15 janeiro, 2013

Memórias Póstumas (BRA, 2001).


"Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?" (Reflexão dada pelo fantasma de Brás Cubas, personagem de Reginaldo Faria).

O cinema nacional parece não acertar com frequência o tom "ideal" de suas adaptações de obras literárias. Felizmente este Memórias Póstumas sagra-se como um bom acerto, que mimetiza a obra original de Machado de Assis de maneira respeitosa e inteligente, mesmo que em função de uma maior objetividade narrativa abdique um pouco da ironia e da acidez do texto original. Contando com roteiro e direção de André Klotzel (A Marvada Carne), Memórias Póstumas mostra-se como uma comédia de época bastante requintada, dona de um andamento bastante dinâmico, de um bom elenco - onde o maior destaque encontra-se na figura do veterano e extremamente carismático Reginaldo Faria (Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia), que interpreta o fantasma de Cubas), que acaba por disfarçar alguns pequenos problemas da produção, especialmente no âmbito técnico.

Não possuo informações quanto ao orçamento disposto à produção do filme por Klotzel, mas a julgar pelas imagens e pela pouca ousadia fotográfico do filme, acredito eu que esse não tenha sido generoso, o que acarreta em certas limitações estéticas que acabam prejudicando a obra, especialmente pela mesma ser "obrigada" a utilizar muitos ambientes e planos fechados, que não exploram tão bem a espacialidade das locações. É certo que praticamente não vislumbramos com grande impacto a cidade do Rio de Janeiro do século XIX (período abordado pelo filme).

Klotzel também não traz grande ousadia em seu estilo de direção, compondo um filme com poucos momentos de brilhantismo no âmbito visual. A propósito, em alguns momentos seu modo de filmar acaba lembrando bastante a linguagem televisiva, não sendo assim estranho imaginar a obra como uma produção feita para tevê.

Mesmo que falte um pouco mais de densidade ao texto adaptado e uma maior exploração dos ambientes apresentados, sobra qualidades a Memórias Póstumas, pois este é um dos grandes filmes a tratar de uma obra de Machado de Assis, quiçá a melhor até então. Contando também com ótimo elenco de apoio, onde vale a pena destacar as performances de Sonia Braga (Gabriela), Marcos Caruso (Irma Vap - O Retorno) e Petrônio Gontijo (Cristina Quer Casar), que interpreta o jovem Brás Cubas, e com um ótimo desenvolvimento de trama - muito, como dito, graças ao carisma do narrador fantasma de Reginaldo Faria -, o filme sagra-se não só como um bom tributo a uma das maiores obras literárias em língua portuguesa, como um filme bastante único, irreverente e bem executado.

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Concorda com o texto? Comente abaixo! Discorda? Não perca tempo, exponha sua opinião agora!