19 janeiro, 2013

O Príncipe do Deserto (Black Gold, TUN/FRA/ITA/CAT, 2011).


Mal lançado, mal distribuído e pessimamente criticado, O Príncipe do Deserto marca o retorno do francês Jean-Jacques Annaud (O Nome da Rosa) à direção após quatro anos de inatividade. Quase que totalmente bancado pelo investidor tunisiano Tarak Ben Ammar (Quinta Communications), este filme co-produzido por Tunísia, França, Itália e Qatar e com custos estimados 55 milhões de dólares é um épico romântico que resgata muito do cinema clássico do gênero, referenciando principalmente o magistral Lawrence da Arábia, de David Lean, especialmente nos grandes planos abertos que destacam à beleza e à aflição dos grandes desertos árabes e na mais do que presente trilha sonora, que aqui é assinada pelo premiado James Horner (Titanic). Não que o filme seja impecável, mas sua produção caprichada - mesmo fora do eixo hollywoodiano - e o contexto central da história, que aborda de forma simples e objetiva as diferenças políticas do Emir de Hobeika (Antonio Banderas) e do Sultão de Salmaah (Mark Strong). A trama em si pode ser um tanto simplista, mas as ideias entrelaçadas nela, mesmo que não sejam grandes novidades, são bem dispostas e podem gerar bons debates.

Em síntese O Príncipe do Deserto trata do embate ideológico-religioso entre as personagens de Banderas e Strong, especialmente após o rompimento de um pacto sobre a exploração de uma região nomeada de faixa amarela, que é rica em petróleo. O desenvolvimento dos pensamentos distintos das personagens resulta num bom resumo acerca das visões diversas que os líderes políticos do Oriente Médio possuem tanto da religião islâmica quanto da extração e venda de petróleo. As composições dos atores estão bem postas, com ligeiro destaque para a de Strong, que abraça sua personagem de forma menos cartunesca que Banderas. Há uma trama paralela que trata do filho do Sultão, entregue ao Emir como forma de pacto, que no filme é interpretado pelo francês de origem algeriana Tahar Rahim (O Profeta) e seu envolvimento com a filha deste (Freida Pinto, de Imortais), além de sua ascensão como figura central do filme, com o poder de reunir as tribos em uma única causa e demais clichês que perpassam os grandes épicos.

É certo que o filme não é dos mais dinâmicos, porém o reforço contínuo das duas visões dispostas pelos personagens, que trata de "progresso" versus "conservadorismo" e que custo a escolha de um só destes caminhos traria ao povo árabe acaba por distrair a mente do espectador, despertando interesse no porvir da história. Vez ou outra há um certo ranço na trama e pode-se tomar seu final como um tanto incômodo - talvez pelo foto de se apoiar em demasias nas convenções românticas hollywoodianas, mesmo que o filme não tenha sido made in Hollywood -, porém o filme reserva grandes momentos e possui mais características positivas que negativas, sendo assim bastante injustas as generalizadas más avaliações galgadas pelo filme (Rotten Tomatoes que o diga). 

Tecnicamente primoroso - com óbvios destaque para sua fotografia (Jean-Marie Dreujou, de Era uma Vez Dois Irmãos) -, dono de uma direção segura, que homenageia com serenidade os grandes épicos da era de ouro do cinema norte-americano - especialmente os filmes de David Lean -, O Príncipe do Deserto pode não ser o melhor trabalho da carreira de Jean-Jacques Annaud e carregar alguns vícios de narrativa em seu roteiro (especialmente no "quadradismo" de seu desfecho), contudo é ambicioso, bem filmado e instigante, além de esteticamente aprazível e grandioso como todo épico deveria ser. Por fim, esta primeira superprodução bancada por investidores árabe feita para exportação não deixa nada a dever aos grandes filmes do gênero produzidos pelos grandes estúdios de cinema.  

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