"Você não se torna um herói sendo uma pessoa normal" (Livre tradução do texto disposto no poster promocional do filme).
Unindo grande sensibilidade narrativa com uma apurada técnica de animação em stop-motion, ParaNorman é um filme em animação que beira à perfeição, especialmente por incorporar em pouco mais de noventa minutos não só uma trama que trata da importância das diferenças e da identidade de cada indivíduo, especialmente na época de sua formação, mas também referências inúmeras à obras de horror, que com certeza deixarão os entusiastas do gênero bastante felizes. Competente também em sua linguagem, o filme apresenta um raro equilíbrio que possivelmente agradará crianças e adultos (há gags que só estes compreenderão), mesmo que não seja indicado para as menorezinhas, devido a sua óbvia ambientação de horror.
Produção do estúdio Laika, o mesmo responsável pela adaptação da graphic novel de Neil Gaiman, Coraline, para o cinema, ParaNorman se destaca por apresentar um enredo criativo e bem construído, mas sem muitas firulas ou paralelismos de eventos, concentrando-se na problematização do "dom" que o garoto Norman (voz de Kodi Smit-McPhee, de A Estrada) possui, ver e conversar com os mortos. Obviamente excluído da comunidade escolar e mal-visto pelos familiares e colegas, a Norman é dada a missão de acabar com uma maldição que assola a pequena cidade de Blithe Hollow, que como quase todo evento entendido como maldito por determinado grupo de pessoas não passa de um grande engano.
É verdade que a jornada de aventura de Norman é bastante interessante, especialmente quando este passa a agir juntamente ao inusitado grupo formado pelo amigo Neil (voz de Tucker Albrizzi) e seu irmão marombado (voz de Casey Affleck, de Medo da Verdade), além de Courtney (voz de Anna Kendrick, de 50%), irmã do próprio Norman, porém o sub-texto por trás da mesma é o que mais me chamou a atenção, já que são colocados em debate pontos como pré-conceito, mitificação da história e até mesmo o tão em voga bullying, dentre outros. Lidando com todas essas temáticas de forma objetiva e inteligente, mas sem perder o pique de aventura que uma boa animação feita para o público infantil deve carregar, ParaNorman é para mim uma grata surpresa e desde já meu favorito ao Oscar de melhor animação de 2012.
O que falar sobre o visual do filme? É certo que a técnica de cunho artesanal stop-motion continua mágica como sempre e, mesmo exibida em alta-definição, não se mostra em momento algum falha. Muito pelo contrário, apesar das óbvias limitações em comparação as animações digitais em 3D, é incrível como os responsáveis pela cenografia em stop-motion conseguem transmitir emoções e sensações várias quadro a quadro, sem que haja interrupção alguma deste sentimento de satisfação pelo espectador. Ainda agora sinto a tristeza e o pesar de um dos personagens que padece de uma maldição que o tornou um morto-vivo. Sendo assim, visualmente ParaNorman não é nada menos do que impecável.
Escrito por Chris Butler, que também co-dirige o filme com Sam Fell (O Corajoso Ratinho Despereaux), ParaNorman pode não ter sido um grande sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, mas foi relativamente bem em outros países, não deixando assim a Laika na mão para continuar a produzir novos filmes, além de comprovar que ainda há espaço para produções que não sigam a tendência de realizar apenas animação 3D e, principalmente, que há cabeças pensantes e muita criatividade fora do eixo Disney Pixar /DreamWorks. Inteligente, criativo, tecnicamente impecável e bastante divertido (mesmo que não seja frenético ou aposte no mascote engraçadinho da vez), ParaNorman merece ser visto e revisto, seja por crianças ou adultos, pois é um filmaço que é o que é principalmente por ter sido realizado em stop-motion.
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