contudo não é fácil alinhar as ideias do diretor, tanto é que não é raro - especialmente nos últimos dez anos - nos depararmos com um filme do diretor dono de uma estética primorosa, mas com um roteiro mal aplicado, quase como se não houvesse tido um link entre as pretensões do diretor e a tradução em linhas realizada pelo seu roteirista. Felizmente, num ano em que tivemos mais um filme abaixo da média do diretor - na verdade um projeto de Johnny Depp, Sombras da Noite -, Burton mostra que não perdeu a mão e entrega uma ótima animação em stop-motion, recheada de referências aos filmes de horror de antigamente e com aquele toque pontual de ironia e exploração de estereótipos visuais, tão caros ao diretor, intitulada Frankenweenie.

É bem verdade que o conceito do filme não é novo, pois se trata de um remake estendido de um dos primeiros curtas-metragem de sua carreira, mas o ponto notável é que esta nova versão resgata com força o clima e a energia dos melhores filmes de Burton (talvez ajude o fato de que alguns dos atores envolvidos nesta produção sejam velhos parceiros do diretor, como Martin Landau, Winona Ryder e Martin Short). Como o título já adianta, a referência maior do filme é o romance Frankenstein, de Mary Shelley, mas a história do garoto que traz seu cachorro de volta a vida tem elementos próprios, mesmo que recortados de inúmeras outras obras de horror, seja do cinema, literatura ou quadrinhos. Bastante emocional - outro aspecto que estava a dever nas produções recentes de Burton -, Frankenweenie carrega uma mensagem bonita e convincente acerca de amor e amizade, metaforizada na relação entre o garoto Victor (Charlie Tahan) e seu cão Sparky.

Como toda produção de Tim Burton, o visual do filme é de encher os olhos. Desde a opção estética pela fotografia em branco e preto, que valoriza bastante a técnica de animação em stop-motion, passando pelo desenho de produção (a cargo de Rick Heinrichs, de Capitão América: O Primeiro Vingador) e figurino das personagens e pela cenografia acurada. Todos eles tratam de proporcionar a imersão do espectador no imaginário de Burton, mas é no carisma das personagens que reside o grande chamariz do filme. Obviamente o garoto Victor e Sparky cumprem seus papeis como norteadores da trama, mas talvez a personagem mais emblemática seja a do professor Rzykruski, cuja voz (e aparência) é emprestada do veterano Martin Landeau (Cine Majestic).

Parceiro habitual de Burton, coube ao roteirista John August (Peixe Grande e suas Maravilhosas Histórias, A Fantástica Fábrica de Chocolate) aplicar as ideais do cineasta no filme, o que resultou bem na maior parte do filme, tendo apenas seu terceiro ato tornado confuso e um tanto quanto ilógico - até mesmo dentro da ideia proposta pelo filme -, provavelmente pela falta de substância proposta por Burton, até por que é mais do que reconhecível sua paixão por criaturas esquisitas. O aspecto que ao meu ver enfraquece a narrativa do filme se encontra na forçada de barra do surgimento de um sem número de criaturas ressuscitadas, mas transformadas em bichos horrendos sem sentido algum - a conversa de que estas sairiam assim por que não foram "evocadas" com amor é mais furada que peneira velha - acaba por tirar a atenção do filme, que caminhava numa toada bastante emocional, para não dizer existencial, mas que a partir daí se perde numa série de esquetes cuja única finalidade é a de homenagear momentos de filmes clássicos de horror, incluindo aí toda uma sequência narrativa estrelada por um garoto cuja fisionomia é igual a de Boris Karloff como a criatura de Frankestein. Homenagem sempre é válida, mas tem que estar integrada a narrativa e fazer sentido lógico quando inserta na mesma, coisa que infelizmente não ocorre no filme.

Exceptuando esta irregularidade, não há como se negativizar Frankeenweenie, mas sim constatar que mesmo não chegando à completude esta é sem sombra de dúvidas uma das melhores obras da carreira de Tim Burton e indiscutivelmente a melhor desde A Noiva Cadáver, que por coincidência (ou não) também se trata de uma animação em stop-motion. Pode faltar a Burton certo apuro crítico acerca do que explorar ou não em seus filmes, talvez por isso alguns pareçam um colcha de retalhos sem foco específico, porém apoiados numa estética no mínimo interessante, mas em Frankeenweenie a coisa parece voltar a caminhar bem. Talvez o afastamento - pelo menos temporário - da parceria com Johnny Depp tenha dado certa flexibilidade ao artista Tim Burton, talvez não. O fato é que Frankeenweenie é uma ótima obra, mesmo que aparentemente venha a encantar mais aos adultos que as crianças.

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:
Bilheteria:
Filmes de TIM BURTON comentados no CineMografia.

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