17 março, 2012

Biutiful (ESP/MEX, 2010).


Primeiro trabalho de Alejandro González Iñárritu (Amores Brutos) sem o parceiro habitual, Guillermo Arriaga (Vidas Que se Cruzam), Biutiful é um filme tenso e pessimista, que abraça o tema morte de forma a incomodar o espectador, nem tanto pelo seu lado simbólico, mas sim pela triste constatação de sua inevitabilidade e de que não há forma de evitá-la. Primeiro filme do cineasta a não conter núcleos narrativos distintos e concentrar-se num só ambiente, neste caso a Espanha, Biutiful, como toda a filmografia do cineasta, também apresenta uma visão pessimista dos nossos dias, visto que praticamente ignora os cartões postais do país, dedicando-se exclusivamente a mostrar grandes concentrações urbanas periféricas, sujas, ignoradas e pobres.

Contando com mais uma arrebatadora performance de Javier Bardem - premiada em Cannes - e com um clima e ambientação de morbidez que incomoda de tão denso, Biutiful certamente não é um filme tão impactante, definido e bem-acabado quanto os três outros filmes de Iñárritu (21 Gramas, Babel, além do já citado Amores Brutos), mas honra a filmografia do cineasta, ratifica sua visão particular do mundo e do homem, além de demonstrar mais uma vez o talento do espanhol Bardem (já vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante por seu trabalho em Onde os Fracos Não Tem Vez) em dar vida a personagens marcantes.

ATUALIZAÇÃO (29/7/2012).

Revendo o filme, é incrível constatar que novas camadas vão sendo percebidas e até mesmo um novo ponto de vista, visto que, apesar de manter o argumento de que o filme é um desabafo acerca do pessimismo e da culpa, Inárritu conclui este seu filme mais pessoal de maneira serena e positiva, fechando um arco de morte com uma sensação de alívio e engrandecimento coerentes com a trama apresentada até então. A jornada de Uxbal (Javier Bardem) é completada e o espectador tende a se sentir aliviado ao final desta, como se tivesse viajado junto ao personagem - muito graças à composição magistral de Bardem.

Outro aspecto é o simbolismo místico-religioso de  Biutiful , que perpassa a crença comum do dia-a-dia e ganha uma aura metafísica, englobando o desejo de ajudar ao outro com a transcendência individual num mesmo conjunto, tudo isso através da figura de ligação - que não à toa funciona como um ímã entre o universo dos vivos e o dos mortos -, o personagem Uxbal. Enfim, apesar da pegada recheada de pessimismo e o tom sujo, Biutiful é um filme sobre a busca por perdão, por tranquilidade, por transcender. Continua não sendo meu filme predileto do cineasta, mas ganha um pouco mais de força - pelo menos para mim - após esta segunda visita.


AVALIAÇÃO
TRAILER

 Mais informações:

Biutiful

Bilheteria: Box Office Mojo

IMDb - Internet Movie Database:

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