24 janeiro, 2013

O Último Desafio (The Last Stand, EUA, 2013).


"Não na sua cidade. Não durante a sua patrulha" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Que Os Mercenários que nada, a volta de Arnold Schwarzenegger ao cinema se dá mesmo com este O Último Desafio. Filme de ação recheado de elementos cômicos, esta primeira incursão do cineasta sul-coreana Kim Ji-woon - diretor de Os Invencíveis, inusitada (e ótima) versão de Três Homens em Conflito, de Sergio Leone - em terras hollywoodianas resulta numa obra bastante agitada e divertida, contando com uma performance esforçada do hoje sessentão Schwarzenegger e muitos tiros e explosões. É certo que a trama do filme é absurda, porém é desenvolvida de forma tão bem cuidada que acaba por conquistar o espectador, especialmente pela direção técnica e inventiva de Ji-woon.

Contando com um elenco multi-étnico e internacional, formado por nomes conhecidos como o espanhol Eduardo Noriega (Abra los Ojos), o brasileiro Rodrigo Santoro (Heleno), o sueco Peter Stormare (Plano de Fuga), o porto-riquenho Luis Guzmán (O Conde de Monte Cristo), além dos norte-americanos Forest Whitaker (Traídos pelo Desejo), Johnny Knoxville (Jackass) e Jaimie Alexander (Thor),  O Último Desafio carrega no bom humor, nas cenas de ação e na condução energética de Ji-woon seus maiores destaques, visto que, como frisado acima, sua trama é bem bobinha.

Contudo, apesar de previsível, há de se destacar o esmero da produção, que apesar de contar com um orçamento limitado para os título do gênero, operou milagres em sua consecução. Há um bom punhado de cenas marcantes no filme, inclusive a do sequestro do prisioneiro chefe do tráfico organizado interpretado por Noriega - sequência esta que envolve a execução de um plano que lembra bastante as pirações dos filmes de Christopher Nolan - e a da perseguição a um carro turbinado pelas rodovias de Las Vegas e do Arizona. Kim Ji-woon tem talento e técnica e capta como poucos a urgência e a adrenalina necessárias a um filme do gênero, mas sem perder a mão na composição e no enquadramento das cenas, dirigindo sequências que estão anos luz de diferença da maioria das produções genéricas regurgitadas por Hollywood anualmente. Um bom exemplo é a perseguição pelas rodovias, que não deve nada a qualquer um dos episódios da franquia Velozes e Furiosos.   

Mas e quanto ao action hero Arnold Schwarzenegger? Bem, na medida do possível o ex-governador da Califórnia continua mandando bem, ainda mais quando utiliza das limitações que a idade carrega como muleta para a adoção de soluções menos físicas e mais "destrutivas". O austríaco nunca utilizou armas de fogo como acabou por fazer neste filme. Da apresentação de seu personagem, um xerife veterano mas com larga experiência militar, as frases de efeito recitadas pelo mesmo, percebe-se que o ator imergiu de vez no humor para caracterizar seu personagem, o que não é nem de longe ruim, já que acaba encaixando perfeitamente na proposta do filme, que nunca se leva a sério. Contudo, mesmo que o condicionamento físico já não seja o mesmo, é de se aplaudir a garra com que o astro se entrega no grande clímax do filme, onde enfrenta mano a mano o alucinado personagem de Eduardo Noriega.

É certo que o filme é do Arnold, mas há espaço na trama para o desenvolvimento razoável de outras personagens, especialmente o do astro tupiniquim Rodrigo Santoro, como acaba surpreendente pela inusitada perícia como herói de ação e pelo cada vez melhor inglês. O oscarizado Forest Whitaker traz consigo sua aura de grande ator, mas não faz mais do que o beabá por aqui, inclusive transparecendo um certo  incômodo ao contracenar com Schwarzenegger no desfecho do longa. Ossos do ofício, caro Whitaker. No mais destacaria a presença de Luis Guzmán, que se não tem um grande personagem pelo menos serve como "inusitado" alívio cômico ao filme, por sinal roubando a cena do sujeito oficialmente dono do "cargo", Johnny Knoxville (que, ao contrário do que vinha sendo anunciado, não chega a prejudicar o filme).

Schwarzenegger nunca foi um grande ator, mas inegavelmente tem um excelente gosto para projetos - basta conferir sua equilibrada filmografia - e, ao "arriscar" na estilização e no exagero de O Último Desafio acrescenta mais um bom título a sua ótima carreira. É bem verdade que, numa análise fria e detalhista, o filme deveria ser classificado como mediano, pois cumpre sua missão primeira de entreter, mas não ousa além. Entretanto, o coreano Kim Ji-woon conduz o filme de forma tão inspirada e "calculada" que o mesmo sobe alguns degraus, passando da categoria de filme de ação "okay" para um surpreende filme de ação. É óbvio que não mudará a vida de ninguém, muito menos acrescenta novos paradigmas a linguagem do gênero, contudo é mais do que bem sucedido em sua proposta, além de, no meu ponto de vista, ser digno de aplausos por sua direção. E que sirva de lição aos Michael Bays, Rob Cohens e Justin Lins da vida.

AVALIAÇÃO
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