Parece que após o fiasco criativo de Carros 2 a Pixar Animation deu um passo seguro visando o retorno aos tempos como referência de qualidade com seu mais recente filme, Valente. É claro que, em comparação aos títulos compreendidos entre 1995 e 2009 (ou seja, de Toy Story a Up - Altas Aventuras), a obra não se sagra tão excelente, especialmente quanto a inspiração da trama, pois o visual - como em todos os títulos da Pixar - é assombrosamente deslumbrante. Valente tem méritos óbvios como o estabelecimento de uma heroína feminina crível e de personalidade bem definida, uma forte pegada de aventura e uma ambientação rica que nos transporta à Escócia da idade média. Porém, apesar de ter um enredo interessante e ser bem conduzido durante seus três atos, parece faltar aquele toque diferencial contido nos filmes destacados acima, pois apesar de interessante a trama do filme é bem previsível e pouco aprofundada em comparação aqueles, lembrando bastante a pegada e o estilo de obra de animação (mas da sua "rival" Dreamworks Animation), o bacana Como Treinar o Seu Dragão, de 2010.
Mesmo não apresentando novidades - este o calcanhar de Aquiles da Pixar -, Valente é um filme envolvente, divertido e com o raro dom de poder agradar não apenas crianças e adultos, mas também meninos e meninas, já que a caracterização da protagonista da obra, Merida (Kelly Macdonald, de Má Companhia), reflete o senso de aventura tão aplicado aos meninos quanto a delicadeza e inteligência geralmente conferidos as meninas. Os demais personagens da trama também possuem seus momentos de destaque, mas talvez aqueles que mais agradem a garotada sejam os três pequenos irmãos de Merida, que funcionam como o alívio cômico do filme.
O elenco original de vozes do filme beira a perfeição, visto que é composto por atores e atrizes de ascendência escocesa, o que garante maior autenticidade ao universo abordado e, por que não, imersão no mesmo. Grandes nomes como Emma Thompson (Razão e Sensibilidade), Billy Connoly (O Último Samurai), Julie Walters (Billy Elliot), Kevin McKidd (Dog Soldiers - Cães de Caça) e Robbie Coltrane (franquia Harry Potter) emprestam suas vozes as personagens do longa, porém é válido destacar que de tão autênticos chegam a incomodar as vezes, especialmente Kelly Macdonald, que possui um sotaque extremamente acentuado. Brincadeiras a parte, a composição do elenco de dublagem está excepcional, casando perfeitamente com a qualidade técnica da animação.
Apesar da trama encantadora, o grande destaque do filme encontra-se no visual. Creio que nunca a natureza foi mostrada de forma tão bela e convincente numa obra de animação 3D. Florestas, rios e mares, além dos detalhes de vestuário e cabelos/pelos dos personagens, tudo se mostra convincente e deslumbrante, comprovando todo o investimento técnico e financeiro empregado na obra (ao contrário, no meu ponto de vista, do que ocorreu com John Carter, por exemplo). Não há como não ficar fascinado diante dos cachos desgrenhados e hipnóticos de Merida ou dos belíssimos planos abertos da floresta que esconde as Stonehenges. Acompanhando o deslumbre visual, temos os temas compostos pelo também escocês Patrick Doyle (Thor), que faz estremecer (no bom sentido) até mesmo a seminal trilha sonora de Coração Valente, de James Horner.
Talvez pelo desgaste do processo criativo - foram necessários dois diretores (Brenda Chapman e Mark Andrews) e quatro roteiristas (Steve Purcell, Irene Mecchi, além de Chapman e Andrews) para "azeitar" a trama do filme - ou por necessidade de trabalhar uma trama mais "tradicional" para os padrões Pixar, Valente não obteve um destaque tão grandioso quanto os filmes antecessores da produtora (inclusive faturou um pouco menos que o fraco Carros 2), mas se sagra como mais um bom trabalho da Disney/Pixar e certamente galgará uma merecida indicação ao Oscar de filme estrangeiro, tendo chances reais de sair vencedora. Em suma, Valente não é surpreendente ou impecável, muito menos inovador, mas é bem conduzido e realizado, além de mostrar-se um entretenimento competente, merecendo ser visto e revisto.
AVALIAÇÃO
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