Para mim, apesar de sua afirmação totalmente dissociada de nossa óbvia sociedade de consumo, Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra não deveria ter ganho continuação alguma, pois seria praticamente impossível reproduzir a magia e ineditismo apresentado no filme original numa possível sequência e, de certa forma, são justamente esses dois elementos que acabam faltando em Piratas do Caribe: O Baú da Morte, mais do que óbvia sequência do então inesperado sucesso de 2003. Maior sucesso da franquia, esta continuação nem tão direta assim do filme de 2003 aposta numa estrategia no mínimo arriscada, aumentar a dose do que foi destaque no anterior, o que se não perfeitamente calculado pode se consagrar como um tiro fora da culatra e é justamente o que ocorre em O Baú da Morte, visto que apesar de ser legal reencontrar as personagens do filme anterior (leia-se Jack Sparrow), as sequências desenvolvidas pelo filme são tão absurdas que a saudade passa a ser pelo outro filme em si, não mais pelas personagens.
Contando com um orçamento inchado e egos a flor da pele (especialmente da equipe criativa), juntamente a um roteiro recheado de cenas de ação grandiloquentes que fariam os personagens do desenho animado Looney Tunes ruborescer, O Baú da Morte sagra-se como um filme de extremos, infelizmente nem todos positivos. Apesar do roteiro de Ted Elliot e Terry Rossio (co-criadores da franquia) ser em essência interessante (e despertar interesse) no que se refere a trama mestre ele possui interferências demais no segmento da mesma, já que é pontualmente entrecortado por sequências (ou gags esticadas) de ação que pouco ou nada acrescentam à narrativa, sendo assim inquestionavelmente dispensáveis à trama. Cenas como as da ilha onde Jack Sparrow (Johnny Depp) encontra-se preso e clama por resgate poderia ser quase totalmente limada sem prejuízo algum ao filme.
Porém, mais do que as cenas descartáveis (não a toa o filme tem duração de 151 minutos), a grande marca negativa de O Baú da Morte se dá pelo excesso de firula de suas sequências de ação, que apelam sem dó bem piedade para o pastelão, assumindo de vez um tom cartunesco que não fora apresentado em A Maldição do Pérola Negra, que possuía sim humor em sua construção, mas este não funcionava como mola propulsora a trama, como acaba por ocorrer em Piratas do Caribe: O Baú da Morte. Conjuntamente aos exageros, soma-se a performance sem novidades de Depp, que mesmo se divertindo a beça com sua criação, acaba caindo nas armadilhas do roteiro e investe muito mais na piada do que na profundidade de seu personagem, esgotando o mesmo com piadas e caras e bocas, em detrimento do mistério e dissimulação, aspectos estes tão caros em sua composição para o primeiro filme. Sendo assim, apesar de ainda ser o grande destaque do filme (o roteiro não ajuda as personagens de Orlando Bloom e Keira Knightley), a figura de Sparrow começa a mostrar desgaste já nesta primeira sequência.
Contudo, apesar da queda de produção no âmbito criativo, Piratas do Caribe: O Báu da Morte continua excelente no quesito técnico, até por que neste sentido o orçamento maior contribuiu para que a equipe de arte pudesse detalhar ainda mais os cenários, figurinos e efeitos especiais, além de contar com a chegada do renomado compositor Hans Zimmer (Batman, o Cavaleiro das Trevas) para o comando da trilha sonora, que soa tão (ou mais) poderosa que a anterior. Dentre todos os elementos técnicos, o que mais salta aos olhos são os efeitos visuais e a maquiagem, que somados criam algumas das criaturas mais impressionantes dos últimos anos, com óbvio destaque para o corsário amaldiçoado Davy Jones (Bill Nighy, de O Vingador do Futuro), que convence como poucos, sendo até difícil distinguir o quanto é efeito de maquiagem, de computação gráfica ou realmente pertence ao ator. Apesar de perfeitamente casados, infelizmente apenas os efeitos visuais acabaram premiados pelo Oscar, para mim uma baita injustiça com o departamento de maquiagem do filme.
O Baú da Morte, apesar dos excessos, diverte e está longe de ser considerado um filme ruim, porém apenas o fato de perder o frescor e a química presentes no filme original o fazem no mínimo uma obra menor. Soma-se a isso o fato de na verdade este não ser um filme único, mas sim uma primeira parte que possui continuação direta no terceiro episódio da franquia, Piratas do Caribe: No Fim do Mundo, o que ao meu ver também destitui um pouco do que fora apresentado em A Maldição do Pérola Negra, que funcionava como uma obra de arco fechado, dotada de início, meio e fim.
Apesar de irregular e investir demais na caricatura, Piratas do Caribe: O Baú da Morte possui seus méritos e inegavelmente ajudou a franquia a conquistar novos fãs (e muitos dólares), muito devido ao carisma de Depp como o Capitão Jack Sparrow e ao ritmo incensante do filme, que praticamente alterna em uníssono os momentos de ação com os de humor pastelão. Se fosse categorizá-lo em apenas duas palavras, diria que o filme é "divertido, mas esquecível", pois por mais que eu gargalhe com as incursões atropeladas de Sparrow e cia. ou me impressione com a técnica apurada do filme, quando reflito sobre quais cenas me veem a cabeça, só me recordo das do primeiro filme. Acho que isso resume tudo, não é meso?
AVALIAÇÃO
TRAILER
Mais Informações:
Texto sobre Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003)
Texto sobre Piratas do Caribe Navegando em Águas Perigosas (2011)
Bilheteria:
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