21 novembro, 2012

360 (FRA/AUS/BRA/ING/ESL, 2012).

"(...) Só se vive uma vez. Quantas chances teremos?". (trecho de reflexão oralizada por alguns personagens do filme).
Dentre todos os filmes dirigidos por Fernando Meirelles (Cidade de Deus), com certeza 360 é o mais fraco. No entanto, isto não significa que o mesmo é um filme ruim, por que não o é, todavia é o mais pretensioso e monótono da carreira do cineasta brasileiro, que parece ter realizado esta obra apenas para poder trabalhar com o premiado roteirista e dramaturgo inglês Peter Morgan (A Rainha) e com um elenco de estrelas de quase todos os cantos do mundo. Dono de uma narrativa que bebe bastante do estilo dos filmes da dupla Alejandro González Iñárritu Guillermo Arriaga, especialmente ao relacionar personagens desconhecidos e separados geograficamente a eventos em comum, 360 é sabotado pela própria ambição, visto que mesmo possuindo um elenco magnífico e abraçar uma trama com óbvio conteúdo reflexivo, acaba não funcionando por completo, justamente por que nem todas as histórias paralelas que conjugam a trama do filme mostram-se interessantes. A bem verdade algumas são tão apáticas e desinteressantes que poderiam ser descartadas sem prejuízo quase algum ao produto final.

Chega a ser triste constatar que algumas tramas do filme são tão insípidas, pois é mais do que notória a qualidade de Peter Morgan como escritor e, como o problema de 360 encontra-se na construção do roteiro, cabe  a responsabilização ao roteirista pela inconstância de bons e maus momentos que se apresentam à obra. Fernando Meirelles, apesar de não ter tido uma sensibilidade acurada para amarrar com mais força o script problemático de Morgan, dá um show de direção, estabelecendo elementos interessantes nos enquadramentos e filtros fotográficos - destaque para o bom trabalho do seu cinematógrafo, o também brasileiro Adriano Goldman (Jane Eyre) -, inclusive apresentando muitas cenas onde os reflexos das personagens no espelho tem papel fundamental na sedimentação da temática explorada pelo filme (conexão entre as pessoas, busca por completude, falhas de caráter, dúvidas, ânsias etc.), além de estabelecer com brilhantismo (mesmo que, as vezes, em excesso) os signos aeroporto e avião como praticamente protagonistas deste filme sem rosto próprio, até por que não há uma única história que possa ser apontada como principal (mesmo que existam as desnecessárias).

Apesar do elenco de 360 contar com nomes do gabarito de Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes), Rachel Weisz (A Fonte da Vida), Jude Law (Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras), Ben Foster (Contrabando), Jamel Debbouze (Angel-A), Moritz Bleibtreu (A Experiência) e Maria Flor (Proibido Proibir) entregando boas performances, o plot de alguns deles é tão sem expressão dramática que a "coisa" simplesmente não pega, tornando a experiência cinematográfica cansativa e morosa. Destes citados, acredito que os personagens de Law e Weisz sejam os menos interessantes e o de Debbouze o mais deslocado para o "sentido" da obra, "salvando-se" assim a pequena (em comparação as dos demais) mas marcante participação de Hopkins e a interessante intersecção entre as personagens de Flor e Foster, que juntamente ao clímax do filme (onde acompanhamos os personagens de Vladimir Vdovichenkov, Gabriela Marcinkova, Lucia Siposová e Mark Ivanir) sagra-se como o melhor momento de 360.

Mesmo que o grande elenco e com a direção segura de Fernando Meirelles não sobra muito em termos de interesse a 360 como obra cinematográfica. A premissa e o conteúdo reflexivo desta apresenta-se pequena diante da irregularidade na construção das tramas e a montagem do filme não ajuda neste sentido (por sinal, a cargo de outro parceiro recorrente de Meirelles, o competente Daniel Rezende), torando este um produto cinematográfico aborrecido e chato, que erra o alvo ao exigir reflexão perante o espectador, pois a bem verdade a suposta profundidade "vendida" pelo longa não se apresenta tão profunda assim.

Entretanto, apesar deste não ser o trabalho mais interessante e competente de Meirelles e Morgan - além de não mostrar nenhuma performance absolutamente arrebatadora por parte de algum membro do elenco -, 360 não é o filme ruim que a crítica especializada atestou (e que, por sinal, acabou - teoricamente - afastando o público do filme), pois mesmo que conceitualmente seja falho, traz lampejos de inventividade, em especial pela direção competente de Meirelles e pelo esforço de grande parte do elenco, que parecem realmente comprar a obra. 360 está consideravelmente longe da qualidade temático-conceitual (e de execução, por que não) dos últimos trabalhos do diretor, especialmente se comparado aos três últimos (Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel e Ensaio Sobre a Cegueira), mas apresenta alguns bons momentos, mesmo que em essência seja um filme bastante enfadonho, narrativamente e conceitualmente.

AVALIAÇÃO
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