12 novembro, 2012

Gonzaga - De Pai pra Filho (BRA, 2012).


Percebo agora, após conferir Gonzaga – De Pai pra Filho, que aprecio bastante o trabalho de Breno Silveira (À Beira doCaminho) como diretor, até por que gostei de todos os seus trabalhos até então. Geralmente com alto teor emocional, os roteiros dos filmes de Silveira me transmitem uma forte imersão catártica, causando uma identificação imediata com os dilemas apresentados e os tipos imersos às tramas, mesmo que estas não possuam uma relação direta com o meu meio social ou com minha trajetória de vida. Por isso mesmo que considero Silveira um ótimo contador de histórias, quase que como um pintor de temas simples, mas com cores suficientes para encantar a todos.

Após a estrondosa estréia comandando a cinebiografia dos cantores sertanejos Zezé Di Camargo e Luciano, no filme 2 Filhos de Francisco, Silveira retorna ao ambiente biográfico e aproveita o momento comemorativo do centenário do rei do baião Luiz Gonzaga para contar um pouco da trajetória de vida do talvez mais famoso artista do nordeste brasileiro de todos os tempos. Amparado nos conflitos circunstanciais de Gonzaga e seu filho Gonzaguinha (Julio Andrade, de Cão Sem Dono), o filme traz alguns bons elementos acerca da jornada musical do rei do baião, porém apenas como forma de ilustrar o nebuloso relacionamento entre este e seu filho, que acaba sendo o mote da obra, a busca de entendimento entre essas duas almas nobres.

Apesar de interessante e bem amarrado, o relacionamento entre pai e filho acaba por não constituir o ponto de maior interesse do filme, até por que a provável busca do espectador durante toda a projeção será a de conhecer mais detalhadamente a jornada de vida do velho Lula, passando do anonimato ao sucesso, da infância pobre ao sorriso marcante no rosto e, a grosso modo, esses momentos não são trabalhadas de forma aprofundada pelo longa. 

Gonzaga – De Pai pra Filho não preenche estas lacunas por completo, até por que "diz" - o próprio título da obra já adianta o possível engano - que não era a isso que se propunha. Todavia, a magia vista a cada presença de um dos intérpretes de Luiz Gonzaga – são vistas três fases distintas do músico, tendo como intérpretes Land Vieria (na adolescência), Chambinho do Acordeon (idade adulta) e Adélio Lima (quando idoso) – confirma que, querendo o diretor Breno Silveira ou não, a procura primeira do públcico sempre foi pela redescoberta do garoto pobre nascido em Exu e que cruzou o Brasil de norte a sul com um sorriso largo a cortar o rosto e muita energia para compartilhar e não pelo registro dos trincados relacionamentos pessoais de Gonzaga durante sua vida artística, especialmente com seu primogênito.

No entanto, apesar de não se encaixar a contento como uma cinebiografia, Gonzaga - De Pai pra Filho é um a ótima obra cinematográfica, recheada de momentos marcantes, alguns detalhes de cunho revelador e outros de pura emoção, característica esta inerente ao cineasta Silveira, que não traz rompantes de gênio neste seu novo trabalho, mas como dito acima confirma sua competência como contador de histórias. Começando a carreira como diretor de fotografia (é sua a de Eu, Tu, Eles), Breno Silveira transforma esta experiência num dos maiores trunfos do filme, visto que ao lado do fotógrafo Adrian Teijido (O Palhaço), conduz belas imagens do sertão nordestino, do Rio de Janeiro nos anos 1940 e demais localidades abraçadas pelo filme, através de planos impecáveis. 

Em suma, a equipe técnica do filme está de parabéns, pois realmente sagram-se competentes em transportar o espectador para cada um dos períodos  entrecortados pelo filme. O compositor Berna Ceppas (O Passado) utiliza bem as linhas melódicas das músicas de Luiz Gonzaga para construir a trilha incidental do longa, sagrando-se como elemento importantíssimo a caracterização emocional pretendida por Silveira, sem exageros ou manipulações indevidas, constituindo assim um dos destaques do filme.

Por fim, uma obra desse quilate não haveria como dar certo caso não contasse com um elenco bom e carismático, o que felizmente Gonzaga - De Pai pra Filho possui. Entre tantas boas performances e participações especiais de nomes consagrados (como a de João Miguel, por exemplo), não há como não destacar os três intérpretes de Luiz Gonzaga (especialmente Chambinho do Acordeon e Adélio Lima, pois estes são os que possuem mais sequências impactantes e maior tempo de tela) e o grande trabalho de composição do gaúcho Julio Andrade como Gonzaguinha, que como nas grandes cinebiografias hollywoodianas, desaparece dentro do personagem, tamanho a semelhança física entre intérprete e personagem.

Talvez feito as pressas ou com um perfil excessivamente comemorativo, no final das contas isso não importa tanto visto a qualidade do material final e a sinceridade que transparece à obra. Gonzaga - De Pai pra Filho pode não ser exatamente aquilo que gostaríamos, mas talvez se torne aquilo que precisávamos, pois num âmbito pessoal senti um efeito catártico muito forte e possivelmente muitos outros sentirão algo parecido. Tecnicamente deslumbrante e dono de uma história de fácil entendimento e apelo, certamente o filme tornar-se-á um dos maiores sucessos nacionais do ano de forma merecida, pois tem qualidade suficiente para isto e um inegável apelo junto ao público. Não se este trabalho se configura como o melhor de Breno Silveira como diretor, mas é certo que nivela-se grau a grau com seu maior sucesso. Em suma, um filme bonito e bem realizado, que homenageia com competência aos míticos Gonzagas e possivelmente verterá lágrimas, de tristeza e de alegria, do público Brasil afora.

AVALIAÇÃO
TRAILER

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