"Vou dizer algo que você já sabe: o mundo não é feito de arco-íris. É um lugar ruim e duro. E não importa o quão forte seja, vai colocá-lo de joelho e vai deixá-lo lá. Ninguém vai bater mais forte do que a vida. Mas não importa como bate, e sim o quanto aguenta apanhar e continuar tocando. O quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha. Se tem valor, busque o que é digno de você. Tem que estar disposto a apanhar e não levar dedo na cara, dizendo que não é o que deseja por causa de ninguém. Covardes fazem isso. Você não é assim, é melhor que isso. Sempre vou amar você de qualquer jeito, não importa o que aconteça. Você é meu filho e é meu sangue. É a melhor coisa da minha vida, mas até acreditar em si mesmo, não terá uma vida" (Discurso de Rocky Balboa para seu filho).
Assim como Rocky, um Lutador, de 1976, foi uma surpresa, a simples existência deste sexto - e último - capítulo da franquia do garanhão italiano, Rocky Balboa, também é. Resgatando o espírito e a introspecção do filme original, essa investida de Sylvester Stallone (Os Mercenários) não poderia ter se saído melhor, especialmente pela sua alta carga emotiva, que inclusive é a principal responsável pela anulação imediata da descrença quanto a possibilidade de um homem semi-sexagenário e fora de forma voltar a participar de um combate de boxe. Mas a idealização e o tom idílico sempre caminharam juntos na franquia e mesmo que em alguns dos episódios o resultado não tenha sido tão interessante, aqui deu tudo certo, inclusive no que se refere ao conteúdo da obra, que também foi perdendo o rumo nas sequências posteriores, mas é resgatada de forma completa e convincente neste Rocky Balboa, inclusive soando renovada e fortificada pelo tempo, assim como o personagem título.
O final da década de 1990 e início da década de 2000 não foi boa para Stallone, tanto que sua nova empreitada na franquia Rocky, 16 anos após o último filme não foi muito bem vista, tanto pelo declínio sofrido pela carreira do ator/diretor, quanto pelo fato do mesmo não encontrava-se mais jovem. Entretanto, Stallone surpreendeu em todos os sentidos, entregando um filme dono de um roteiro crível e bem narrado, que encerra com dignidade a franquia - ao contrário do até então último capítulo, que mesmo não sendo ruim era sensivelmente inferior ao filme original -, tecnicamente interessante - o considero mais bem resolvido do que o primeiro, por exemplo - e com um forte apelo emocional, especialmente por parte do elenco, tendo como óbvio destaque a performance de Sly, que retoma o espírito misto de pária da sociedade e crente na superação de Balboa em Rocky, um Lutador, além de encontrar-se em ótima forma física, que é testada e aprovada na ótima sequência de luta final, por sinal muitíssimo bem realizada.
Arrisco dizer que Rocky Balboa é o filme mais profundo de toda a franquia, justamente pela missão de fechar o ciclo iniciado pelos altos e baixos dos filmes anteriores, devolvendo se não as conquistas materiais de Balboa, o espírito de esperança e glória. Sem contar com o suporte de sua esposa Adrian e passando por dificuldades no relacionamento com seu filho (Milo Ventimiglia, da série Heroes), como quase tudo na vida do ex-pugilista uma oportunidade de conquistar paz interior através de seu esforço físico (e mental, por que não) surge e o mesmo não perde tempo e a agarra, mesmo com as óbvias adversidades que o tempo - sempre ele - impõe de forma cruel. Balboa não está atrás de honras, sucesso ou reconhecimento. Ele apenas que expurgar um mal que carrega dentro de si - metaforizado pelo mesmo como um porão dentro de si -, sentindo que deve para si mesmo uma última chance e, como sempre em sua vida, corre atrás desta e com ou sem vitória, conquista com seu próprio esforço sua sina.
São diversos os ecos narrativos e estéticos deste filme com o original de 1976, talvez reflexo do orçamento "apertado" de ambos e o fato de terem surgido da necessidade criativa de Stallone e não por imposição de produtores. Certamente Sylvester Stallone não é dos diretores mais técnicos e inventivos, mas é de se aplaudir suas escolhas estéticas para este filme, que apresenta algumas pequenas sacadas visuais que não só resgatam o clima original da franquia, como também expõe o estado de espírito de Balboa. Entretanto, é na sequência de boxe que o diretor tem seu maior acerto, optando por filmá-la de forma a emular uma transmissão de tevê, o que resulta num dinamismo e ritmo melhor, além de ser esteticamente mais condizente com o cinema hoje.
Foi após assistir Rocky Balboa que me foi despertado o interesse em assistir a franquia por completo - não havia gostado muito do primeiro filme quando vi pela primeira vez - e confesso que sinto certo alívio por confirmar tantos anos depois que Rocky Balboa continua não só um ótimo filme, como escala posições e encontra-se como um dos melhores da franquia, para mim tão bom, importante e coerente quanto os dois primeiros filmes, disparados os mais relevantes da série (ao meu ver o filme teria entrado "fácil" na disputa do Oscar, mas política é política, não é mesmo?). Infelizmente, após conceber este grande filme e colher os louros do sucesso e do reconhecimento após pouco mais de uma década de ostracismo, Stallone acabou optando por realizar alguns projetos curiosos, mas sem tanto brilho e focados quase que puramente no entretenimento por entretenimento (Rambo IV e os dois Os Mercenários não me deixam mentir).
AVALIAÇÃO
TRAILER
Mais Informações:
Texto sobre Rocky, um Lutador (1976)
Texto sobre Rocky II - A Revanche (1979)
Texto sobre Rocky IV (1985)
Texto sobre Rocky V (1990)
Bilheteria:
Filmes de SYLVESTER STALLONE como diretor comentados:
- Rocky II - A Revanche (1979)
- Rocky III - O Desafio Supremo (1982)
- Rocky IV (1985)
- Rocky Balboa (2006)
- Os Mercenários (2010)
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